• Posted by : Testarossa quarta-feira, 8 de agosto de 2018


    (Caso não saiba o que é o quadro Hanashi, dê uma olhada no primeiro post: aqui.)

    Quando a pressão dos números me calava
    Apesar de achar a língua portuguesa desnecessariamente complicada e cansativa com todos os tempos verbais e tudo mais, essa sempre foi uma matéria que eu me saia bem. Eu lembro que quando bem jovem, havia achado fantástico quando a professora começou a ensinar pela primeira vez sobre as figuras de linguagem e claro, também realmente gostava de ler e escrever (Quando era coisas do meu interesse). Talvez por isso, eu desenvolvi uma boa capacidade interpretativa da qual durante boa parte da vida eu sequer tinha consciência sobre.
    Eu comecei a perceber que eu tinha uma boa capacidade interpretativa justamente com animes, mangás e novels. Eu não tinha dificuldade em entender as obras, embora durante um bom tempo eu assistia animes com uma mentalidade que fazia eu evitar olhar com mais profundidades para eles. Mas quando eu passei dessa fase, eu notei o quão longe eu conseguia enxergar as obras, e isso me fez começar a ler as opiniões dos outros principalmente em sites como o MyAnimeList. Começar a me importar com os outros nessa fase de transição e novidade foi um grande erro.

    Números podem ser assustadores, não acha? Eles te manipulam, te oprimem, te iludem ou mesmo te transformam. Isso tudo acontece debaixo do nosso nariz e muitas vezes não percebemos. Vocês sabem o que é ter sua credibilidade questionada porque não assistiram/leram uma obra muito popular? Afinal... "milhares e milhares de pessoas estão assistindo/lendo, mas você não? Por que? É um hater? Hipster? Que frescura, se tantas pessoas gostam é porque é bom."
    Eu já ouvi muitas vezes isso até mesmo de amigos, ou então alguém me achar estranho ou errado por não me importar mais se X pessoas gostam ou assistiram/leram uma obra.
    Um simples número é capaz de invalidar seu espaço como individuo. Ou pior, pode te manipular a desacreditar em si mesmo. Imagine uma sala com 10 pessoas, você sendo uma delas, e em uma determinada situação os 10 precisam opinar sobre um determinado assunto, você é o último. Imagine que precisam escolher entre X ou Y, na sua mente o ideal seria o Y, porém, as outras 9 pessoas escolhem X, o que você faz? Talvez 9 pessoas não seja algo tão complicado de se lidar, mas e se fossem 90? 900? Basicamente quanto maior o número, maior o peso de ter uma opinião contrária e expressá-la.

    Conectando as duas partes desse texto, imagine estar diante de uma obra com um final interpretativo, você consegue tirar uma interpretação que faça bastante sentido no que foi mostrado na obra. No entanto, ao ir atrás da opinião dos outros, se depara com uma multidão de comentários negativos. Ninguém quer lutar uma guerra sozinho, seria suicídio. Quando me deparei com essa situação pela primeira vez, eu preferi me calar, guardar aquela opinião para mim. Mas cada vez que isso acontecia, minha frustração crescia. Eu pensava "isso não está certo", pensava "não falar nada só piora a situação". O mundo não funciona diante de um único ponto de vista, o medo de agir pela repreensão dos números não pode ser maior que o medo dos números ganharem relevância.
    Nós como indivíduos temos uma grande vantagem sobre os números que não costumamos aproveitar, que é a complexidade de podermos gerar as mais diversas ideias. Os "números" estão sempre representando uma ideia fixa e imutável, você não tem que se sentir oprimido por causa dos números.
    "Você não é todo mundo" é uma frase que, ironicamente, todo mundo já ouviu, e ela é realmente válida para todo mundo. Cada um é cada um, não é porque um maior número de pessoas está indo para uma direção que faz dessa a direção correta.
    Eu não quero ser mais um número, eu prezo minha individualidade e eu recomendo muito que façam o mesmo. Não importa se você tem uma opinião impopular, você deve expressá-la. Ignore o que os números tentam impor, foque nas pessoas que ainda retém suas individualidades, apenas dessa forma você poderá encontrar um ponto de vista que possa te dizer se você está certo ou errado, caso seja uma questão que possa ser enquadrada em um desses dois.

    No fim, as obras que eu fui omisso na hora de expor o que pensava sobre elas provaram que eu estava de fato, correto nas minhas interpretações, mas no fim das contas de nada serviu, pois eu não me expressei quando deveria. Os números me fizeram desacreditar em mim mesmo, eu acreditei que se a maioria pensava de um jeito diferente, talvez o errado fosse eu.
    Confie mais em si mesmo, se arrisque, se você estiver errado alguém eventualmente irá te corrigir dando motivos válidos para justificar que você, de fato, está errado, e aí você terá que admitir o erro, dessa forma aprendendo e evoluindo. Enquanto tivermos nossa individualidade, acertaremos e erraremos, evoluiremos e aprenderemos. Números não podem alcançar essa complexidade. O caminho de enfrentar um grande número é árduo sem dúvidas, uma grande dor de cabeça, mas estamos acima disso. É uma luta para tirar a relevância dos números da mente das pessoas, mostrar que não é porque uma obra tem nota X que ela é boa, mostrar que não é porque uma pessoa com X inscritos no YouTube disse que é certo, mostrar que não é porque X pessoas estão acompanhando algo que você também é obrigado a acompanhar.
    Eu não tenho mais tanto medo de dar uma opinião que eu sei que será apedrejada pelos números, se é algo que eu acho certo, ou ao menos algo que eu ache que valha a pena ser debatido, eu provavelmente falarei. Sim, "mais tanto medo" e "provavelmente". Esse é um receio que ainda existe dentro de mim apesar de tudo, e imagino que exista dentro de todos nós dependendo do tema ou ocasião. Mas falando das mídias de entretenimento, eu certamente não terei mais medo de ter uma opinião por muitas pessoas pensarem diferente e se você tem esse medo, relaxe e opine sim, pois números não contra-argumentam, apenas tentam te obrigar a pensar igual, eles são muitos, mas são inofensivos. Saraba Da!

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