• Posted by : Testarossa quarta-feira, 21 de novembro de 2018


    Nome Original: JK Haru wa Isekai de Shoufu ni Natta / JKハルは異世界で娼婦になった
    Nome em Inglês: JK Haru is a Sex Worker in Another World
    Autora: Kou Hiratori
    Status: Finalizado (Volume Único)
    Tradução: Inglês (Lançado oficialmente pela J-Novel Club)
    Link para comprar o eBook: Amazon

    Aviso: Antes de mais nada, essa novel não é recomendada para menores de 18 anos, nem para pessoas de coração fraco. Há algumas cenas bem pesadas que podem te impactar bastante caso seja uma pessoa sensível.

    JK Haru foi uma experiência a princípio estranha, mas que depois se mostrou não só uma obra bem inteligente, como também muito ousada e autêntica. Pelo título você já consegue identificar que o livro se trata de um isekai, e em uma época onde o que não falta são pessoas para apedrejar o subgênero inteiro baseado em um conhecimento extremamente superficial de umas meia dúzia de adaptações em anime recentes, JK Haru aparece como uma obra que não é só majoritariamente única entre as obras do subgênero em si, mas provavelmente em todas as obras que um fã de anime comum já tenha consumido. A novel não necessariamente tenta quebrar paradigmas, mas sim quebrar tabus, e como tal definitivamente não é uma obra para qualquer um.
    Tudo obviamente começa com a sua premissa, tendo a protagonista, Haru, trabalhando como uma prostituta. Só esse primeiro passo já pode ser demais para muita gente, que provavelmente descartaria a leitura do livro de imediato, o que é uma pena, já que a premissa nada mais é que uma ideia, o que realmente acaba fazendo a diferença é como essa ideia é executada.
    E a execução da ideia em JK Haru é muito boa. Antes de mais nada, a obra é um isekai pois busca ser uma sátira a uma parte específica do subgênero, ao mesmo tempo que aborda temas como a liberdade da mulher e a misoginia. Ok, aqui entramos em um assunto delicado, então vamos por partes primeiro.

    A história basicamente começa com a protagonista, Haru, e um colega de classe dela, Chiba, ambos morrendo atropelados por um caminhão. Os dois são revividos em um mundo de fantasia por um "Deus", o rapaz, que recebeu habilidades superpoderosas, começa a viver como um aventureiro, já Haru, acaba tendo que se tornar uma prostituta para conseguir o seu ganha-pão. Haru não tinha muito para onde ir, pois a sociedade daquele mundo não permitia uma mulher se cadastrar como uma aventureira sozinha (Para conseguir, tinha que ser como acompanhante de um homem), para eles chegava a ser rude o fato de uma mulher sair sozinha na rua. Claramente não era um bom mundo para uma adolescente do mundo moderno cair.
    Com o básico da história explicado, é hora de falar um pouco mais a fundo sobre o que ela quer dizer e do seu conteúdo no geral.

    JK Haru não é uma obra muito fácil de digerir, principalmente pelo fato de seguirmos o ponto de vista de uma prostituta. Se não percebeu ainda, a novel descreve cenas de sexo explícito muitas vezes, além do linguajar ser igualmente explícito. As cenas de sexo e linguajar erótico possuem uma função narrativa importante, e talvez a única coisa no livro que realmente me impactou de verdade vem justamente da reflexão que essa função narrativa trás, mas depois toco nesse assunto.
    Um pontos interessante é que a existência do Chiba é uma representação do papel padrão de um protagonista homem de um isekai de aventura/ação (Exceto o fato que nessas obras normalmente o protagonista é uma pessoa ao menos decente), e em momento nenhum vemos o mundo pelo ponto de vista dele, é praticamente o tempo todo do ponto de vista da Haru, e a obra consegue fazer o mundo se tornar altamente desinteressante e limitado, pois a personagem não tem o direito de ver o mundo como um lugar divertido de se estar como é para o Chiba. Além de uma sátira a esse tipo de obra isekai, ainda toca nas restrições a liberdade que a própria sociedade impõe as pessoas de um gênero, o que é bem estúpido.

    A Haru ser uma personagem com bastante defeitos ajuda na abordagem tanto dos temas quanto das sátiras, a princípio ela não é lá a pessoa mais agradável de se lidar, fazendo constantes pré-julgamentos, sarcástica e com muitos comentários ácidos. Ao longo do livro ela tem um desenvolvimento bem legal e que também trás uma mensagem bacana que serve para todos nós, principalmente nos dias de hoje com o extremismo sempre muito presente. Falta empatia para todos os lados, e uma personagem se tornar mais empática ao mesmo tempo que aprende a mudar um pouco a forma que ela vê as coisas é um crescimento bem interessante de se ver. Às vezes temos problemas maiores que nós mesmos, conseguir lidar com isso sem descontar nos outros é um feito difícil, mas necessário para melhorar mesmo que um fragmento do mundo.
    JK Haru é muito isso, mostrando uma realidade absurda, que mesmo em menor escala ainda existe no nosso mundo, e como a Haru vive sua vida tendo que lidar com esse tipo de injustiça e buscando ser feliz com a vida que tem.

    Voltando as cenas de sexo, que são bem numerosas como eu disse, essa foi uma sacada muito arriscada, porém inteligente, da autora. Apesar de servir bem para mostrar que tipo de vida a Haru vive e os absurdos que ela tem que passar pela mentalidade da sociedade daquele mundo, um ponto chave que ficou subentendido e eu achei genial foi confrontar uma mentalidade que é muito presente mundialmente. Em um certo ponto do livro, a obra sutilmente faz a comparação entre violência e sexo, o peso que os dois tem. Nesse momento eu repensei no que eu tinha lido até então, e pensei sobre o grande público em si. É inegável que JK Haru seria mal visto por muita gente pelas cenas de sexo explícito, pois mesmo em 2018 muita gente trata o sexo como um bicho de sete cabeças. A novel trás essa realidade à tona e mostra a incoerência das pessoas, pois novamente em comparação com um isekai mais "padrão", as pessoas não veriam absolutamente nenhum problema em uma obra mais violenta, com sangue e mortes, muitos achariam isso até um grande ponto positivo e essas mesmas pessoas achariam "desnecessário", "ruim", "imoral" ou mesmo "incrível" a presença de cenas de sexo no seu entretenimento, quando não era para ser nada disso. Sexo consensual é algo absolutamente normal. Violência e mortes por outro lado é algo ruim. Mas as pessoas tem essa inversão de valores e acham um absurdo qualquer coisa com o menor teor erótico que seja, e já cogitam censurar, enquanto não dão a mínima para brutalidades. A obra inteligentemente reverte essa visão, tratando sexo como algo normal, e violência como algo ruim. Todas aquelas cenas de sexo servem para reforçar essa crítica, e mostrar que se por um lado você ficou incomodado em ter várias cenas de sexo, por outro é bem provável que se essas cenas fossem substituídas por cenas de ação mais violentas você ia achar a coisa mais normal do mundo.

    Por ser parcialmente episódica, a novel acaba tendo alguns capítulos mais fracos e alguns capítulos que agregam pouco ao desenvolvimento da história e da protagonista (Embora ainda funcione bem para a narrativa). Porém, os melhores capítulos entregam muito bem, com direito até a momentos bem dramáticos e momentos bem sombrios. Sendo volume único abordando alguns temas complexos e tendo de fato uma história por trás, os personagens acabam se destacando muito pouco. A protagonista, Haru, é uma boa personagem, nada de incrível, mas muito bem trabalhada e desenvolvida. No entanto, o resto do elenco acaba sendo bem esquecível, decentes na melhor das hipóteses. A obra acaba tendo um final inconclusivo, o que pode incomodar alguns, mas considerando a proposta e as ideias da mesma, diria que ela fez o que tinha que fazer apesar disso.
    A novel tem dois grandes plot twists na reta final, um deles bem previsível, o outro já é bem mais surpreendente. Um desses twists pode soar meio tirado do nada, e isso porque a escrita é bem sútil e inteligente como já dito anteriormente, pois se parar para reler do começo, perceberá que tem diversas pistas ao longo do livro que indicavam a vinda desse twist no final. Foreshadowings costumam me agradar bastante, ainda mais bem feitos como é o caso aqui, por isso caso leia e ache que foi "tirado do nada", entenda que você apenas não notou os foreshadowings que se misturam na escrita de maneira muito natural.
    Ah, a fim de curiosidade, a novel não possui ilustração alguma fora a capa em si.

    JK Haru trás algumas críticas e reflexões bem importantes e interessantes, é um livro que sabe pautar um tema delicado sem tentar empurrar ideologias goela abaixo. Fazendo uma sátira com um tipo específico de isekais, a obra também mostra o quão longe o conceito de isekai pode chegar, que você não deve jamais generalizar o subgênero se baseando em poucos títulos que te desagradaram, ao mesmo tempo em que critica a maneira com que muitos autores trabalham as personagens femininas em obras do tipo, normalmente servindo apenas para enaltecer o protagonista, sem a liberdade para ser uma personagem independente.
    No meio das importantes mensagens e temas para se pensar sobre, a obra ainda arruma espaço para criar uma história interessante com plot twists e momentos dramáticos, além de uma boa protagonista. Só o fato dela ser uma prostituta sem dúvidas vai espantar muita gente, mas espero que, caso seja uma delas e esteja lendo esse texto, eu tenha conseguido ao menos criar o interesse na leitura desse livro, pois apesar de não ser nenhuma obra-prima ou obra super inovadora, vale muito a pena ler. Saraba Da!

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