• Posted by : Testarossa terça-feira, 20 de novembro de 2018


    Nome: 86
    Autor: Asato Asato
    Ilustrador: Shirabi
    Status: Em publicação
    Tradução: Inglês (Licenciado Pela Yen Press)

    Dia 5 de Abril de 2017, foi a data da última review de light novel que eu postei aqui. Como um auto-proclamado fã da mídia, certamente não tenho feito muito para ilustrar essa imagem. A review em questão foi a do primeiro volume de Gakusen Toshi Asterisk (Ou Asterisk War, como foi oficialmente traduzido), e até hoje curiosamente esse é o terceiro post com mais visualizações do blog. Mas finalmente é hora de voltar.
    Este post não conterá grandes spoilers sobre a obra, porém será discutido alguns aspectos que revelam algumas facetas da obra, então se quiser acompanhar a obra sem nenhum spoiler, recomendo parar de ler o post por aqui. Caso contrário, pode ler mesmo sem conhecê-la, aliás, deve!


    Sinopse de 86: 
    ”República de San Magnolia.
    Por muito tempo esse país foi atacado por seu vizinho, o Império, que desenvolveu uma série de veículos militares chamados de Legion, que não possui tripulantes. Em resposta à ameaça iminente, a República consegue desenvolver uma tecnologia semelhante e assim devolve o ataque inimigo, sem fatalidades. Mas essa é apenas a versão oficial. Na verdade houve sim vítimas. Além dos 85 distritos conhecidos da República, existe um outro. O “não existente distrito 86”. Ele estava lá durante os dias de ataque sem fim, e jovens, homens e mulheres do distrito 86 participam das batalhas.
    Shinn comanda as ações do esquadrão dos oitenta e seis enquanto estão no campo de batalha. E Lena comanda as coisas do lado de fora das batalhas, com a ajuda de comunicação especial.
    A história de despedida, cheia de lutas e tristezas desses dois começa!”

    A LN de 86 é bastante controversa. Acho importante começar o texto com essa frase. Incontáveis obras abordam incontáveis temas de níveis diferentes de relevância em diversas áreas diferentes. Mas abordar o racismo nos dias de hoje é bastante delicado, principalmente quando muitas pessoas querem ver apenas o que elas querem ver, e não o que realmente está sendo mostrado. 86 obviamente ainda é uma novel japonesa e trata seu tema principal (Ao menos do volume 1, que foi o que eu li) de uma maneira bem indireta, porém bastante intuitiva e até certo ponto interpretativa.

    Referências e mensagens que estão implícitas ao longo do livro são fáceis de perceber. Nós temos um país de pessoas com cabelos brancos, e as pessoas de cabelos de outras coras que são usadas como "unidades descartáveis" na guerra que está acontecendo na história. Essas pessoas não são consideradas pessoas por aquele país, e suas mortes não são contadas como fatalidades, na história eles são uma "raça inferior". Já as pessoas de cabelo branco daquele país, que finge que está tudo em paz enquanto o caos se instaura, se consideram como uma "supremacia branca".
    Nessa breve explicação já é possível se tirar muito do que a obra trata, e o motivo dela ser tão controversa.
    A obra fala de racismo constantemente, e no núcleo da história temos dois protagonistas. Lena, uma comandante da República, e Shinn, um dos soldados "descartáveis" por ter um cabelo de outra cor. Lena é uma personagem com forte senso de justiça e valores morais, que acha um absurdo a maneira que aquelas pessoas são tratadas e consideradas no país dela. Shinn e seu esquadrão, por outro lado, cumprem as ordens e não querem ter nenhum contato com as "pessoas de cabelo branco".

    Os paralelos são bem óbvios na história, muito no entanto, não existe apenas uma maneira de se ver as escolhas do autor para a maneira que ele escolheu abordar um tema tão delicado quanto o racismo.
    Uma das coisas mais incríveis, na minha opinião e na minha interpretação, é usar a diferença de cor de cabelo como uma "diferença racial" na história, e que é o motivo do racismo existente daquele país. Isso porque os paralelos com a vida real existem, e quando se é colocado dessa forma na novel, a ideia fica muito mais clara do que o normal. Tem um país que se acha uma raça superior pois eles tem cabelos de uma cor, enquanto os inferiores tem cabelos de outras cores. Parando para pensar um pouco, é uma ideia bem estúpida e sem sentido, certo? E é exatamente isso que a obra quer que você pense, pois o mesmo vale para a vida real. Racismo é estupidez. Seja a cor do cabelo ou a cor da pele, era para ser um motivo bem idiota para querer se achar superior de alguma forma, mas infelizmente a realidade é que tem pessoas idiotas o bastante para pensar assim. E é isso que a novel mostra, a República é um país estúpido, enquanto a guerra e a destruição vai se aproximando do país, eles continuam fingindo que nada está acontecendo e se recusam a fazer algo por achar que isso é o trabalho da "raça inferior".

    Ao longo do primeiro livro o tema racismo está sempre presente. Apesar de ainda ser uma obra de guerra com mechas, o tema em questão é até mais frequente do que a ação em si. A relação da Lena com o Shinn e o seu esquadrão foi uma surpresa agradável, apesar deles só se comunicarem a distância. Tem um momento muito inteligente na novel que aborda um racismo subconsciente da Lena, derivado da sua criação naquele país preconceituoso, e é um momento muito funcional que mostra que mesmo quando você tem boas intenções, ainda pode estar errando com a outra pessoa sem perceber, mas que também é um problema mais comum quando você e a outra pessoa não são realmente tão próximas.

    Dado a forma que o primeiro volume se encerrou, que foi em partes realmente bem fechado e quase como um bom encerramento, acredito que a pauta do racismo não vá estar presente nos próximos volumes. Talvez eu esteja enganado, e gostaria, pois apesar de ter uma história interessante e uns mistérios que realmente te deixam curioso, fora vários personagens bem caracterizados, a maneira como tratou o tema foi realmente muito boa.
    Embora a combinação em si, do drama em relação as questões raciais na história, com a tensão da guerra, o objetivo do Shinn e os conflitos da Lena, todos juntos tenham rendido um volume muito bom no geral, com algumas cenas bem bonitas e emocionantes.

    O mundo da novel é algo a se considerar, tem coisas muito interessantes na parte tecnológica e aparentemente também possui certo aspecto sobrenatural, as coisas se encaixam muito bem mesmo com as lacunas deixadas pelos mistérios ainda a serem explorados. As batalhas são muito bem descritas e o teor trágico da obra trás uma tensão a mais nos momentos mais intensos.
    Apesar do primeiro volume ter cerca de 350 páginas apenas, o autor foi talentoso o bastante para trabalhar bem quase tudo, sem desperdiçar muito texto com coisas menos relevantes. Ao terminá-lo a sensação que dá é a de ter terminado de assistir uma temporada de anime, por exemplo.

    No fim, nessa "breve" análise eu não tenho muito o que reclamar, o que eu poderia dizer são aspectos que não seria justo eu cobrar tendo lido apenas um único volume, ainda mais um tão rico em conteúdo como esse. A ideia original era comentar um pouco sobre como o racismo é abordado na obra, mas no fim das contas resolvi transformar isso numa review e fazer um post um pouco mais significativo, uma recomendação. Acho bem improvável que a adaptação em mangá e a possível adaptação em anime consigam transmitir as mensagens e trabalhar a obra com a mesma eficiência que a novel, por diversos motivos, mas o principal pelo autor realmente ter escrito o volume muito bem. Acredito que mesmo que no fim das contas a questão do racismo não seja mais abordada, ou fique menos frequente, ainda foi algo que não serviu apenas para passar uma mensagem importante para os leitores, mas também teve um propósito muito relevante não só na história, mas no conflito da Lena, que resultou em um bom desenvolvimento e a tornou uma personagem bem interessante no fim do livro. 86 é uma novel que definitivamente vale a pena não só pelo tema (Do volume 1?), mas por todo o conteúdo do volume em si. Saraba Da!

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