• Posted by : Testarossa sábado, 17 de novembro de 2018


    Vocês estavam ansiosamente no aguardo por essa review sobre o anime como um todo, certo?
    Wakarimasu~

    Revue Starlight foi um anime muito incomum lançado em 2018, se tratando de temáticas poderia ser colocado entre um dos mais incomuns do ano. No entanto, devido a uma mentalidade absurdamente incoerente das pessoas acharem que teatro musical e idols são a mesma coisa (Ou melhor, por ter garotas e música, ser um anime de idols), a obra acabou não ficando tão popular quanto merecia. Até hoje lendo em algumas reviews em sites "super apropriados" como o MyAnimeList, você ainda pode achar pessoas falando coisas como "Esse é um anime de idol diferente do padrão".
    Essa review já começa declarando o seguinte: Ir assistir Starlight com a mentalidade de que vai assistir um anime de idol imediatamente mata a ideia principal do anime e você provavelmente não vai conseguir extrair muita coisa dele, resultando em um possível desgosto com a obra.

    Teatro musical é a pauta principal do anime, o tema do qual quase toda subjetividade e simbolismos almejam atingir. Não necessariamente o único tema abordado, mas sem dúvidas o principal.
    Revue Starlight é um anime repleto de simbolismos, e muito mais ele diz por trás da camada superficial do que ele diz na própria camada superficial. É inevitável que você tenha que usar bastante interpretação e atenção para entender bem o que o anime está querendo te dizer.
    A maior crítica do anime é sobre o sistema teatral japonês, principalmente se referindo diretamente ao Takarazuka Revue, mas que também funciona para vários sistemas teatrais pelo mundo. Justamente por isso olhar para o anime como um anime de idols mata o próprio propósito da obra, já que a industria de idols tem problemas absolutamente diferentes do teatro em si.

    Apesar de deixar a desejar em alguns episódios, o anime é muito bem produzido e bem dirigido, com diversas cenas de ação bem coreografadas e intensas.
    E sendo um anime sobre teatro musical, obviamente a trilha sonora também faz forte presença, com inúmeras insert songs que são em sua maioria muito boas e que investem bastante nas cenas chaves a nível emocional tanto para as personagens, quanto para o telespectador, o que já é algo muito relevante para o que o anime quer fazer.
    O anime se sai muito bem em abordar um tema interessante, mesmo o principal deles sendo um universo desconhecido para a grande maioria das pessoas que assistirem o anime, ele também se sai muito bem na animação e trilha sonora, e no geral esses três elementos juntos sem dúvidas podem ser o bastante para te entregar uma ótima experiência audiovisual e reflexiva. No entanto, quando se trata de personagens, resoluções e execução em algumas partes, o anime tropeça algumas vezes, principalmente por ter um número limitado de episódios, o que deixa muitas coisas um pouco corridas já que eles se dão ao trabalho de explorar bem quase todas as personagens.

    A ideia principal do anime é boa, porém, as duas protagonistas que empurram essa ideia para frente, Karen e Hikari, me saíram como personagens altamente desinteressantes. Elas ainda cumprem suas funções no roteiro muito bem, na maior parte do tempo, mas o aproveitamento da história inevitavelmente é afetado quando falta carisma para o(s) personagem principal(is). Isso por si só até seria algo que eu conseguiria relevar até certo ponto, porém, a sensação de que a ideia por trás das duas personagens prejudicou a execução da ideia principal do anime ficou martelando na minha cabeça durante toda a segunda metade do mesmo. As resoluções dos conflitos dessas personagens soaram forçadas em alguns momentos (Alguns exemplos mais à frente), e em certos momentos eu cheguei a me perguntar aonde o anime queria chegar com os rumos que tomava.
    Foram de fato problemas prejudiciais para meu aproveitamento da obra, mas longe de serem grandes o bastante para tornarem o anime ruim ou fraco. Na verdade, é um anime realmente muito bom e que sem dúvidas, conhecendo a mim mesmo, estaria entre os 5, talvez 10, melhores do ano caso eu tivesse assistido animes o bastante para fazer tops desse tipo. Infelizmente desse ano eu só assisti meia dúzia de animes, sendo um deles Hugtto! Precure, que faz bem melhor em termos de temas abordados, na minha opinião.
    Por isso, Revue Starlight sem dúvidas é um anime que eu recomendo muito dar uma chance, tem sim boas personagens, tem boa animação, boa trilha sonora, boa direção, um anime diferenciado que trás temas interessantes e coloca certas reflexões em jogo, é o tipo de anime que precisa ser feito mais vezes. E depois que assistir os 3 primeiros episódios, pode dar uma olhada nas minhas reviews deles aqui (Episódio 1) e aqui (Episódio 2 e 3).

    Dito isso, caso não tenha assistido ao anime ainda, a review acaba aqui. A partir desse ponto começarei a entrar em mais detalhes da história/personagens, então vai ter muitos spoilers, para não estragar sua experiência recomendo não ler nada a partir daqui.




    ~~~~~~~~~~~~~~~~Spoilers~~~~~~~~~~~~~~~~




    Tendo parado no episódio 3, logo após a grande derrota da Karen para a Maya, eu voltei para o anime com a ótima impressão que os 3 primeiros episódios haviam deixado, porém, havia um grande problema. O anime era óbvio demais sobre os rumos que iria tomar, o que por si só não é um problema, boa parte das obras dá para prever o final enquanto você ainda está no começo, só seria realmente um problema se a obra não quisesse ser previsível, o que não me pareceu ser o caso de Revue Starlight. O problema é que em cada episódio que se passava eu não via o anime conseguindo evitar tropeçar em si mesmo. Era óbvio que a Karen iria ter o seu desejo realizado até o fim do anime, tal como era óbvio que a Nana tinha muito mais por trás do que aparentava, como eu disse no final da minha review dos episódios 2 e 3 (Embora prever que teria "viagem no tempo" seria bem improvável, muito embora todas as pistas estivessem lá nos primeiros episódios, simplesmente por não associarmos viagem no tempo com anime de teatro musical). O problema é que as coisas começaram a se resolver em favor das protagonistas muito facilmente.

    A princípio eu havia ficado bem incomodado com a Nana perder para a Karen, mas era justificável. Tendo ela basicamente parado no tempo, parado de praticar e começado a trabalhar no script enquanto todas as outras praticavam arduamente, fazia sentido ela ter "enferrujado", e fazia sentido a Karen ser bastante talentosa, o anime nos diz isso indiretamente ao revelar que a Futaba passou em última colocada para entrar na escola, claro que a Karen ainda pode ter ficado em uma posição baixa, mas vale lembrar que no início da série ela não tinha nem a motivação para se tornar uma "top star" (Fora que para ser aprovado para aquela escola naturalmente você precisa ser bastante talentoso). Então existe uma boa justificativa dentro da narrativa que mostra aquele resultado ser possível em termos de talento, esforço e motivação. Ao longo do anime esses três aspectos se mostraram os aspectos que definiam os resultados das audições, o que faz todo sentido, estamos falando de teatro afinal. Então mesmo os duelos sendo apenas uma representação visual, havia um padrão lógico que se baseava no físico e psicológico das atrizes. Por exemplo, a Kaoruko mesmo não tendo o esforço, ainda tinha o talento e a motivação para "duelar" com a Futaba, que mesmo sem o talento, ainda tinha o esforço e a motivação para "duelar" com a Kaoruko. A Nana tinha talento de sobra, mas não tinha mais o esforço e questionavelmente nem a motivação, por isso perdeu duas vezes seguidas. Achei a resolução do drama dela muito corrida e fácil, mas em partes compreensível não só pela limitação de episódios, mas também pela motivação abalada dela que já vinha sendo trabalhada antes do twist do episódio 7.

    Mas aí que entra o grande problema, a luta contra a Maya e a Claudine. Diferente da Nana, a Maya que já era para ser a mais talentosa, também era uma das mais esforçadas e mais motivadas. Em termos técnicos de qualidade, ela não deveria perder para ninguém, mas como eu disse antes, o anime não tenta ser imprevisível realmente, então você já sabe como a luta vai terminar antes de começar. A Maya e a Claudine juntas são a perfeita representação do sistema teatral do Takarazuka Revue, e a Maya em particular de qualquer sistema teatral, então evidentemente dentro do que o anime quer dizer, a Karen e a Hikari, que são contra o sistema, precisariam vencer. Existe uma explicação muito implícita para essa vitória literalmente impossível, mas seria ela o suficiente para você relevar um problema desses? Para mim nem tanto.
    Acontece que a Karen e a Hikari são as representações da "pequena estrela" e da "grande estrela" na história de Starlight, onde uma representa uma pequena felicidade enquanto a outra representa um grande sucesso, e quando as duas se unem, um milagre pode ser realizado (Ou algo desse tipo). No "grand finale" do duelo, as duas "se tornam uma só" e assim conseguem vencer. Mas mesmo assim, ainda ficou um gosto amargo de que poderiam ter executado melhor essa luta, que também foi a mais fraca em termos de cenário.
    De bom veio a cena de desabafo da Claudine, que acabou sendo uma personagem que ficou em segundo plano. No entanto, é um defeito proposital, se ler um pouco sobre como funciona os papéis no Takarazuka Revue vai entender. A Claudine foi feita para ser uma personagem que fica em segundo plano, enquanto a Maya foi feita para fazer o papel principal, e as duas se completam assim. Por isso, mesmo a personagem ficando sem ser trabalhada melhor, isso ressoou positivamente comigo por ter sido uma ideia bem executada ao longo do anime.

    A reta final foi a parte mais fraca (Ou melhor dizendo, menos boa) do anime para mim. Todo o conflito final entre a Karen e a Hikari não foi lá muito interessante, o total desespero da Karen me soou forçado (Principalmente pelo time-skip), mas também existe uma justificativa dada no episódio 12 sobre o que uma representa para a outra, o duelo final foi bem bacana, no entanto. Isso é claro, tirando uma cena específica que achei simplesmente genial. Exato, é exatamente essa cena que está pensando. A girafa se revelar como sendo nós, os telespectadores, o público, foi sensacional. Tudo bem que metalinguagem é algo que eu costumo curtir bastante, mas foi realmente muito bem aplicado aqui. A reflexão que a cena em si trouxe foi super interessante também. O anime continua pois nós estamos lá para assistir, é aquilo que queremos ver, e nosso papel como público é assistir e decidir se gosta ou não.
    Toda obra é construída de uma certa forma, de acordo com a visão da staff, ou mesmo do autor, ainda que nesses casos tenha o dedo de outras pessoas por trás. Essas pessoas estão criando uma obra e oferecendo para nós, o público, essa é a função deles. A nossa função, como público, é apenas gostar ou desgostar, assistir. O que não é o que acontece hoje em dia, hoje em dia todo mundo (E com "todo mundo" eu me incluo também) quer dizer o que a obra tem ou não tem que ser, o que tem que mudar, que é isso e que é aquilo, mesmo sem ter quase nenhum conhecimento dos procedimentos não só da criação da obra, como também da mentalidade e das emoções por trás da concepção da mesma. Fora falar sobre nossa busca incessante pelo "imprevisível" (Coloco entre aspas, pois abre margem para diferentes interpretações). É algo que tem muito pano pra manga para explorar.

    Como é possível notar, exceto meu problema com as protagonistas e ser um pouco corrido, todos os outros problemas que citei são justificáveis, mesmo em partes. Então embora pareça que eu esteja fazendo muitas reclamações, se você quiser ser leniente com o anime, tem bons motivos para tal. O roteiro é muito bem trabalhado para que não seja falho em muitos dos momentos problemáticos.
    Em relação a abordagem ao sistema teatral me pareceu que o anime no fim não foi para lugar algum com aquilo, mas a nível pessoal ao menos a Karen e a Hikari conseguiram cumprir a promessa delas.
    Finalizando, Shoujo☆Kageki Revue Starlight é um anime único no que escolhe abordar, e bem exótico em como executa suas ideias, com várias boas personagens e uma produção notavelmente caprichada, que o faz ser uma experiência relativamente memorável. Alguns tropeços incomodaram, mas olhando como um todo definitivamente termina com um saldo super positivo. Infelizmente eu perdi a chance das análises semanais, muito podia ser dito sobre muitas coisas ao longo do anime que não cabem estender tanto uma review do anime inteiro, mas podemos dizer que já era esperado de mim. O importante é que como muito requisitado, aqui está minha visão sobre a obra. Embora eu provavelmente tenha esquecido de citar um bocado de coisas, já que fui escrevendo essa review aos poucos. Wakarim---digo, Saraba Da!

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