• Posted by : Testarossa terça-feira, 7 de agosto de 2018


    Chegou um momento em que, vendo comentários sobre algum anime, mangá, novel, jogo, filme ou qualquer outra mídia de entretenimento, eu acabava me perguntando: "Como e quando a mentalidade das pessoas desceu a esse nível?"

    O entretenimento, mais especificadamente os que mencionei acima, sempre foi feito com um interesse amplo, visando atingir o máximo de pessoas possível dentro desse interesse específico. Por exemplo, shounens costumam seguir certas ideias que apetecem ao seu público e isso obviamente não é nenhum problema, só seria um problema se fosse mal feito. Outros gêneros, subgêneros ou mesmo ideias e certos elementos no geral estão sobre buscando atingir o máximo de pessoas possíveis dentro de um grupo específico. Eu colocaria o entretenimento, nesse caso, como algo "geral".
    Mas existe também uma outra forma de se fazer o entretenimento, que é buscar dar vida a certas ambições e crenças. As obras que vão por esse caminho normalmente não se importam muito com padrões ou clichês, só querem dar vida a uma obra da forma mais pura possível, o que gera muitas obras diferenciadas e/ou experimentais. Esses dois grupos conseguem coexistir e se misturar, e isso acontece porque ambos tem um objetivo em comum.
    Por isso é importante estar olhando para a obra para então considerá-la da melhor maneira possível.

    Tudo o que eu disse até então é basicamente um ponto de vista básico que de alguma forma está se tornando cada vez mais raro nos dias de hoje. Existem muitos que adotam a narrativa do "antigamente era bom, hoje só tem coisa ruim", o que é um absurdo pois seja no passado, no presente ou no futuro, sempre terão coisas boas e coisas ruins. Mas é possível ver uma possível fonte dessa e outras mentalidades similares.
    Apesar de acreditar que isso seja algo que esteja dentro de todos nós, a internet talvez tenha sido uma grande influência nesse problema, principalmente se considerar as bolhas em que as pessoas escolhem se prender, alimentando essa sensação de auto-importância que por não ser contrariada acaba crescendo como uma bola de neve, o que leva a criação do egocentrismo, que por sua vez distorce o próprio entretenimento e o ponto de vista básico citado um pouco acima nesse texto.

    Histórias, ideias, conceitos, mensagens, não importa o que o criador de uma obra possa ter em mente quando decide criá-la. O egocentrismo impede que qualquer coisa seja realmente relevante, e o motivo é bem simples. Há pouco, eu citei que: "Por isso é importante estar olhando para a obra para então considerá-la da melhor maneira possível." e essa citação foi proposital para facilitar o entendimento da situação. A pessoa egocêntrica jamais olha para a obra, ela sempre olha fixamente para o seu próprio umbigo. O mundo gira ao seu redor, logo, a ideia de um entretenimento feito para um certo público ou de uma certa forma específica não é algo bom para uma pessoa assim. O entretenimento deveria ser feito especificadamente para ela, certo? Criarem uma obra pensando em um único individuo, no que ele acredita ser o ideal, e o que ele acredita ser o ideal é um fato, o único caminho correto. As obras são definidas, então, entre aquelas que conseguem entreter esse individuo (Consideradas boas) e as que não conseguem (Consideradas ruins).
    ---Mas isso é problemático! Afinal, agradar um único individuo totalmente é muito complicado e mesmo o número de coisas produzidas por ano sendo muito grande, ainda falham. Oh, quanta incompetência. Logo, os tipos de obras mais desagradáveis para esse único individuo específico precisam deixar de existir, é claro. Somente as obras que seguem o grande ideal de uma pessoa devem seguir sendo produzidas, ah a utopia, o mundo perfeito.
    O rei se senta em sua cadeira, começa a assistir/ler/jogar uma obra e espera a mesma fazer todas as suas vontades. Caso contrário, tirania neles! É um plano simplesmente genial. Estar preso dentro da sua bolha, só se alimentando dos seus próprios ideais, mas inevitavelmente você irá querer algo ou alguém que está fora da sua bolha, o que fazer nesse caso? Simples. Expanda a bolha até tudo ser consumido pelo o que você acredita ser o único caminho certo, derrube o que tentar estourar essa bolha. Só há espaço para um nesse mundo. Você.

    Meio insano, não?
    Mesmo a arte se tornou um campo de guerra político, sustentado pelo ego alheio. O desejo de limitar o entretenimento ao que te apetece, passando por cima dos gostos, opiniões e crenças de outras pessoas, passando por cima das próprias obras.
    Porém, essa é uma visão extremamente limitada. De fato, são obras de entretenimento, mas isso é apenas a ponta do iceberg. Toda obra quer ser algo a mais do que apenas uma "obra de entretenimento", ela não deve ser limitada ao ponto de vista de um único sujeito. Um jogo ser criticado por tentar ser muito mais profundo que apenas um gameplay divertido, um anime ser criticado por adotar uma narrativa mais complexa e subjetiva ao invés de ser simplório, um mangá ser criticado por fazer um final interpretativo ao invés de explicar tudo à dedo, uma novel ser criticada por não ter uma narrativa linear fácil de entender. E claro, poderia ser muito bem o oposto de tudo que disse antes, uma obra ser criticada pela simplicidade. Isso tudo é fruto de uma mentalidade que diz que uma boa obra é aquela que segue os seus ideais do que é uma boa obra, automaticamente assumindo que a possibilidade desse ideal estar errado não existe.
    O que define uma obra boa ou ruim vai muito além do que ela é, ela ser algo que te desagrada só significa que... Ela não é do seu agrado. Quando uma obra força a pessoa para fora da sua bolha, a reação imediata é uma forte rejeição e desprezo, por isso acredito que será difícil mudar pessoas assim. No entanto, ainda posso tentar alertar quem está do lado de fora para que não caiam no mesmo erro.

    Você deve se entreter com essas mídias de entretenimento e não elas te entreterem. Percebe a diferença?
    Tem que ser menos sobre você, e mais sobre o que está ao seu redor, caso contrário você não será capaz nem de se divertir sentado em um computador em um quarto fechado, quem dirá conviver em sociedade, afinal, quem anda sempre olhando para baixo há de trombar em alguém ou alguma coisa em algum momento, certo?
    Eu aprendi a coexistir com coisas que realmente desgosto, não tenho problemas com quem gosta ou com obras que desgosto fazendo sucesso, se eu consigo, você sem duvidas consegue também. O direito de se divertir não é privado, da mesma forma que você quer algo que te agrade, outras pessoas também querem algo que agradem elas. Se incomodar porque estão produzindo conteúdo do agrado de pessoas que não são você é lamentável. Que tal abrir um pouco a mente para tentar criar um ambiente mais agradável para todo mundo? Parece mais interessante e mais fácil do que uma utopia onde seus ideais são absolutos, não?
    Em todo caso, eu precisava expor esse problema que vejo em todo canto atualmente, mesmo em uma comunidade de nicho como essa. Então espero que ao menos sirva para fazer as pessoas olharem menos para si mesma e um pouco mais para a obra diante dela. Pois quem sabe aquele anime "confuso" não esteja tentando trazer uma boa reflexão com respostas ocultas? Ou então quem sabe aquele jogo cheio de cutscenes esteja tentando contar uma história incrível e marcante? De repente aquele mangá simples esteja tentando passar uma mensagem importante para você? Talvez, e só talvez, deixar esses ideais de "certo e errado"/"bom e ruim" de lado e analisar cada obra da maneira que ela tem que ser analisada possa ser uma opção muito melhor para todos nós, você incluso. Afinal, o número de obras que podem ser analisadas sobre um mesmo ponto de vista e/ou ideal fixo é extremamente limitado, só não é mais limitado que as pessoas que tem essa mentalidade. Saraba Da!

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