• Posted by : Testarossa quinta-feira, 17 de janeiro de 2019


    Todo mundo que tenha explorado o suficiente outras mídias provavelmente já viu alguma obra que assistiu/leu/jogou recebendo uma adaptação ruim. Quando se trata de adaptações em animes, é inevitável que toda temporada tenha uma grande leva de adaptações ruins, o mesmo vale para adaptações em mangás. Porém, não são todas as obras que acabam sendo mal adaptadas, muitas conseguem surpreender positivamente. Existe, no entanto, uma certa divergência de opiniões quando a pauta é "O que faz uma adaptação ser uma boa adaptação?". Fãs do original costumam querer cada centímetro da obra presente na adaptação, mesmo se 99% da obra for adaptada, ainda podem reclamar do 1% que cortaram. Fazer alterações é impensável, para os fãs seria como um soco na cara. Obviamente, não preciso nem dizer que essa mentalidade é extremamente exagerada e sem sentido.
    Por outro lado, pessoas que normalmente nem sequer leram a obra original vivem fazendo comentários egoístas, como querer que façam final original e fechado, querer que façam uma adaptação corrida que enfia uma quantidade absurda de conteúdo em pouco material, entre outras coisas. Essa também é uma mentalidade bastante desagradável, principalmente por vir de pessoas que seriam as primeiras a jogar pedras em uma adaptação ruim de uma obra que gostam.
    Então, afinal, o que faz uma adaptação ser boa? Até onde cortar e alterar a obra original é aceitável? É isso que iremos discutir no post de hoje.

    Curiosamente é bem comum envolverem a obra original em uma discussão sobre a adaptação, sendo que em muitos casos uma das partes, ou ambas as partes, às vezes nem sequer leram o original para estarem falando. De fato, muito do que vou falar aqui hoje acaba vindo de argumentos comuns vindos de pessoas que questionam como uma adaptação deve ser sem ter lido a mesma.
    Querer falar qualquer coisa que seja sobre o original sem ter lido o mesmo é errado, não importa as circunstâncias, pois estará falando sobre algo que não leu. Ter ciência disso já ajudaria a evitar muitas discussões sem embasamento algum. Não existe Modus Operandi quando se trata de adaptações. Cada obra precisa ser analisada isoladamente para chegar a um consenso de como seria a adaptação ideal e é justamente por isso que sai tanta adaptação ruim hoje em dia, pois estão usando um Modus Operandi, ou melhor, estão meio que no automático. Fazem animes ou mangás que servem como propaganda para a obra original e sempre tentam colocar a mesma quantidade de conteúdo na mesma quantidade de episódios/capítulos. Por isso que normalmente as obras que costumam chamar atenção são as que saem desse padrão.

    Existem muitas pessoas que são fãs da obra original, mas que ficam cegas pela mesma. Pessoas que nunca vão estar satisfeitas com a adaptação porque... Bem, porque elas querem a obra original. Uma cópia perfeita, algo que é impossível para início de conversa, já que é outra mídia completamente diferente. Inclusive há muitas pessoas que simplesmente não querem que sua obra favorita seja adaptada por puro egoismo (Isso não inclui pessoas que sabem que são altas, para não dizer certas, as chances da obra original ser mal adaptada, aí já é outra discussão que talvez eu aborde um dia).
    Quanto mais mídias você explora, mais você tem que saber lidar com o fato de que muita gente não tem o tempo/paciência/interesse/facilidade/etc para investir em uma mídia diferente da qual a pessoa está acostumada. Mas isso não é muito relevante para a discussão de hoje. O ponto é: Temos duas vertentes nesse cenário, que são os fãs (Ou simplesmente pessoas que gostam do original) da obra e as pessoas que assistem/leem as adaptações. É importante entender que você obrigatoriamente estará em um desses dois lados.
    Nesse post de discussão eu não vou só levantar minha tese sobre o que faz uma adaptação ser boa (E aí você pode deixar a sua também), mas vou martelar um pouco sobre os maiores problemas desses dois lados antes mencionados para que vocês possam evitá-los.

    O fã da obra original
    O lado do "fã da obra original" é o que eu mais me encontro presente, muitas vezes me pego descobrindo uma obra interessante através de comentários sobre a adaptação, mas opto por ir atrás do original ao invés disso.
    Os maiores problemas dos fãs do original é que nada nunca é bom o bastante para fazer jus a sua obra favorita. O nível astronômico de exigência para a adaptação faz com que essas pessoas se tornem muito chatas com tudo e com todos. A coisa principal que vocês, como fãs do original, precisam entender é que são mídias diferentes, logo inevitavelmente a forma de apresentar a obra precisa ser outra. Certos elementos só são funcionais em certas mídias, uma obra dependente demais de aspectos visuais seria muito prejudicada em uma adaptação para livro, por exemplo. A exagerada expressão "O original é sempre melhor" existe porque, de fato, a maioria das adaptações não é tão boa quanto o original. Porém, não ser tão boa quanto e ser ruim são coisas absolutamente diferentes. Uma adaptação pode ser ótima sem necessariamente ser do mesmo nível do original.
    Cortes e alterações no roteiro são coisas que deixam praticamente qualquer fã do original furioso. No entanto, isso não é algo inerentemente ruim. Às vezes mudanças ou cortes são bastante beneficiais para a adaptação. Isso é algo que precisa ser analisado da maneira mais neutra possível, mas creio que se as mudanças/cortes alcançarem o mesmo resultado ou algo até melhor, aí sim terá sido uma boa escolha.

    Conhecer o original não te faz superior a quem só assiste/lê a adaptação, a não ser que a pessoa esteja claramente falando bobagens, não tem porque você tentar desmerecer a opinião da pessoa só porque o original supostamente é melhor. Se a outra pessoa estiver apenas dando seu ponto de vista sobre o que ela viu da adaptação, não tem porque achar "ofensivo" de alguma forma para o original, o que nos leva ao próximo ponto.
    Original e adaptação são essencialmente duas obras diferentes. Comparações são válidas, sim, porém ainda tem que se ter em mente que são duas obras diferentes. É onde o paradoxo do navio de Teseu entra em prática.
    Eu sempre tento separar original de adaptação o máximo possível, mas uma vez que você conheça o original, é impossível sua visão sobre a adaptação não ser tendenciosa, principalmente quando a adaptação está fazendo tudo errado. É justo, mas também é necessário ter a mente aberta para caso a adaptação esteja boa mesmo sendo bem diferente.
    Um verdadeiro fã do original saberia onde estão os problemas da obra e o que poderia ser alterado/cortado. Não use seu gosto pela obra como pretexto para fingir que ela é perfeita e lembre-se que independente da adaptação, o original continuará intacto. No máximo vai ganhar umas pedras no sapato com pessoas falando sobre o que não sabem por causa da adaptação, mas aí é inevitável.

    Quem assiste/lê a adaptação
    Eu em todo momento usei o verbo ler junto do assistir sempre que falei das adaptações. O motivo disso é que existem dois problemas frequentes com gente que só assiste/lê adaptações que precisa acabar. Um deles é a preguiça de buscar informação. Pessoas que leem mangás que são adaptações de novels achando que o original é o mangá é um exemplo óbvio. Pessoas que se recusam a entender que a adaptação em mangá normalmente não é relevante, você ter lido a adaptação em mangá não significa que você sabe como o original é, e uma adaptação em anime vai seguir o original que você não conhece nada sobre.
    Não conhecer nada sobre é o segundo problema frequente. Pessoas que viram/leram a adaptação, falem da adaptação à vontade, estarão no seu direito, mas não envolvam o original no meio se não o leram. Vocês não sabem nada da obra original para estar querendo opinar sobre ela, se atenham a falar apenas sobre o que sabem.Imagina uma pessoa assistir Bohemian Rhapsody sem saber nada sobre Freddie Mercury e passar a querer opinar sobre a vida do mesmo baseado no filme? E esse é um exemplo simples, o que não faltam são casos extremos por aí.

    Ótimos animes sairão de ótimas obras que são bem adaptadas (Ou boas obras que são bem melhoradas na adaptação), então parem com isso de querer final original ou que enfiem uma quantidade enorme de conteúdo em poucos episódios, é contra-produtivo e nenhum pouco inteligente.
    Não, se você não leu o original, você não sabe como ficaria melhor adaptado. Ponto. Algo que vejo bastante, até de amigos meus, é gente que nunca leu uma novel na vida falando que tem que adaptar X volumes por temporada.
    Não é porque você detestou a adaptação que é impossível achar o original bom, entenda. Comigo já teve obra que de 8.5 de nota para o original, caiu para 4 na adaptação, infelizmente acontece.
    Nem todo fã do original tem os problemas citados mais acima, aprenda a saber separar quem é quem. Muitos fãs do original não gostam da adaptação que você gosta por motivos bastante válidos.

    A minha tese
    Chegamos então a parte mais importante: "O que faz uma adaptação uma boa adaptação?"
    É difícil, para não dizer impossível, chegar a uma resposta concreta. Eu pensei e penso bastante sobre isso, meu veredito final é que não existe um meio fixo para fazer uma boa adaptação, tudo depende da obra original.
    O melhor que consegui pensar é que a única coisa que jamais pode se perder é o que faz a obra ser o que ela é. Tem obras que se sustentam em uma ideia, se essa ideia se perder mesmo que o resto seja fiel não vai ser uma boa adaptação. Tem obras que se sustentam nos personagens, se eles ficarem mal feitos, mesmo que o resto seja fiel ainda vai ser uma adaptação ruim. Por outro lado, mesmo uma adaptação muito alterada pode representar bem o original se manter o que faz a obra o que ela é. É o que acredito.
    Temos muitos exemplos em mãos. Violet Evergarden, por exemplo, foi uma adaptação que se perdeu quando o diretor mostrou que não sabia exatamente o que fazia a novel ser uma obra premiada. A base da novel de Violet era a ideia por trás, seguido da jornada da protagonista. O anime colocou a jornada da protagonista como o principal, lado a lado com um melodrama que não existe no original, enquanto deixava a ideia de lado.
    Outro exemplo seria Mahouka, o diretor do anime parece não ter entendido o personagem principal, e errou completamente na construção do mesmo em relação ao original. Tal erro prejudicou muitas coisas no anime e em uma possível continuação. Então mesmo seguindo a história direitinho, embora meio corrido em algumas partes, o anime acabou não sendo uma boa adaptação.

    O problema é que a maioria não sabe o que está fazendo quando vai adaptar uma obra. Fazer mudanças bem maiores em uma adaptação esperando o próximo Devilman Crybaby é loucura, é necessário uma sensibilidade maior com a obra e ter um bom conhecimento da mesma. O que normalmente parece é que eles nem sequer leem o original antes de fazer a adaptação.
    Como fãs o ideal é dar uma chance para a adaptação ser o que ela quer ser, enquanto respeitar o que o original representa pode vir a sair algo muito bom mesmo que mudem coisas no roteiro.
    Resumindo, ser igual ao original ou ser bem diferente do original não são fatores que definem uma boa adaptação. Uma boa adaptação pode ser qualquer um dos dois. Seguir o original passo a passo não é algo ruim, se for o que o original pede, então ser assim é só o esperado. Mudar a obra na adaptação não é algo ruim, se for algo que o original permite, então é possível fazer algo bom com isso.

    E vocês, o que pensam ser a melhor forma de adaptar uma obra? Nada como começar o ano (..."começar" o ano já depois da metade de Janeiro) com um tema meio chato de falar sobre. Compartilhem seus pontos de vista. Saraba Da!

    OBS: Não sejam esses tipos de pessoas que descrevi mais acima, dá sempre para se corrigir e melhorar, para melhorar a convivência da comunidade e diminuir a toxicidade.

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