• Posted by : Testarossa domingo, 31 de outubro de 2021


     Feliz Halloween! E se tem uma personagem que casa bem com o Halloween, essa personagem é a Dead Master, alter ego da Yomi. Então vamos falar sobre todo o processo para o real nascimento dessa alter ego.

    Esse episódio pode parecer mais uma peça da trama como um todo, mas ele é especial por um motivo narrativo específico: O episódio inteiro (Sendo justo, parte do episódio anterior também) serviu como uma grande demonstração de como um alter ego diferenciado pode se formar. A quebra da Yomi não acontece do nada, mas sim gradualmente e com forte pressão de absolutamente todos os lados. Um forte simbolismo mostrado ao longo do episódio inteiro foi o das gotas d'água caindo das torneiras, que eu li como uma representação desse lento desenvolvimento que vai desgastando todo mundo (Menos a Saya, óbvio) até chegar ao ponto do colapso. Mas admito que dessa vez eu estou incerto se essa seria a leitura ideal dessa linguagem visual em específico.

    Instantes antes da desgraça começar a acontecer.

    Os olhos são as janelas da alma, o anime vem dizendo isso desde o primeiro episódio.

    Desde o episódio anterior, a Yomi vem se sentindo excluída, perdida e com inveja. Saindo lesada da relação que tinha com a Kagari, ela sente dificuldades em se adaptar. Aquela velha história do passarinho que viveu em uma gaiola e, quando finalmente livre, acaba não sabendo viver direito na natureza. Ela preferiu seguir a vida sofrendo calada, como têm feito desde sempre. Mas a situação se deteriorou quando a Kagari recomeça sua vida social. Fiquei contente em ver que a Kagari não teve uma mudança completa de personalidade após o arco dela acabar e continua, ao menos, uma boca-suja. Como as pessoas pareceram recebê-la bem, ela não teve muita dificuldade em se enturmar, o que acabou sendo mais um golpe na autoestima da Yomi. Afinal, até a outra principal parte do seu antigo relacionamento tóxico está conseguindo seguir em frente e ela não. Ainda que a Yomi não saiba, isso infelizmente é só o esperado, a vítima sempre vai ter mais dificuldade em superar tudo o que sofreu em comparação a quem esteve mais prejudicando do que o contrário. Mostrar as consequências que um antigo relacionamento tóxico pode causar foi algo a se apreciar do anime.



    O grande dilema da Yomi era que ela nunca tinha aquele algo que mantinha um vínculo de amizade ativa seja com a Mato, seja com a Kagari. A Mato se aproximou dela por uma coincidência e, eventualmente, acabaram se envolvendo mais à fundo devido a todo o drama do primeiro arco, mas tirando o livro do passarinho e suas muitas cores, as duas não tem muito em comum. Uma é atleta, a outra é artista, o que faz com que a Mato passe mais tempo com suas colegas de clube, a Yuu, em especial, enquanto a Yomi fica pintando sozinha. O vínculo com a Kagari era tóxico por natureza e, uma vez que isso acabou, não tinha muito mais porque as duas ficarem tão próximas. A Yomi via "ficar cuidando da Kagari" como o vínculo que uniria as duas, mas isso também acaba sendo resquícios do péssimo relacionamento que as duas tinham antes, algo que a Kagari não queria mais para ela.
     


    Sentindo que ela estava sendo deixada para trás, a Yomi ficou cada vez mais emocionalmente vulnerável, e aí que entra a genialidade maligna da Saya. A Saya pouco participou do episódio dessa vez, mas para alguém que já estava na beira do precipício, bastava um simples empurrão. A Saya deu mais de um. A questão é: Para alguém mal intencionado que está predando uma pessoa muito mais jovem e emocionalmente instável, o uso do jogo de palavras acaba sendo uma tática cruel, porém, eficaz. Nessas situações mais extremas, nossa mente separa o que não queremos ouvir e o que queremos ouvir, o que nos deixa vulneráveis a manipulação de terceiros. O regador da Black Gold Saw nesse episódio foi dizer que ninguém precisava da Yomi, para depois justificar que ela quis dizer em um bom sentido. O segundo empurrão ficou implícito, não sei se será algo que o anime revelará diretamente nos próximos episódios, mas quando a Yuu chega na sala da Saya e a Yomi sai por se sentir desconfortável na presença dela, nós já pulamos para a próxima cena. A Yuu tem a ideia de entrar em contato com a Yomi na intenção de ajudar, o que provavelmente foi uma ideia dada pela Saya, ao perceber a relação das duas alunas. Após suas engenhosas ações, a Saya só aguarda a bomba explodir. 



    Com a situação lentamente saindo do controle, há de se observar todo o processo da Kagari ao longo do episódio. É óbvio, ela finalmente retorna a uma vida cotidiana comum, mas logo é tirada dela pelo passado complicado que ela teve com a Yomi. Ela sente que precisa fazer algo pela Yomi para compensar e as duas conseguirem seguir seus próprios caminhos. Conforme a situação piora, fica evidente o desgaste que isso tudo também está causando na própria Kagari, até porque ela parece se preocupar, de fato, com a Yomi. A cena em que ela pede ajuda para a Mato é muito bonita por uma série de motivos: Seja o visual etéreo de um fim de tarde com um tom de cor vivo e caloroso, o chegar da noite indicando que o início da escuridão está próximo. Seja o plano fotográfico da Mato com o sol por trás dela, indicando a "última fonte de luz". O grande foco nos olhos brilhosos da Kagari, indicando o desenvolvimento de empatia dela. Ou então a sinceridade das suas palavras, ao explicitar que não sabe como fazer uma boa ação em prol de outra pessoa. Toda a composição dessa cena ajuda a demonstrar indiretamente o desgaste da Kagari, que após mais conflitos já aparece com olhos sem brilho, olheiras, em uma cena com um tom de cor mais seco e frio.



    No fim das contas, as táticas da Saya acabam sendo super eficazes, enquanto as boas intenções das garotas acabam piorando a situação de alguma forma. É uma ironia um tanto quanto cruel o fato disso acontecer porque as garotas ainda não entenderam realmente o que aflige tanto a Yomi, enquanto a Saya não só entendeu, como controlou a situação para se desenvolver da forma que lhe agradava. A Yomi se sentia deslocada dos outros e isso foi magnificamente simbolizado por meras canecas. Eu havia notado a caneca do passarinho azul (Lembrando, pode simbolizar tristeza e distância) no episódio anterior, mas jamais imaginei que fosse ter todo um simbolismo bem direto por trás dessa caneca. No momento em que a Saya abre um armário repleto de canecas, onde todas tem desenhos pretos, com exceção a caneca do passarinho azul, eu saquei a ideia por trás da imagem. Por isso a Saya sempre dava essa mesma caneca para a Yomi. No final do episódio, quando a Saya abre novamente seu armário, já notamos que já não há mais a caneca da Yomi.



    Chega a ser meio sufocante assistir a Yomi ser lentamente levada ao colapso. A Mato vem tendo menos tempo para ficar com a Yomi, o que faz ela ficar de mãos atadas e não notar a gravidade da situação. A Kagari acaba dando o empurrão final, por não ter o tato de lidar com outras pessoas e também já estar desgastada. A mãe da Yomi é completamente omissa e irresponsável. E a personalidade da Yomi faz ela ir guardando tudo isso pra si, até por ela sentir que não tem alguém para desabafar, o que, junto dos ataques da Saya, faz ela virar uma bomba relógio. Os takes das canecas acima podem não só mostrar que a Yomi se sentia deslocada na escola (Os outros alunos seriam as outras canecas, todas diferentes, mas dentro de um padrão), mas também simbolizar que ela sentiu seu lugar naquela escola sumir, até por isso ela parou de ir. Durante a cena do seu colapso, víamos que na outra realidade a Black Rock Shooter já estava indo ao resgate, enquanto também vimos a satisfação da Saya ao "concluir" seu plano, ao levar a Yomi para o desespero. Cena muito bem simbolizada pela Saya bebendo, o que poderia significar esse desespero, na caneca que ela sempre dava para a Yomi.



    Ter passado essa análise inteira praticamente sem citar a outra realidade é interessante, pois, na verdade, tudo que eu citei serve como um reflexo da outra realidade. O anime nos mostra, pela primeira vez, todo o processo para o "nascimento" de uma alter ego ativa. Pudemos ver a nova dimensão, da Dead Master, acompanhada pelas correntes de sempre. A Dead Master já existia antes, mas estava mais para os alter egos que a Black Gold Saw criava com seu regador do que realmente algo como a própria Black Gold Saw ou a Black Rock Shooter. Toda a imagem da Dead Master dentro de uma torre feita de correntes que mais parecia um ovo serve como uma ótima metáfora do que acontecia na vida real. Não só isso, a "verdidão" da dimensão reflete bem as emoções da Yomi, a Black Gold Saw mergulhando naquele mar verde reflete bem as emoções da Saya e o fato da Black Rock Shooter simplesmente já existir na dimensão reflete bem a relação da Yomi com a Mato. 

     

    A Black Rock Shooter não ter conseguido se aproximar da Yomi e ter sido atingida no processo já é um reflexo do que vimos durante o episódio, agora resta o inevitável conflito direto entre as duas. Fico bem ansioso para ver o desenrolar desse drama, pois é o primeiro no anime que nós acompanhamos desde o seu início até o seu ápice e, posteriormente, a sua conclusão. Houve o caso da veterana do basquete e sua confissão mal sucedida, mas foi um caso passageiro demais para considerar como um drama, de fato. A resolução desse caso foi um tanto confusa, inclusive, com a Kohata esquecendo completamente do rapaz para quem ela se confessou antes. Mas visto que ainda não vi a resolução do anime como um todo, vou guardar esse caso para refletir no final do anime. Ah, vale elogiar aqui uma cena perto do fim, onde a Yomi, após um pequeno surto, se ajoelha do lado da cama e encosta a cabeça nela. A direção deixou essa cena estática, por longos 30 segundos, enquanto tocava uma trilha sinistra. Eu realmente senti uma leve agonia ao ver a personagem fisicamente representar seu estado psicológico já esgotado, pelo quão atmosférico a cena foi. Foi uma sacada muito inteligente tornar essa cena tão extensa assim, toda a equipe do anime faz um trabalho incrível que sempre busca atingir o lado emocional de quem está assistindo, pode não funcionar sempre, afinal, cada um tem experiências de vida diferentes e isso influencia na forma que recebemos a obra, mas é extremamente competente, sem dúvidas. A ascensão da Dead Master acaba sendo uma cena bem épica muito por conta disso, de toda essa construção, de você saber o acumulo do desespero que está gerando essa alter ego. O anime realmente vem me impressionando bastante, ainda estou na metade e parece que foi uma maratona inteira já. Bom, que venha mais boas surpresas pela frente. Saraba Da!

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