- Home>
- análise , anime , black rock shooter , mahou shoujo , review >
- Black★Rock Shooter #06 - Arrependimentos
Posted by : Testarossa
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
Ainda que entre todo o aspecto da realidade alternativa e do surrealismo, a Mato sentiu diretamente o que é sujar suas mãos de sangue e não se enxerga sendo capaz de "voar" novamente. Isso é, tal como o passarinho do livro, ela se tingiu na escuridão e começou sua queda. É com essa abertura que começamos essa mini-saga de impedir a nova Black Rock Shooter de, teoricamente, destruir a outra realidade. A Black Gold Saw surge imediatamente para confrontar a Black Rock Shooter e é notável o fato da consciência conectada da Mato a permitir sentir toda a dor dos ferimentos que a sua alter ego sofre. As próprias alter egos não parecem sentir nada, mas é significativo mostrar o choque imensurável de dor que a Mato sente quando a Black Rock Shooter arranca seu próprio braço. De certa forma, é como se a dinâmica entre a pessoa e a alter ego tivesse se invertido e a Mato agora estivesse sentindo a dor da alter ego. Isso pode ser um fator relevante nos próximos dois episódios, visto que essa quantidade de sofrimento provavelmente vai afetar a Mato de alguma forma.
Há uma mudança de postura na Black Rock Shooter que agora faz ela parecer mais uma força da natureza a ser parada do que só uma figura humanoide, a própria linguagem corporal da Black Gold Saw indica isso, uma vez que ela abandonou sua aura de superioridade e começou a parecer mais aflita e apressada. A decisão da Yuu de enviar a consciência da Mato para a outra realidade acabou criando uma oponente muito poderosa e de quebra corre o risco de perder a Mato de vez. Tudo por ela ter apostado demais na Mato, que certamente demonstrou força de vontade e determinação tanto em salvar a Yomi quanto em lembrar da Yuu, mas, no fim das contas, ainda é uma adolescente. Ou, na linguagem do anime, um passarinho que ainda estava mais para o branco do que qualquer coisa. O ato de tirar uma vida diretamente é algo muito pesado para se carregar, embora a dor de todo o dano que a Black Rock Shooter sofre pode acabar servindo de alguma forma.
Apesar da batalha na outra realidade, o foco desse episódio está longe de ser a condição da Mato. Quando a Yuu decide a levar para a casa da Saya, que até a repreende de forma agressiva pelo que ela fez, a narrativa muda um pouco de perspectiva. A gente já não tem a ignorância da Mato para nos guiar, então apesar de tudo ficar menos misterioso, ao mesmo tempo certas coisas ainda não conseguimos compreender totalmente. Como a Saya dizer que a Black Rock Shooter vai destruir a outra realidade ou que o despertar da Black Rock Shooter se dá ao fato dela perder o pouco de humanidade que havia sobrado nela após sobrecarregá-la com todas as emoções negativas da Mato. Além disso, teoricamente algo irá acontecer com elas se a outra realidade for destruída, e a morte da Mato também significaria o fim da Black Rock Shooter, o que teria significados interessantes de se considerar. No mais, a Saya enfim demonstrou mais do seu lado humano, seja se recusando a matar uma inocente ou reconhecendo o mal que fez a Yomi. Nada justifica o que ela fez até então, mas já é um começo necessário para a construção da personagem. Sua tentativa de se comunicar com a Mato na outra realidade surtiu algum efeito, além de demonstrar que ela pode conectar sua mente diretamente na Black Gold Saw, mas, no fim, precisou da intervenção da alter ego que eu suponho que seja da Yuu para salvá-la no último segundo.
A essa altura, entramos em um ponto crucial da trama: A história tanto da Saya, quanto da Yuu. Somos imediatamente surpreendidos ao ver um flashback de quando a Saya ainda era uma adolescente e encontra a Yuu praticamente igual ao que é na atualidade, queria eu envelhecer assim!
Brincadeiras à parte, muito da Yuu é revelado nesse episódio, mas o real foco é na Saya, ou melhor dizendo, na relação das duas, que é muito mais profunda do que era esperado. Ao entrar no flashback, a primeira coisa que vemos da Saya adolescente é o seu chamativo chaveiro de canguru. Por que um canguru? A verdade é que não é muito surpreendente, visto que o animal simboliza traços fortemente conectados a Saya jovem e talvez até a Saya adulta. Coragem e energia são dois dos principais símbolos do animal, assim como são as duas primeiras características que nós vemos da Saya quando ela rapidamente vai atrás da Yuu ao notar a estranha situação (Saindo da escola de maiô, outras garotas olhando com deboche) e insiste em levá-la para sua casa. Acaba que a garota é tão sofrida que é, de certa forma, popular, graças a isso. Ambiente familiar nojento, sofre bullying constante na escola, exatamente o tipo de vítima que outras pessoas preferem ficar longe para não virarem alvos desse mesmo sofrimento e fingem que nada acontece. Só que não era o caso da Saya.
As duas começam a ter uma certa amizade, apesar da Yuu nunca realmente parecer contente, por motivos óbvios. A Yuu até chega a mencionar a outra realidade para a Saya, que acha estranho, claro. Mas é um paralelo interessante com a própria Saya falando a mesma coisa para a Mato, no início do anime. Nessa cena eu achei até engraçado como não há sutileza nenhuma em tornar o símbolo do canguru em algo relevante, até porque o canguru simboliza outras coisas importantes para a personagens que citarei mais à frente.
Quando a Saya descobre sobre o incêndio na casa da Yuu, a primeira coisa que lhe vem a cabeça é que aquilo havia sido de autoria da própria Yuu, algo que ela se arrependeria de imediato de pensar. Não é difícil entender o porquê, na vida real mesmo tem casos e casos até piores que colocar fogo na própria casa. Chega a ser instintivo pensar em retaliação quando se trata de alguém que só tomou porrada de todos os lados a vida toda. Mas a Yuu não teve nada a ver com o incêndio e ainda ganhou mais uma porrada da própria amiga que já estava, de uma forma ou de outra, mentalmente impondo essa acusação nela. Evidente que não foi em um caso tão sério como esse, mas já estive no lugar da Yuu antes e nunca é uma sensação agradável, por mais que não haja más intenções por parte da outra pessoa. Mas o anime demonstrou bem o afeto que a Saya desenvolveu pela Yuu e, após essa derrapada, ela decidiu que iria se redimir com a amiga não importa o quê.
Ela encontra a Yuu novamente no mesmo local onde a Mato encontrou a Yuu antes de ter sua consciência conectada à Black Rock Shooter e a cena final desse flashback meio que já quebra minha ideia de que não teria mais muito o que revelar nos episódios finais. Antes, a frase que a Yuu profere: "Nenhum mundo é mais doloroso de se viver do que esse", é bem forte. É realmente difícil, e geralmente temos que lidar com o sofrimento sozinhos, pois as outras pessoas ou mal aguentam carregar seus próprios fardos ou preferem fingir apatia para não ter mais sofrimento ao seu redor. A Saya seria uma raridade, por isso o canguru se encaixa tão bem. Além de coragem e energia, o canguru também simboliza estamina, algo que a Saya parece ter de sobra quando se trata da Yuu ou da outra realidade. O canguru também simboliza a transição para um outro momento da sua vida, coisa que acontece nessa última cena, onde a Yuu parece fazer a Saya invocar o nome da Black Gold Saw e, claro, simboliza a proteção, que é autoexplicativo visto que a Yuu pede pela proteção da Saya diretamente. Mas também há uma ironia aí, uma vez que a Saya adulta tem o trabalho de proteger o psicológico dos alunos, mas faz justamente o contrário.
Preciso dizer que eu adorei essa imagem. |
Como alguém que já jogou muitos jogos, sobretudo RPGs, a dimensão da alter ego da Yuu é bem a cara de um cenário de batalha final. Passamos por vários cenários diferentes, de cada alter ego, até chegar aqui. Apesar que ainda falta um, né?
A alter ego da Yuu parece ser bem diferente das outras alter egos. Ela parece ser uma existência muito mais autônoma do que as outras, não parece existir de acordo com as emoções da Yuu, muito pelo contrário, parecem ser duas existências separadas. Por isso ainda jogo como suposto que ela seja o alter ego da Yuu, apesar de tudo indicar que sim.
Esse episódio colocou um grande interrogação na natureza das alter egos e da outra realidade, o que tornou um pouco difícil adentrar nesse tópico nessa review, visto que é informação o suficiente para palpitar, mas informação de menos para teorizar algo mais concreto. Por outro lado, é como se todo o palco já tivesse sido preparado para o papel da Yuu, o plano da Saya e a natureza das alter egos todos se conectarem em um só ponto, que não tenho muita ideia do que vá ser.
Incrivelmente, ao contrário dos outros 5 episódios, esse deixou mais perguntas do que respostas. A quantidade de simbolismos diminuiu, como eu esperava, e teve bastante tempo de tela da batalha na outra realidade, então, ao menos, essa análise vai ser menor do que a anterior haha. Ainda assim, mostrar mais da Yuu e, principalmente, da Saya, era algo que precisava acontecer.
Ah, antes que eu me esqueça, também teve um pouco da Yomi no episódio e uma demonstração mais efetiva para nós, telespectadores, das consequências da morte de uma alter ego. A Yomi se recuperou e parece muito bem, mas já até deletou o número da Mato. É algo a se pensar quando você olha as duas alternativas (Matar a alter ego ou tentar resolver o problema diretamente), dá até para fazer um paralelo com a vida real. Definitivamente existe uma melancolia em toda a cena final, por mais que a Yomi não aparente mais estar sofrendo. A Mato, por outro lado, parece começar a reagir após sentir na pele todos os ferimentos da Black Rock Shooter. Me pergunto se ela vai criar uma casca de tanto sofrer e sair da situação por conta própria ou o anime vai ir por outra vertente. E vamos lá para o penúltimo episódio descobrir. Saraba Da!