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- Black★Rock Shooter #07 - Alter Ego
Chegamos no penúltimo de Black Rock Shooter e este talvez seja o mais esclarecedor da série. Quando ele começa na tão contada história do passarinho e suas várias cores e nos faz questionar o motivo da Mato admirar tanto essa trágica história, é possível se dar conta de um detalhe: As emoções da Mato são as únicas que o anime ainda não havia explorado até então. Isso era algo que eu já vinha esperando acontecer desde o primeiro episódio, na realidade, pois naquela altura eu havia interpretado a outra realidade e as alter ego como uma metáfora para as emoções das garotas e com os simbolismos que o espaço da Chariot trouxe, eu já me perguntava sobre o espaço que a própria Black Rock Shooter habitava no início da série, que provavelmente seria o espaço da Mato. Apesar da outra realidade ser real, o questionamento ainda é válido e na análise passada eu trouxe essa possibilidade novamente, agora este episódio deu o pontapé inicial. A Yuu decide que quer salvar a Mato de qualquer jeito, a Saya não parece receber tão bem a ideia, mas não tem muito o que ela fazer também. Quando a Yuu se despede da Saya e diz que a amizade delas foi curta, eu achei bem estranho, sem ter a menor ideia do que viria a ser revelado em alguns minutos.
A batalha na outra realidade é feroz e a Black Rock Shooter parece imparável. Isso é, com exceção da Mato, que é a única que consegue surtir efeito na sua alter ego. Ironicamente, nem a força da Strength é o bastante. Quando a Yuu entra em contato com a Mato, os movimentos da Black Rock Shooter são afetados, mas a essa altura alter ego já está sem paciência até para aquela a quem ela representa e propositalmente causa dano a si mesma para atingir a Mato. O que me chamou a atenção foi que o elo entre as duas parece estar afetado, uma vez que os ataques da Strength não parecem machucar a Mato. Ou talvez eu tenha interpretado errado como essa ligação funciona, já que no episódio anterior a única vez que o anime mostrou a Mato sentindo os ferimentos da Black Rock Shooter foi quando a alter ego feriu a si mesma, igual agora. Em todo caso seria um elo afetado, uma vez que as alter egos existiriam para receber as dores da pessoa e aqui a relação seria justamente o oposto. A Yuu diz que a Black Rock Shooter não é a Mato e isso acaba afetando negativamente a protagonista, demonstrado no surgir das cores naquela espaço mental que ela habita.
A natureza artística dessa cena é fenomenal! |
Eu particularmente achei fantástica a ideia de mostrar os comentários da família e colegas da Mato sobre ela em um formato de entrevista. Todos elogiam a Mato, afinal, é uma boa menina e muito positiva, mas todos também põe o famoso "mas" em seus elogios. O motivo é simples, ninguém consegue ser verdadeiramente positivo 100% do tempo, o que nos leva ao que eu disse no início dessa análise: Nós e os personagens do anime não sabem realmente como a Mato se sente, ou o que passa na mente dela, pois ela mesma guarda para si o que há de negativo que, querendo ou não, também faz parte do que você é. Quando você expõe seu lado negativo para os outros, o que é algo inevitável em boa parte dos casos, as chances de você atrair essa negatividade é muito maior. A Mato não queria isso pra si, não queria se machucar, nem ser odiada, preferia acreditar que, no fundo, todo mundo era bom. Vimos lá no início do anime, a Saya diz que a Mato nunca experienciou o ódio, agora entendemos o porquê. No entanto, mesmo sendo sempre uma boa pessoa, uma hora ou outra você esbarra em alguém que vai querer te prejudicar. A ligação entre o passarinho das cores com a Black Rock Shooter é perfeita, nesse sentido. A alter ego é uma figura que absorve todas essas emoções negativas até chegar no fim e morrer.
Quando a Mato se vê como uma "boa garota", a Black Rock Shooter também se vê livre da interferência da Mato e volta a poder lutar. É de se observar que as várias cores que surgiram ao redor da Mato podem ser as emoções que sempre estiveram com ela, mas que ela estava enterrando justamente para adotar essa falsa figura da positividade. Ser só a "boa garota" significa que ela jamais seria o passarinho da sua história favorita, passarinho este que serviria como uma alusão a Black Rock Shooter, o que por vez significaria que, de fato, a Black Rock Shooter não seria a Mato e isso se reflete, então, na liberdade que a Black Rock Shooter ganha para lutar. Antes da Yuu conseguir reerguer a Mato dizendo que não há nada de errado em não querer se machucar, que ela encarou a realidade "nua e crua" e que não é ela que estava fugindo, vemos a Strength reagir a começar a questionar a Yuu---Ou melhor dizendo, vemos a Yuu reagir e começar a questionar a Strength. Eis a grande revelação: A Yuu e a Strength trocaram de lugar. Eu honestamente não lembrava dessa reviravolta, mas faz total sentido. Por isso a Saya quer tanto proteger a outra realidade, pois é lá onde a verdadeira Yuu está, a que ela conheceu no passado. Por isso a "amizade curta" citada anteriormente, pois a Strength só conheceu a Saya depois (A pergunta é, isso foi no episódio 1 ou elas já se conheciam antes?). A questão que o anime não explicou (Ainda?) é qual foi o processo dessa troca. Teria a Strength feito uma espécie de reencarnação no momento da troca? Seria a alternativa que mais se encaixaria em todos os eventos da trama.
Como a Yuu evoluiu e se nivelou a Black Rock Shooter, além de parecer estar ficando insana também, presumo que ela passou ou esteja passando pelo mesmo processo de transformação da Black Rock Shooter. Segundo a Saya, isso significaria que ela está perdendo tudo o que resta de humanidade nela.
Algo que não tinha me dado conta é que a Mato está inconsciente faz quase um dia já, então o seu desaparecimento obviamente repercutiria na escola, o que trás essa atenção de volta para a Yomi. É até meio triste ver como ela continua super isolada e, dessa vez, sem amigo nenhum, mas já não demonstra o sofrimento de antes por ter tido essas emoções negativas ocultadas pela morte da Dead Master. Entretanto, existe o subconsciente e ele é mostrado brevemente quando a Yomi sai da sala ao ouvir sobre o sumiço da Mato e vemos que ela costurava uma nova pulseira, dessa vez uma mistura de azul com vermelho (Cores que formam o roxo) usando sua tesoura verde. A dor e a memória que a Yomi vai recuperando pode não ser só algo circunstancial pelo que acontece na vida real, mas talvez signifique uma instabilidade na outra realidade também, visto que a Kagari também sentiu que alguém estava sentindo dor.
Talvez a parte mais crucial deste episódio tenha sido a história por trás da troca entre a Yuu e a Strength, que acabou por revelar talvez (quase) tudo que precisávamos saber sobre a outra realidade e suas alter egos. Como um bom e velho mahou shoujo de ação, acaba que a outra realidade é um local onde a angústia das garotas, e apenas das garotas, tomam forma. Curioso como ao contrário da maior parte dos mahou shoujos, as alter egos sejam originárias de emoções negativas. Enfim, toda essa parte demonstrando a outra realidade é incrível pelo estilo artístico adotado, que é visualmente bem diferente do anime em si e ajuda a distanciar essa outra realidade como, de fato, outra realidade. Outro aspecto artístico é o fato de tudo ser preto e branco. Foram 7 episódios associando as cores com emoções, então a outra realidade ser explorada sob essa ótica passa a mensagem com maestria, principalmente porque o mundo tem esse aspecto meio assustador e macabro, que nos lembra que o mundo em si é formado da angústia das garotas na vida real. E claro, a quebra dessa falta de cores se dá com o surgimento da Black Rock Shooter e seu fogo azul, que derrota a Strength sem dificuldades. Esta que, após isso, desperta suas emoções próprias, também representado com o surgimento da cor laranja nos seus olhos. Então a gente tem esse mundo completamente incolor, onde a entrada de qualquer cor carrega um forte simbolismo.
Quando a Strength desperta suas próprias emoções, ela claramente evita a Black Rock Shooter por sentir medo de enfrentá-la novamente. É conceitualmente interessante, no entanto, pensar que a Black Rock Shooter nada mais faz do que eliminar essa angústia acumulada das pessoas. Para uma alter ego com consciência própria, a ideia de continuar lutando na outra realidade não era tão apetitosa para a Strength, algo que a Yuu discordava veemente. Afinal, como vimos a mesma dizer no episódio anterior, "nenhum mundo é mais doloroso de se viver do que este" (A vida real, no caso). Por isso, a ideia de viver em um mundo onde a única dor é física e você só vive de lutar, lutar e lutar soaria interessante para alguém que vive em uma realidade onde ela é esmagada pelas falhas da sociedade como um todo, onde a ambígua tortura emocional e psicológica toma conta, onde você não consegue lidar nem consigo mesmo, quem dirá com a maldade alheia. O ser humano é complexo, a mente humana é algo que só é possível explicar até certo ponto, comportamentos sociais são ambos previsíveis e imprevisíveis. Quando todos esses elementos são usados de uma forma ruim ou maldosa, pessoas inocentes como a Yuu, que nunca realmente havia chegado a fazer mal a ninguém, pagam o preço. A própria Yuu diz para a Strength algo que eu já vinha pensando há alguns episódios... A morte de uma alter ego significa a remoção de todas as emoções negativas que afligiam a garota com quem a alter ego está conectada, mesmo com a perda de memória, a vida continua, o que significa que novas angústias surgiriam. Para a Yuu, que vivia uma vida horrível, a morte da Strength não tinha sentido, a vida dela não iria mudar. Parecia muito mais jogo simplesmente trocar de lugar com a Strength e viver o basicão de matar ou ser morto, que se assemelha muito mais a uma vida selvagem.
A Strength entende a dor da Yuu, até porque ela nasceu dali. Com a situação fora de controle, não dá para saber o que seria da Yuu se ela fosse morta pela Black Rock Shooter, então contar essa história, revelar sobre a outra realidade e as alter egos, talvez sejam coisas que sirvam como motivação para a Mato se reerguer. Por sinal, a Black Rock Shooter surgir no flashback trás duas possibilidades para o anime, que talvez sejam ou não respondidas diretamente no próximo (e último) episódio, eu tenho uma teoria de que a angústia da Mato, que supostamente teria formado a Black Rock Shooter, existe desde que ela era criança, o que explicaria a Black Rock Shooter aparecer no flashback. Mas pode ser também que a Black Rock Shooter só seja uma existência única individual e eterna que trabalha como eliminadora de angústias. Veremos se haverá uma resposta concreta ou interpretativa no final.
Por fim, a Yomi recuperar as memórias que ela teve com a Mato foi outro desenvolvimento inesperado, mas que até me empolgou. Foi quase como reviver um trauma que já havia sido enterrado, mas tenho certeza que mesmo que aquela angústia de antes voltasse, dessa vez as coisas darão certo por um simples motivo: O medo de uma dor ainda maior, que seria a perda da Mato. A Yomi recupera suas memórias em um contexto onde a Mato está desaparecida, é o tipo de choque que faz a pessoa olhar para uma relação importante com outros olhos. É a velha história de perceber o quão importante algo ou alguém é quando você o(a) perde. E visto que a Mato tem conhecimento do que angustiou a Yomi, tem tudo por um merecido futuro mais alegre. Ver as cenas das duas ao som do ótimo encerramento me deu aquela sensação de fim de jornada, o que é muito louco, pois pareciam cenas que eu assisti há uns 40 episódios, quando na real foi há uns 5 ou 6. Isso porque apesar de bem curtinho, o anime tem sido emocionalmente muito carregado e eu estar analisando à fundo, destrinchando cena por cena, me faz tentar me colocar nos sapatos das personagens para entender suas ações e motivações, é muita emoção para dar conta haha. Mas ver a Dead Master no cemitério de alter egos foi bom, ainda mais com o estilo da coloração que tem esse tom de desenho feito no papel com grafite.
Esse episódio foi bem rico, pois ainda que esteja no final, nas revelações e já tenha deixado de lado a maior parte dos simbolismos e os aspectos interpretativos, ainda rende muito pano pra manga. Por exemplo, eu poderia até ter falado mais sobre a Mato, por exemplo, mas como o último episódio provavelmente será focado nela, vou aguardar para ver. Artisticamente falando também, o episódio foi um show. O flashback da origem da outra realidade ser tão único visualmente como uma forma mostrar a diferença entre as realidades me fez notar que o mesmo se aplica ao que temos visto no anime todo, o estilo de animação da outra realidade também é bem diferente da animação na vida real. O uso de CGI obviamente é para facilitar as coreografias insanas das lutas, mas dá para enxergar como uma forma de representar as alter egos como uma existência diferente de um humano. O ponto é: O anime tem sido, e aqui foi ainda mais, muito artístico. Têm sido um deleite assisti-lo, e espero fechar a série com a satisfação de ter terminado uma grande obra. Portanto, partiu para o último episódio. Saraba Da!