• Posted by : Testarossa terça-feira, 9 de novembro de 2021

     


    Chegamos ao final dessa marcante jornada emocional com algumas surpresas, ótimas ideias, algumas coisas que deixaram a desejar e o deleite de assistir a um final tão mahou shoujo quanto este, o que é quase inevitável quando se trata do gênero.

    Na luta entre a Black Rock Shooter e a Yuu, eu achei de uma coerência elogiável a Yuu "despertada" ser claramente muito mais forte que a Black Rock Shooter "despertada", uma vez que as alter egos nascem da angústia das garotas e a angústia da Yuu é naturalmente mais forte dado o quão desproporcional sua situação é. Se a Strength não decide se sacrificar, uma vez que sua morte significaria o desaparecimento dessa angústia, a Yuu teria vencido a Black Rock Shooter. Isso abriu brecha para a Black Rock Shooter tentar eliminar a Yuu, mas como eu disse na análise anterior, a Mato entender toda a história poderia servir como uma motivação, o famoso norte que ela precisava para se livrar dos seus próprios conflitos. 


     

    Toda essa situação entre a Yuu e a Strength vem sendo bem lapidada e alcançou sua totalidade nesse episódio final. Eu me perguntava a relevância da Yuu há uns 5 episódios, acabou que ela era a peça mais importante da história. Em alguma das análises eu apontei o fato de que a Yuu e a Strength pareciam existências distintas, diferente das outras alter egos, e elas, de fato, eram basicamente duas pessoas diferentes. O anime nos permitiu enxergar amplamente as emoções das duas e deu a profundidade necessária para um fechamento de arco digno. Entretanto, acabou que não explicaram a troca das duas, uma vez que a Yuu era da idade da Saya, mas uma envelheceu e a outra não. Citei uma possível reencarnação em outro texto porque temos as memórias de infância da Mato com a Yuu, ambas crianças, mas as circunstâncias daquele episódio deixam a dúvida do quão confiáveis essas memórias eram. Com o pouco que temos só dá para especular sobre algo que não teve uma resposta concreta. Não acho que seja um problema grave, até porque não atrapalha no desenvolvimento das personagens, mas ainda é um problema. Em todo caso, a Strength mostrou porque se chama Strength e deu o empurrão que a Mato precisava. As várias cores no espaço da Mato representavam as emoções negativas que a Mato afundava dentro de si mesma enquanto se mostrava ser a garota legal diante dos outros, um comportamento que era preocupante em 2012, mas hoje, em 2021, é algo muito fora do normal graças a ascensão das redes sociais. 




    A real é que ser uma pessoa legal o tempo todo é muito prejudicial para si mesmo, a gente viu isso de perto desde o episódio 1. Por ser muito fechada emocionalmente graças a um superego distorcido, a Mato tinha poucos amigos, não sabia lidar com o ódio da Kagari, foi incapaz de perceber a dor da Yomi, não soube identificar as más intenções da Saya, viu essa ingenuidade que ela propositalmente abraçou se voltar contra ela inúmeras vezes. Quando confrontada por esse fato, ela perdeu as forças e deixou a Black Rock Shooter livre para fazer o que quiser. Foi só quando esteve diante da possibilidade de perder a Yuu, uma situação extrema, em que ela se livrou dessas amarras emocionais que impôs a si mesma, algo representado pelo desaparecer das várias cores dentro do espaço em que ela se encontrava. Tal ação lhe colocou frente a frente com sua maior adversária: A própria Black Rock Shooter.


     

    A protagonista enfrentando a si mesma não é algo particularmente novo no gênero, já vi momentos assim várias vezes em mahou shoujos e a proposta narrativa por trás disso costuma ser a mesma: O amadurecimento da protagonista. A verdade é que histórias de amadurecimento em mahou shoujos são extremamente comuns, e isso nunca fica realmente chato pois sempre há formas e formas de se explorar o coming-of-age. A Mato chega no mundo da Black Rock Shooter determinada a suportar a dor e o sofrimento do lado negativo da vida, mas a Black Rock Shooter, que é a personificação dessa angústia, quer colocar isso à prova. Não é só uma batalha entre personificações da angústia de duas garotas em conflito, mas sim o gatilho necessário para que a protagonista consiga ou não amadurecer, de fato. Quando a Black Rock Shooter abre mão de suas armas para agredir a Mato fisicamente, ela está questionando a capacidade da Mato de suportar uma dor "mais leve" (Em comparação com o que as alter egos passam), mas a Mato não reage, pois apesar de aceitar enfrentar a dor de frente, ela ainda não se vê causando a dor em outra pessoa. Quando ela tenta se defender e acaba ferindo a Black Rock Shooter, ela se sente mal por isso. Então ela prefere só apanhar. A luta acaba antes de começar, pois de um lado temos uma menina gentil demais e do outro uma figura altamente impiedosa.




    Mas aí que entra a beleza da obra. Quando voltamos lá atrás, a Mato admirava o passarinho da história do seu livro favorito, pois ele tinha a coragem de desbravar os vários mundos e absorver suas cores, coisa que a Mato até então era incapaz. No entanto, em certo ponto ela se indignou com o final do livro, onde o passarinho morre e tentou criar um final alternativo para ele. Agora o passarinho desbravou vários mundos, inclusive o seu próprio, mas vê aquele tão sonhado céu azul bem distante. A Mato conseguiu o azul da confiança, superou o azul da tristeza, tanto ansiava pelo azul da distância, mas ainda lhe faltava o azul da sabedoria. A Mato precisava entender a natureza da vida, para assim conseguir sair do lugar finalmente, e para isso seria necessário o azul da frieza. A vida tem dessas, você tem que aceitar que vai machucar e será machucado eventualmente, acontece. Desde que não haja más intenções envolvidas, toda relação em algum momento haverá uma dose de dor, pois assim é o ser humano. O anime já nos seus momentos finais ainda demonstra a criatividade para usar o simbolismo ideal para representar o momento em que a Mato passa a enxergar a vida com outros olhos quando mostra ela levantando a mão para o céu azul, brilhante, que ela não consegue alcançar e, então, o sangue escorrendo pela sua mão a faz perceber o que faltava para ela. Não basta estar pronta para se machucar, mas também precisa estar pronta para machucar os outros. Como vi uma comparação certa vez: Conseguir uma oportunidade de ouro significa que outras pessoas sofrerão por não terem sido selecionadas, e infelizmente assim são as coisas, não querer entristecer ninguém significa se isolar em um canto e se estagnar na vida.




    A Mato passou por muitas fases ao longo desses oito episódios, sua jornada emocional fez desse amadurecimento um momento catártico. Quando ela enfrenta a Black Rock Shooter sem medo de se ferir e sem medo de ferir sua oponente, o mundo das alter egos parece estar mais instável do que nunca. As angústias ocultas de todas as garotas voltam para elas, e que bom que o anime resolveu mostrar várias figurantes chorando por isso, fato indicado principalmente pela Kagari voltar a sentir que gosta da Yomi (E, mais tarde, pela Kohachi acabar ficando com o rapaz que ela gostava). Essa conexão emocional entre elas, que surgiu com todas visando um mesmo objetivo, fez ser possível elas oferecerem ajuda para a Mato dar um fim no sua própria angústia, naquilo que fez ela ficar tanto tempo sem conseguir realmente ser feliz, mas claro, não antes de baixar o espírito do estúdio Trigger na personagem.




    O "poder da amizade", poderes combinados e o super ataque colorido que destrói o vilão em um golpe são todos notícias velhas para quem assiste bastante coisa do gênero, mas é notável que pela natureza das alter egos, essa combinação de poderes simboliza muito mais a importância do suporte emocional do que só um power up padrão. A gente viu ao longo do anime inteiro a falta que um suporte emocional fez para absolutamente todas as personagens, pois é o tipo de coisa que realmente dá uma injeção de energia na pessoa. É inclusive só com o apoio de pessoas queridas que muitas pessoas conseguem superar problemas emocionais. E, claro, a mistura de cores é um grande representativo da pluralidade das pessoas. Quando a Black Rock Shooter é destruída, seu mundo também é e todas acabam caindo em um mundo cinzento que suponho que seja o espaço neutro do mundo das alter egos, isso é, o espaço que não é ocupado pelos mundos específicos de outras alter egos. Lá é onde todas se reúnem, com a Mato voltando a ter sua aparência normal e a Strength chegando nos seus momentos finais.




    A jornada da Strength faz muito mais sentido quando sabemos que ela é a Strength, uma alter ego que criou consciência própria e se viu tendo que viver no mundo humano já que a Yuu queria fugir de lá de qualquer forma. Quando ela envia a Mato para a outra realidade, parecia uma ação inconsequente antes, mas é compreensível se pensar que é de lá que ela se originou e ela não seria capaz de entender totalmente os seres humanos. Ela aprendeu a conviver com os outros e entendeu a beleza e a feiura do mundo real, principalmente graças a Mato. A Yuu acaba sendo o oposto. Ela só viu o que havia de pior no mundo real e trocou de lugar com a Strength para não ter que sofrer mais, mas o sacrifício da Strength significaria que a Yuu teria que voltar a viver no lugar onde ela só sofreu o tempo todo. Mas a Strength acabou de vivenciar mais um exemplo da força positiva da humanidade e sabia que, com o suporte emocional adequado, a Yuu conseguiria superar seus grandes traumas e talvez até viver uma vida normal. Ela sabia que podia deixar a Yuu com a Mato e as outras porque elas passaram por suas provações pessoais e se tornaram pessoas melhores (Bem, quase todas, ao menos...). Foi uma cena tocante que mais uma vez se sobressaiu visualmente no momento em que o corpo da Strength desintegra em partículas que pintam o céu daquele mundo de várias cores, uma representação de todos os sentimentos que a Strength desenvolveu mesmo sendo uma alter ego sendo devolvidos para aquele mundo onde as alter egos não possuem emoção alguma. 



    Assim, tudo finalmente volta ao normal e a Mato volta para o mundo real. Ao encontrar-se com a Yomi, as duas tem um momento sentimental bem bonito, um reflexo do aprendizado que as duas tiveram nessa pequena jornada. A Mato sugere uma troca de machucados entre as duas, uma forma de dizer que está tudo bem acontecer desentendimentos entre elas, o afeto que uma sente pela outra não deixa de existir por conta disso e elas podem conversar sobre isso e se entenderem novamente. Faz parte. Enquanto isso, a Saya finalmente conseguiu a Yuu de volta, mas confesso que seu arco de personagem acabou pouco trabalhado e o que ela fez com os alunos ainda é um grande problema. Por outro lado, a alter ego dela foi a única de todas que não foi destruída, então palmas para ela pela conquista haha. A Kagari também passou um pouco batida na história, mas ela ao menos teve uma construção mais vistosa. Em todo caso, a Yuu agora busca recomeçar sua vida, mas com gente boa por perto certamente será algo mais proveitoso para ela.



    As quatro (Mato, Yomi, Kagari e Yuu) formarem esse novo grupinho de amigas me deixou triste de não poder ter mais tempo de tela delas interagindo juntas, mas definitivamente apresentam uma vibe bem diferente de antes. Inclusive, hora de trazer o papo do significado das cores uma última vez. Eu achei incrível que quando a Yomi entrega a pulseira laranja para a Yuu, vemos que ela usa uma pulseira vermelha (Ela tinha dado a antiga dela para a Mato) e a Kagari usa uma pulseira rosa. É bacana pois essas duas foram as que passaram pelas mudanças mais drásticas. A Mato amadureceu e teve bastante desenvolvimento, mas o cerne da sua personagem ainda é o mesmo. A Yuu é simplesmente outra personagem em relação a Strength. Detalhes bem pequenos que mostram todo um carinho que a staff teve com esse anime. 



    Após o final, ainda vemos a Black Rock Shooter (Que já havia aparecido nos momentos finais da Strength) e a própria Strength, o que não é nenhuma surpresa. Uma vez que as alter egos nascem da angústia das garotas, matá-las é só uma solução temporária, a própria Yuu disse isso no episódio anterior. Porém, talvez devido a mudança naquele mundo que a Strength causou, as duas parecem ser muito mais humanas do que antes. E irão continuar suas batalhas eternamente. 

    E é isso, Black Rock Shooter oficialmente chega ao seu fim. Nessa obra, ao menos. Vejamos algumas considerações finais...


    Black Rock Shooter definitivamente não é um anime comum, seu uso constante de simbolismos e metáforas pode dificultar um pouco (Ou bastante) o entendimento da trama, o estilo da narrativa é propositalmente feito de uma forma muito mais artística do que direta. Entretanto, as mensagens e os temas abordados pelo anime são simples. É um drama de personagens cujo o foco é o amadurecimento emocional e a forma que as várias dinâmicas de relacionamentos funcionam. Relacionamento tóxico, manipulação emocional, isolamento social, a própria depressão dependendo da sua leitura da obra, são todos tópicos bem abordados ao longo do anime, junto com vários outros. Aliás, é tudo muito bem trabalhado visualmente e narrativamente no anime. Se você acompanhou post por post, viu que entre erros e acertos, eu sempre conseguia extrair muita coisa da obra, não porque eu tenho super capacidade interpretativa ou coisa do tipo, mas porque o anime deixa muita coisa subentendida, ou até mesmo quase explícita. Você consegue ir ligando os pontos e fazer deduções até que bem precisas. Tem uma coisa ou outra que o roteiro simplesmente não se importou em desenvolver, como a troca entre a Yuu e a Strength, mas são coisas que eu cito aqui no texto, mas não me incomodou tanto na experiência em si. Black Rock Shooter é bem visceral com as emoções das personagens, fazendo elas realmente vestirem o que estão sentindo, mas é tudo feito com muita coesão e, apesar de uma ou outra atuação mais exagerada, é bem verossímil. 

    A Mato é uma ótima protagonista, seu desenvolvimento acontece gradualmente com naturalidade, até chegar no seu ápice. A Yomi é bem trabalhada, apesar de ter pouco desenvolvimento e só conseguir dar um fechamento para seu arco aos 48 do segundo tempo. A Yuu/Strength se completam muito bem, agregam demais na narrativa e são muito bem trabalhadas também. Já a Kagari e a Saya deixam a desejar, principalmente a Saya que era uma personagem com muito potencial até ser descartada da história no episódio 6. Eu diria que o anime tem um roteiro bem fechadinho, cumpre com tudo o que oferece e ainda trás uma experiência única para nós. Visualmente é um espetáculo, todo episódio é super bem produzido, o CGI é de 2012, mas ainda é bem vistoso até hoje. Já a trilha sonora é muito boa, consegue adicionar muito na atmosfera de várias cenas. Ou seja, de maneira geral é um anime feito com excelência. Tem seus defeitos como qualquer outro, mas posso adicionar entre meus mahou shoujos favoritos sem o menor receio. Agradeço quem leu todos os posts da série, ou mesmo quem só está lendo essas considerações finais. Está recomendadíssimo! Saraba Da!


    Ah, praticamente na última cena do anime eles decidem fazer uma clara referência a Nanoha, que é minha obra favorita. As voltas que o mundo dá, meus amigos.

    Até o tipo de uniforme é igual haha



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