Quando se trata de críticas de obras de entretenimento, existe uma crítica em específico que sempre costuma aparecer: A reclamação de que algo é "mais do mesmo". Esse tipo de crítica vai surgir independente do tipo de obra moderna que for, isso porque gêneros, demografias, revistas ou até mesmo ideias muitas vezes possuem uma estrutura base, que conta com uma série de clichês, que foi criada lá atrás e que é reutilizada constantemente pelas obras modernas. É por isso que existe as ditas obras experimentais, pois são obras que buscam o diferente, tentam ser sua própria estrutura específica. A verdade é que muitas das críticas as estruturas repetitivas são feitas apenas quando não gostamos de tal estrutura, o que em partes é justo, mas por outro lado não faz sentido reclamar da obra ser "mais do mesmo" quando a maioria das obras são. Sim, a maioria das obras desse século se baseiam em estruturas, clichês e afins que já existiam antes, mas poucas realmente não se dão ao trabalho de tentar dar algo de diferente para o consumidor.
Se olharmos para os battle shounens, muitos já tem uma ideia fixa do que esperar, o que pode ser bom ou ruim dependendo dos seus gostos. O exemplo do battle shounen é interessante porque quem não gosta, dificilmente se anima com o que tem sido produzido nos últimos anos e acha que é tudo a mesma coisa. Mas quem gosta consegue diferenciar as obras mais facilmente, então às vezes vejo pessoas que gostam de Boku no Hero, mas desgostam de Kimetsu no Yaiba e vice-versa. Essas obras existem dentro de um padrão criado pelas revistas de mangás shounens, mas cada uma tem suas próprias ofertas de conteúdo que faz a obra ser o que ela é. O mesmo vale para obras de esporte, por exemplo, onde geralmente você consegue ter um panorama de como a obra vai ser estruturada, quais clichês serão usados e coisas do tipo. Eu gostei das temporadas de Haikyuu que eu assisti, mas eu sabia mais ou menos os caminhos que a obra iria seguir porque é como obras de esporte costumam ser. The Prince of Tennis já é um pouco diferente, e talvez não seja o melhor exemplo já que começou a ser lançado em 1999, mas também existe dentro de uma estrutura muito embora seja um pouco mais marginal. O ponto é, quando seguir padrões é algo ruim, de fato? Ou sequer existe problemas em seguir padrões? Já escrevi em outros posts que originalidade é algo extremamente raro não só hoje em dia, mas nos últimos 10, 20 anos. Isso porque já existe muita coisa produzida, uma ideia nunca antes explorada é quase um mito, que só não afirmo com total certeza porque é sempre melhor ter dúvidas do que certezas. Além disso, gostamos do que nos interessa e isso, eu imagino, vai muito além do quão original é uma história ou o quão fora do padrão ela é, acredito que o que realmente buscamos é a criatividade para se apresentar algo que já é conhecido. Nesse balaio entraria características específicas da obra, a execução das suas ideias, a escrita em si ou mesmo a animação ou arte, no caso de animes ou mangás. Claro, muitos podem só realmente querer consumir algo parecido com uma obra que a pessoa gosta, o que também é muito válido.
Trazendo para a parte que me toca, nós temos os mahou shoujos como um ótimo exemplo. Há muitas décadas o gênero vinha criando estruturas, clichês e ideias que se tornariam os exemplos a se seguir no futuro. Hoje praticamente todo mahou shoujo segue algumas dessas vertentes à risca, alguns até dentro do seu próprio mundinho fechado, como é o caso de Precure, que segue a mesma fórmula há quase 20 anos e continua dando certo. Pra quem vê de fora, talvez veja todas as temporadas de Precure como "mais do mesmo" e às vezes até quem vê de dentro acaba tendo essa perspectiva (Embora seja mais o caso de chamar de cópia, coisa que já comentei nesse post), mas são todos diferentes uns dos outros, só existem dentro dessa mesma estrutura. A questão é que existe mentes bem criativas por trás das obras que fazem elas funcionarem, que é o que pode faltar em outros casos. Ou talvez falte uma melhor execução. Vai de caso à caso. Só que tem um porém, a expressão "mais do mesmo" é muito usada para dizer que uma obra não trouxe nada de novo em relação aos seus similares, o que pode ser uma questão muito subjetiva dependendo do quão disposto a pessoa está em absorver a obra. Quanto mais desgosto por uma estrutura específica a pessoa tiver, mais facilmente ela enxergará todas as obras dessa estrutura como uma coisa só. Em uma visão macro essa discussão pode ir tão longe quanto quem acha que anime é tudo a mesma coisa, e tecnicamente falando, de fato é, mas ainda são milhares de obras diferentes umas das outras.
Eu mesmo tenho isekai e escola de magia entre minhas obras favoritas, duas coisas que muitos taxam como "mais do mesmo" na primeira oportunidade que tiver. Mas assim como battle shounens, esportes, mahou shoujos e etc, também são apenas estruturas que abrigam suas diferentes obras. Eu já até questionei outras pessoas alguns anos atrás sobre isso, apresentando as obras lançadas até então, e a pessoa sempre terminava dando alguma resposta evasiva, pois no fim das contas são obras diferentes de uma estrutura que você ou eu não gostamos. Por isso acabo levantando essa discussão, ser "mais do mesmo" é realmente algo ruim? Fazendo um paralelo rápido aqui com o corpo humano, todos nós temos a mesma estrutura, mas somos todos diferentes. Nesse caso, se a obra não for só o esqueleto, não vejo problema em ser "mais do mesmo", pois nunca realmente é a mesma coisa (Até porque, se fosse, seria plágio). Entendo que muito disso parte desse desejo de ver obras que fujam totalmente do padrão, o que também não significa que vai ser bom, mas estar na zona de conforto só é ruim quando você fica acomodado. O que vocês acham? Inclusive, quem quiser citar aí os padrões que vocês gostam, também é bem-vindo. Saraba Da!
Curioso que na comunidade de jogos existe um movimento contrário, pois muitos querem sempre o "mais do mesmo" e quando franquias buscam sair da zona de conforto, acabam sendo apedrejadas por isso. Talvez tenha a ver com a forma de consumo, já que jogo é uma mídia mais ativa, quem consome está interagindo ali e, por isso, prefere ficar onde se sente mais confortável. Já obras visuais ou escritas se assemelham mais a um espetáculo, então muitos não se empolgam em assistir ou ler algo similar a uma coisa que a pessoa já conhece, quer o desconhecido ou até o desconfortável, quer sentar ali e ser surpreendido. Bom, pura suposição minha, mas se quiserem comentar sobre isso também, fiquem à vontade!