Se tem um jogo que eu adoro por motivos diferenciados, esse é The Witch's House. Joguei a primeira versão do jogo há muitos anos e fiquei maravilhado com ele, eventualmente descobri sobre o lançamento de uma novel que é uma prequel para o jogo e também me impressionou bastante. Essa novel acabou ganhando uma adaptação em mangá, que embora não seja tão boa quanto a novel por alguns motivos, ainda foi muito bom de se ler. O jogo de RPG Maker ficou popular o suficiente para que, há alguns anos, o(a) criador(a) de The Witch's House, Fummy, tenha resolvido fazer um remake em uma versão mais moderna do RPG Maker, nascendo assim o The Witch's House MV. Quando eu joguei essa nova versão, em 2018, pude tirar muitos pontos positivos e poucos negativos, mas no geral foi uma experiência muito satisfatória, ao ponto de eu não enxergar muita perda ou ganho em jogar uma ou outra versão. Isso é, com exceção do modo extra, que você desbloqueia após terminar o jogo uma vez, onde, de fato, refazem muita coisa do jogo e incorpora muitas partes da novel prequel sem realmente afetar a narrativa do jogo original ou fazer com que seja desnecessário ler a novel ou o mangá. Recentemente, resolvi rejogar o jogo mais uma vez e isso tanto reforçou meu gosto pela obra que eu resolvi vir escrever este texto.
The Witch's House é um jogo de terror. Ele foi lançado em uma época onde havia uma forte popularidade de jogos de terror feitos no RPG Maker, como Ao Oni, Ib, Mad Father e etc. Esses jogos geralmente são bem criativos, feitos muitas vezes por uma ou poucas pessoas e compensando uma suposta falta de qualidade gráfica e de gameplay por uma história interessante e, muitas vezes, única da sua própria maneira. The Witch's House é uma dessas obras. A premissa é extremamente simples: Você controla a menina Viola, de 13 anos, que se vê presa em uma floresta sem outra opção se não entrar na famigerada casa da bruxa, lá dentro, você precisa encontrar um meio de quebrar a magia que impede ela de voltar para casa e sair de lá com vida. O jogo tem poucos diálogos, a protagonista, Viola, não fala durante todo o jogo, apesar de haver uma ou outra situação onde você pode acenar ou rejeitar algo com a cabeça. O único personagem do jogo que está sempre falando é o Gato Preto, que é onde você salva o jogo. Então, à primeira vista, não há nada muito chamativo no jogo, mas isso só será verdade se você não prestar atenção, ou não se importar, com os detalhes, que é onde o jogo emplaca toda a sua narrativa. Eu genuinamente diria que The Witch's House é um jogo genial, pois tudo que você vê na casa da bruxa é incorporado na narrativa, muitas vezes até entregando algumas coisas da história. Você aprende muito sobre aquele ambiente e a história por trás dele sem precisar ler nada, basta apenas absorver o que a casa te mostra visualmente, isso vai desde os seus residentes, as decorações ou até coisas mais específicas. Dá para entender o essencial sem prestar tanta atenção assim, ainda mais porque muitos detalhes você só nota ao rejogar, mas o nível de profundidade que você consegue tirar é completamente diferente quando você se liga ao que o(a) criador(a) espalhou pelos cenários.
O jogo, acima de tudo, é uma obra de terror e quebra-cabeças, ou seja, existe uma grande quantidade de jumpscares, lugares macabros e muitos puzzles para você resolver, sendo alguns deles bem fáceis e outros um pouco mais complexos. Um aspecto do original que ficou muito mais caprichado no remake é o gore, existem dezenas de formas diferentes de você morrer e todas são bem bizarramente criativas, certas vezes chega até a ter um humor mórbido vendo o quão criativo as mortes podem ser. Nesse remake alguns puzzles ficaram um pouco mais fáceis, outros foram até removidos (Tinha um de matemática no original que era o terror de muita gente, mas infelizmente removeram), mas acredito que dá para se divertir bastante com eles ainda, sobretudo porque no modo extra praticamente todos os puzzles são alterados de uma forma ou de outra. Em todo caso, o jogo é intenso, sempre está acontecendo alguma coisa e geralmente são coisas que te pegam desprevenido. A primeira vez que eu joguei, eu tomei vários sustos, agora, na terceira, mesmo achando que sabia onde estava me metendo, eu acabei me assustando em um momento ou outro. Isso porque certos eventos só acontecem ao cumprir condições mais específicas, onde o jogador provavelmente não vai ativá-los jogando só uma vez.
Você tem um total de 3 finais + 2 jogatinas alternativas para fazer, sendo uma delas o Modo Extra do remake, que muda um bocado de coisas relacionadas a forma que o jogo revela pontos sobre a história, ou seja, mais detalhes ou perspectivas diferentes que enriquecem um pouco o enredo. Eu fiz todas essas 5 opções recentemente e digo que vale a pena fazer 100% do jogo, assim como vale muito a pena pegar a novel para ler após terminar o jogo (E somente após terminar o jogo, importante frisar). Se quiser, pode até rejogar após ler a novel, pois acredito que te dá um gostinho extra explorar a casa da bruxa quando tão bem municiado de informação. A história de The Witch's House tem uma forma muito interessante de se observar, ao ponto de, embora simples, ter até um ar de uma literatura mais densa, talvez até clássica, quando você termina no final verdadeiro. E vejam, isso não é uma coincidência ou um acaso, para minha espantosa surpresa, em uma entrevista na época de lançamento do remake, o(a) criador(a) do jogo comentou que uma das suas grandes inspirações na arte é, nada mais, nada menos que os livros de Paulo Coelho. Ele(a) até comentou que possui uma cópia física de 'O Alquimista' e 'O Demônio e a Srta. Prym", fiquei realmente chocado, porém, contente, que a nossa literatura tenha servido de influência para um(a) autor(a) japonês(a) criar uma obra tão boa. Claro, se assemelhar narrativamente a literatura clássica não faz da obra automaticamente boa, até porque eu acho que o final ficou exposto um pouquinho além do necessário, sinto que ser um pouco menos explicativo tornaria o final mais impactante do que já é. Ainda assim, isso é só minha mera opinião e está muito bom do jeito que está. Convenhamos que nos dias de hoje as pessoas não conseguem prestar muita atenção no que estão consumindo e se perdem muito facilmente quando é levemente mais complexo, o que faz muitos autores terem receios de criar algo mais vago ou até mesmo ambíguo.
No mais, acho The Witch's House um perfeito exemplo de que dá para fazer algo extremamente inteligente usando uma premissa até comum, o que não faltam são histórias sobre mocinhos e mocinhas que ficaram presos em um determinado lugar e precisam fazer o possível para sobreviver de algo sobrenatural ou não. Principalmente porque foi muito bem explorado a interatividade de um jogo, uma vez que qualquer coisa na casa da bruxa pode te matar, fazendo com que interagir com objetos seja um ato totalmente diferente do esperado. Muitas vezes pode não acontecer nada, o que te deixa sempre em uma leve tensão com medo de morrer ou tomar susto. Muitos puzzles são bem sagazes e te fazem pensar para resolvê-los, há algumas sequências de perseguição intensa e uma casa tão cheia de vida, quanto é cheia de morte. Todo aquele ecossistema é memorável, pois todos os cenários são muito distintos uns dos outros, então causa um impacto e expectativa quando você chega em um novo andar. É uma jornada curta, mas certamente não é uma jornada esquecível. The Witch's House é um jogo que me surpreendeu positivamente todas as vezes que eu parei para jogá-lo, que mostra a força de uma narrativa bem feita e criativa, com uma variedade visual significativa e que certamente estará disposto a te dar alguns sustos e te fazer ficar rodando um andar buscando solução para algum quebra-cabeça. Tendo apenas uma ou duas horas de duração e funcionando em qualquer PC, eu definitivamente recomendo a todos que estiverem lendo esse texto a darem uma chance para The Witch's House MV, super vale a pena. Saraba Da!