• Posted by : Testarossa sábado, 8 de janeiro de 2022

     


    No dia 16 de dezembro de 2021, a versão para PC de Final Fantasy VII Remake (Originalmente de 2020) foi lançada. Como eu não tenho consoles, estive esperando esse momento para poder jogar essa reimaginação do clássico de 1997. Consegui terminar o jogo em mais ou menos 2 semanas, incluindo a DLC INTERmission e queria aproveitar o ímpeto para comentar um pouco sobre a obra que reconta os eventos das primeiras 5-6 horas do jogo original. Por sinal, eu já publiquei uma análise sobre Final Fantasy VII aqui no blog há alguns anos, caso queira saber a minha visão sobre o jogo. Inclusive, na análise que fiz do jogo original, comentei algumas coisas que acabaram se tornando bem pertinentes agora que pude jogar o remake, como eu ter mencionado que essa parte de Midgar no original é conceitualmente muito interessante, porém, muito pouco explorado (São meras 5-6 horas, afinal). Enfim, deem uma olhada lá, se quiserem!




    Em Final Fantasy VII Remake, a primeira parte dessa reimaginação, acompanhamos a jornada de Cloud Strife pela cidade de Midgar e o seu confronto direto contra a gigantesca organização chamada Shinra, que basicamente exerce um comando em toda a cidade. Cloud atua em conjunto com a Avalanche, uma organização que é inimiga direta da Shinra, como um mercenário contratado. Como o jogo se inicia já na primeira missão do Cloud junto da Avalanche, você de cara já tem uma boa experiência de como funciona a jogabilidade do jogo. Basicamente, FFVIIR (Abreviação que irei usar a partir de agora) é um RPG de ação com alguns diferenciais bem legais, como o jogo entrar em câmera lenta na hora que você entra no menu para usar algum item, técnica ou magia, mas também ter a opção de atalho rápido que aumenta bastante o dinamismo das batalhas. O sistema de matérias que também está presente no original é muito versátil, você pode montar seus personagens de diferentes formas, com diferentes estratégias e estilos. O mesmo pode ser dito para as armas, que apesar de serem poucas, tem um sistema de evolução que você pode controlar. Tudo isso faz com que o jogo seja bem divertido de se jogar, ainda que ele seja relativamente fácil durante a maior parte do tempo (Teve umas meia dúzia de batalhas que realmente foram mais desafiadoras, mas no geral, foi bem tranquilo). Mas eu também já havia achado o original bem fácil e não tive problemas com isso, então menciono só para compartilhar minha visão mesmo. No mais, terminar o jogo desbloqueia o nível difícil, e a boa jogabilidade te convida a rejogar em uma dificuldade maior, algo que vale a pena para quem quer ter mais desafios durante o jogo.




    Além da jogabilidade, o jogo também está visualmente impressionante. Eu poderia vir aqui comentar sobre alguns aspectos visuais em algumas áreas que não estão tão bem polidos e deixam a desejar, mas eu honestamente não me importo tanto com gráficos impecáveis até por não ter monitor 4K e essas papagaiadas todas (Até porque os personagens estão lindos, e os cenários, em sua maioria, também). O jogo está belíssimo, o que é curioso já que ele se passa em lugares ou muito pobres, como favelas, ou muito sujos, como depósitos de lixo e lugares abandonados. Conceitualmente falando os visuais entregam muito bem a desigualdade desses lugares, o que casa perfeitamente com a temática do jogo em si. Explorar essas áreas geralmente é muito legal, apesar de eu ter achado uma ou outra área muito monótona ou cansativa. Fiz todas as missões secundárias do jogo e recomendo a quem for jogar que dedique esse tempinho extra para fazê-las, pois elas ajudam a enriquecer os ambientes das favelas de Midgar, te mostrando um pouco da vida dos residentes dali, conhecendo histórias e figuras que dão identidade para esses lugares. O jogo se empenha e consegue nos mostrar a realidade de Midgar, que diferente dos antagonistas, que fazem o conflito principal ser muito maniqueísta, essa realidade não é super dramatizada ou mesmo romantizada. A gente vê um cenário bem pé no chão, pessoas felizes, pessoas tristes, pessoas boas, pessoas ruins, todas vivendo e sobrevivendo em um ambiente mais pobre e até esquecido pelos governantes de Midgar, uma vez que são os próprios residentes das favelas que ajudam a comunidade a se sustentar, a ter água limpa, educação ou mesmo empregos. Em algumas situações vemos que pessoas da Avalanche que precisam eliminar monstros nos arredores ou vigiar as favelas, pois os soldados da Shinra estão pouco se lixando. 




    Eu sempre aprecio muito essas missões secundárias que em nada importam para a história principal do jogo, mas enriquecem a narrativa e a construção de mundo da obra, em FFVIIR até as missões mais bobinhas acabam ganhando um novo sentido devido ao contexto em que elas ocorrem. Como em um momento onde as pessoas de um local estão desesperançosas e uma menina te dá a missão de achar uns discos de música pela cidade para animar o pessoal e a cada disco de música que você encontra e põe para tocar, um dos residentes ali relembra de momentos felizes da sua vida que estão conectados com aquele tipo de música e recuperam o espírito. Ou em outra missão onde as crianças de um setor da cidade tentam ajudar na patrulha porque, mesmo sem entender, sentem que os adultos precisam se dedicar demais para manter o local de pé. E claro, tal como os discos reerguem a força de vontade de alguns figurantes em uma missão secundária, a trilha sonora de FFVIIR faz um papel exemplar em dar emoção ao jogo. Seja na exploração, ou nas batalhas, o jogo tem uma trilha sonora rica e memorável. Eles tentaram variar o máximo possível para não ficar muito repetitivo, e conseguiram na maior parte do tempo, tendo algumas músicas excelentes que eu até achei que apareceram de menos. Ainda no áudio, joguei com a dublagem japonesa que estava muito boa, há uma diferença considerável nos diálogos do jogo em japonês para o jogo em inglês, eu pessoalmente preferi muito mais o japonês por soar mais próximo das personalidades dos personagens e as cenas em si. Os diálogos em inglês são muito mais informais, com mais piadinhas e, mais importante, são muito mais explícitos no que querem passar. Não vejo muito o porque tentar definir um melhor ou pior, mas se você conseguir entender japonês falado e preferir algo mais sútil e interpretativo, como é o meu caso, fica aí a citação.




    Tudo isso nos trás aos pontos mais importantes da obra: A história e seus personagens. A cerne da história é um grupo de revolucionários ativistas ambientais (Avalanche) que busca derrubar a grande corporação que controla Midgar e explora abusivamente os recursos naturais do planeta a fim de obter riqueza e desenvolvimento tecnológico (Shinra). Ou seja, a temática é bem fácil de entender. Acontece que, esse conflito possui muitas facetas que são exploradas ao longo do jogo. Os rostos por trás da Shinra são quase todos bem vilões, mas as ações da Shinra fazem a cidade se desenvolver tecnologicamente e trás mais conforto para as classes menos pobres de lá. A questão é: vocês abririam mão de ter coisas mais legais e confortáveis para uso próprio para que o planeta seja menos destruído? Muitos se negariam, e isso é algo questionado no próprio jogo, para o qual Barrett, um veterano da Avalanche, prontamente diz que sim, abriria mão do que fosse preciso, pois essa é a luta dele. Como a Shinra jamais cederia nesse conflito, a Avalanche acaba tendo que tomar medidas mais extremas, como destruir as principais máquinas que sugam a energia do planeta, chamada de Mako e tida basicamente como a vida do planeta em si, o que faz a Shinra denunciá-los como ecoterroristas para a mídia, o que por sua vez causa pânico na população. A Avalanche não passa ilesa nesse conflito, uma vez que a luta pela causa acaba trazendo muita dor e sofrimento para muita gente, pessoas que inclusive não tem nada haver com o grupo. Nesse aspecto, existem os prós e contras de ambos os lados, embora o jogo faça total questão de mostrar quem são os mocinhos e quem são os vilões, algo que no original era um pouco mais ambíguo, mas acredito que a Square Enix preferiu tirar uma parte do peso das ações da Avalanche dos personagens.





    FFVIIR é um jogo com uma narrativa muito bem equilibrada. O protagonista, Cloud, é um ex-soldado da Shinra, Barrett é a figura que representa a Avalanche no jogo, a Tifa é uma residente das favelas de Midgar que acaba optando por participar do conflito e a Aerith é, sem dar spoilers, uma figura mais relevante para a história em si. É um núcleo de personagens jogáveis bem diversificado e junto dos vários personagens secundários que se mostram relevantes para a narrativa, temos um cast de personagem elogiável. Caso não tenha lido a análise que escrevi do Final Fantasy VII original, eu menciono que apesar de bom jogo, ele pouco se destaca em algum aspecto, além de ter achado toda essa parte de Midgar curta demais e mal explorada. Esse remake "conserta" esses problemas, tornando Midgar um lugar super explorado e dando uma construção e desenvolvimento dignos para os personagens. Você vê a transformação que os personagens vão passando ao longo do jogo, e você sente eles se aproximando e realmente se tornando amigos ou pessoas de confiança. Você sente o peso dos eventos da história, os momentos dramáticos realmente te impactam. A narrativa do jogo é exemplar, ainda que a história tenha seus problemas, como a ideia dos Murmúrios que acabou sendo usada de maneira forçada em alguns pontos, quebrando a suspensão de descrença e tirando qualquer tensão que teria em algumas cenas. A ideia por si só é bem interessante, ainda mais quando olhamos para um sentido metafórico de que eles estariam te protegendo de um futuro incerto e assustador, mas que nem sempre o certo e seguro é o que você quer para sua vida. Isso vale para todos os personagens, que crescem no decorrer da trama, que vivem as experiências que acontecem com eles e absorvem aquilo como uma lição de vida, consequentemente mudando aos poucos. Embora eles emanem carisma desde 25 anos atrás, pela primeira vez eu me senti conectado a esses personagens icônicos, senti que eles se tornaram personagens mais completos nesse remake, ao ponto de que fico ansioso para ver a(s) próxima(s) partes dessa reimaginação. Na minha opinião, até a presença do Sephiroth foi um dos maiores acertos do remake, uma vez que o lendário antagonista era um personagem muito pouco presente no original, fazendo com o que ele ficasse mal explorado, muito embora boa parte do lore da obra gire em torno dele. Aqui usam dos problemas psicológicos do Cloud para fazer dele uma presença constante e memorável, o que fortalece muito o personagem para as próximas partes.




    No fim das contas, um remake precisa buscar ser uma versão melhor de si mesmo, isso é, pegar a base que já existe e melhorar no que for possível sem alterar a essência do original. Nisso, o remake acerta com maestria. Como eu vi outra pessoa comentando, esse remake em relação ao original é como se tivessem pegado uma boa animação de 3 minutos e transformado em um ótimo longa-metragem. Apesar do remake ter estendido as primeiras 5 horas do original em 40 horas, raramente você sente que o jogo está enrolando ou "enchendo linguiça", como a velha expressão diz. E o que tem de novo é, em sua maior parte, excepcional. Isso vale, sobretudo, para o INTERmission, a DLC que veio nessa versão de PC e PS5 (Intergrade) onde você joga com a Yuffie, uma das 9 personagens jogáveis do original. Ela, assim como os outros personagens, também teve um bom desenvolvimento e construção de personagem nas 6 horas que durou, moldando o caráter e perspectiva da personagem para alguém com motivos de sobra para se juntar ao grupo principal. Isso, além de acrescentar algumas informações essenciais para as próximas partes da série, tornam essa DLC crucial para qualquer um que queira jogar as próximas partes de FFVIIR. 




    Entre momentos épicos, dramáticos, divertidos e aconchegantes, FFVIIR trás uma experiência realmente elogiável. Sendo ambicioso como o original era, ele consegue criar uma grande história que entre muitos altos e poucos baixos, te deixa tanto satisfeito quanto ansioso para o que tem por vir. Embora seja só a primeira parte, o jogo tem um fechamento decente, o que faz dele um jogo bem completo. Valeu a pena esperar tanto para jogá-lo no PC (Talvez seja esperar demais, mas tomara que as próximas partes lancem direto em múltiplas plataformas, ou ao menos tenham contratos mais curtos). Bater na tecla da preservação do meio ambiente era bem necessário em 1997, quando o original lançou, mas hoje em dia está ainda mais necessário. No mais, o remake fez questão de tornar Midgar um lugar muito facilmente visualizável e muito mais importante para a narrativa, esse ambiente rústico fará falta. Final Fantasy VII Remake é um jogo muito bom, que certamente vale a pena jogar tanto para os fãs do original, quanto para quem nunca jogou nenhum Final Fantasy, definitivamente não será a última vez que irei jogá-lo. Saraba Da!

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