• Posted by : Testarossa sábado, 2 de fevereiro de 2019


    Quando os padrões de anime me pressionavam

    Sejamos sinceros, se você não estiver nos padrões que um grande grupo considera o "certo", você provavelmente será julgado, criticado, condenado ou até mesmo desprezado. Isso vale para quase tudo, inclusive para animes e outras mídias. É quando o efeito manada se torna tão real que os bois atropelam qualquer coisa que não seja um boi como eles. É uma situação delicada, pois a maioria tenta forçar a minoria a serem iguais a eles, e no caso de você se recusar a tal, será tratado como alguém errado.
    A grande questão é que cada pessoa é ela própria, um ser vivo diferente de qualquer outro, mas esse grande grupo ignora esse fato e tenta se tornar um aglomerado, que se move em prol de uma mentalidade única, que tenta firmar o conceito de "certo" e "errado" em cima de simples opiniões.

    Dito isso, minha história ao lidar com esse tipo de situação vem de longa data. Houveram muitas ocasiões onde meu ponto de vista divergia do ponto de vista da maioria, ou ao menos do que parecia ser uma maioria (Minorias vocais são ótimas para se disfarçarem de maioria). Nem sempre eu soube lidar com esse tipo de coisa, houveram inclusive momentos em que a pressão de me pronunciar mediante a um grande grupo de pessoas dizendo justamente o oposto do que eu queria dizer fez eu me calar e não dizer nada. É algo que de fato exige certa coragem, pois ver um grande número de pessoas falando uma coisa te influência a acreditar que essa coisa está correta, quando muitas vezes não é o caso.
    Após alguns anos eu aprendi a criar essa coragem, mas só isso jamais seria o bastante para saber lidar com esse tipo de situação. Houve casos, por exemplo, em que eu via um monte de gente dizendo bobagens e decidia me pronunciar para dizer que não era bem assim, apenas para me tornar motivo de risada para os outros. Alguém despreparado para esse tipo de coisa se sentiria muito mal em passar por uma situação assim, e a frustração normalmente a impediria de perceber que isso por um lado enquanto essas pessoas riem de você por mostrar um ponto de vista diferente, por outro elas não apresentam um contra-argumento sequer para desmentir o que você disse.
    Na época apesar de não ser algo que me afetasse muito, ainda era algo que conseguia fazer eu parar de me pronunciar. Isso jamais deve acontecer. Perder o seu direito de se expressar, de dizer o que pensa, é algo horrível.
    É claro que no grande esquema das coisas você sempre acaba tendo o grupo menor de pessoas que pensam como você, ou ao menos aceitam pontos de vistas diferentes, mas ainda assim você se sente coagido a não se expressar publicamente, apenas em grupos fechados.

    Mas obviamente, esse tipo de comportamento também chega nos animes. Por sorte eu só comecei a interagir publicamente com outros fãs de anime a partir de 2013, então as situações mais problemáticas foram bem escassas. No fim, o que resulta disso é o que falei no Hanashi #02 (E por isso a similaridade nos títulos), é porque o que abordo nesse e naquele post são inevitavelmente conectados. Afinal, padrões são formados pela maioria, e a maioria é um número maior de pessoas. Então infelizmente são duas situações que andam de mãos dadas que você precisará saber lidar. Lidar com os números é complicado, mas você ainda consegue se virar sem complicações, afinal, como eu disse no outro post: "números não contra-argumentam, apenas tentam te obrigar a pensar igual, eles são muitos, mas são inofensivos". Padrões, no entanto, são bem mais perigosos. As pessoas criam o que supostamente deveria ser considerado como "senso comum", falar o contrário do "senso comum" é simplesmente impensável.
    A minha história nesse caso, é sobre como eu nunca consegui ser controlado por esse tipo de coisa. Eu gosto do que eu gosto, eu desgosto do que eu desgosto. Melhor ainda, por desenvolver tanto minha capacidade interpretativa quanto minha análise crítica, a ponto de eu até mesmo me tornar realmente um redator desde 2017, eu sou capaz de definir o que eu acho bom e o que eu acho ruim, ou o que é melhor que o que e o que é pior que o que. E sabem o que isso significa? Exato, dor de cabeça.
    Eu nunca tive esse tipo de filtro, eu assistia o que me criava interesse e minha opinião sobre a obra vinha do jeito que tinha que ser. Isso é algo que me assombra até hoje, pois apesar de tudo eu sei que revelar que sou "fora do padrão" resultará em muita gente olhando torto e falando bobagens.

    Ao longo dos anos fui observando de perto como a comunidade agia, e o que vi foi bem preocupante. As pessoas parecem criar certos padrões e depois se enfiarem ali, excluindo a opção de ser ela mesma. Por que eu digo que eles excluem essa opção? Pode ser um erro meu e as pessoas realmente se sentirem daquela forma, mas é estranho ver várias e várias pessoas com os mesmos favoritos, falando as mesmas coisas, agindo da mesma forma, como se um copiasse o modo de agir/pensar do outro.
    É como um clássico clichê de um personagem que se disfarça no meio de um grande grupo fingindo ser iguais a eles, quando não é. Quando você revela que não faz parte daquele grupo, eles se tornam agressivos com você.
    Por sorte eu nunca passei por isso diretamente, mas há comentários típicos que muitos fazem para quem sai do padrão exigido, como por exemplo dizer que a pessoa tem "gosto ruim". Quem é você para achar X bom, ou então achar Y ruim? Mas o fato de eu não ter passado por isso (Ainda) é simplesmente por conveniência, basta um comentário no lugar certo que a magia acontece.
    Admito que já houveram muitas ocasiões onde eu poderia ter falado algo que resultasse nesse tipo de reação, mas querer ficar comprando discussão em todo canto é sem sentido também. Porém, posso citar dois comportamentos que me incomodam bastante e me dão vontade de realmente começar uma discussão que provavelmente não vai a lugar algum. O primeiro deles é os debochados, pessoas que ironizam o fato de que possa existir pontos de vista diferentes e válidos. O segundo deles, e o que mais costumo ver, é os que chamo de "cuspidores de fatos fabricados", que basicamente são as pessoas que afirmam suas opiniões como fatos, como algo irrefutável, só o óbvio, é o "senso comum", afinal.
    Esse segundo comportamento me incomoda não só por ser mais frequente, mas também por aparecer de vez em quando até com amigos próximos. Então talvez você que esteja lendo agora seja alguém que tenha mostrado esse tipo de comportamento em algum momento, saiba que eu discordo veemente da visão de que existe algo como "fato" quando se trata de uma obra ser boa ou ruim. Obrigado.

    O Hanashi de hoje acabou sendo um compilado de curtas situações que vivenciei e presenciei, mas o mais importante, a mensagem final, permanece. Seria insensível simplesmente dizer para ignorar tudo isso e se expressar livremente, as pessoas conseguem ser bem estúpidas quando querem, e elas sempre querem muito. Então confrontar padrões pode acabar sendo um estresse, frustração ou constrangimento que você prefere não ter que lidar, é compreensível. Mas gostaria de lembrar que, no fim, você pode pensar da maneira que quiser e ter a opinião que quiser, você é livre.
    Uma pessoa pode achar Fullmetal Alchemis: Brotherhood ou Steins;Gate animes fracos e ter argumentos consideráveis para isso, é algo que definitivamente existe, e elas tem esse direito. O que define se essa opinião é coesa ou não são os argumentos, esse é o grande ponto. Falar que a pessoa tá errada em pensar assim só porque "não pode ter essa opinião, se tiver tá errado" é querer empurrar seus padrões em cima dos outros e essa é uma atitude que eu reprovo com louvor. Parem de querer regular como as pessoas pensam, quais os seus critérios de qualidade, até mesmo suas experiências de vida e como elas recebem cada obra baseado nisso, tudo para querer colocá-las na sua caixinha. Não tentem padronizar a arte como algo fixo que ou você tá do lado certo ou do lado errado. Ao invés de algo superficial e sem sentido como isso, passem a olhar para os argumentos, o que a pessoa realmente tem a dizer, pois ali é onde você realmente pode ver se o que ela diz tem cabimento ou não.
    Menos padrão, mais liberdade individual. Tendo bons motivos para pensar da forma que pensa, qualquer opinião/crítica é válida. Saraba Da!

    OBS: Tem muitas pessoas que realmente tem muita consideração pelo que eu digo, e fico muito feliz por isso, mas muitas das minhas opiniões fogem muito do que consideram aceitável, espero que não me desconsiderem por isso haha!

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