• Posted by : Testarossa quinta-feira, 21 de outubro de 2021



    Ver uma obra completa é sempre uma experiência diferente, a visão que temos de algo que possui início, meio e fim é muito mais ampla do que uma pessoa normalmente teria vendo apenas uma parte da obra. Existe todo um debate sobre se é justo ou não avaliar uma obra sem realmente tê-la consumido por completo. Por exemplo, há casos onde uma pessoa pode criticar a falta de desenvolvimento de um personagem sendo que o personagem foi desenvolvido, mas a pessoa não foi longe o bastante na obra para experienciar isso. A sociedade está cada vez mais impaciente e, ao mesmo tempo, mais opinativa. Essa destrutiva combinação faz com que exista cada vez mais equívocos e cada vez menos reflexão. As famosas "primeiras impressões" de animes da temporada são um ótimo exemplo do que quero dizer, pois nos últimos anos vem se tornado mais comum análises do anime inteiro baseado apenas no episódio de estreia. A realidade é que nos acostumamos a um sistema cuja própria base era errônea desde o princípio e quebrar esse costume é, no mínimo, uma tentativa inútil. 

    A arte, desde seus primórdios, sempre foi algo para ser analisado quando consumido por completo. Não existia pegar 1/3 de um quadro para analisar, uma parte de uma peça de teatro ou mesmo metade de um livro. Os tempos mudaram, tal como os tipos de arte, tempo virou um constante problema e as indústrias se adaptaram a modernidade de forma que incentivasse a necessidade de consumo excessivo de entretenimento das pessoas. O que não mudou, no entanto, foi a experiência de acompanhar o início, meio e fim de uma obra. A maioria das obras modernas mais aclamadas são compostas de um início, meio e fim, pois geralmente é só nesse cenário que você consegue enxergar tudo o que a obra quis entregar para você. O que isso tudo significa, então? Bom, significa que fomos colocados em um beco sem saída. Ao menos no que diz respeito aos animes.

    Sendo bem direto: A maioria dos animes que são lançados todo ano são meras amostras do seu material original, mas a maioria das pessoas analisam as obras como se elas estivessem completas. Eu considero isso um grande erro, mas como eu disse, é um beco sem saída. O anime de 12 episódios que adapta 20% do material original dificilmente vai te entregar o suficiente para ser uma obra memorável, mesmo que tenha o potencial para ser uma. Por essas e outras eu acabei me afastando bastante dos animes. Afinal, ou eu analisava um pedaço de obra sob a grande possibilidade de estar sendo injusto com a mesma ou eu só consumia sem analisar nada, que não é algo que eu gostaria de fazer. Talvez a obra seja boa desde o início, mas a não ser que seja uma história curta, não dá para ir muito longe com meros 12 episódios. Já pararam para imaginar o que seria das várias obras super elogiadas se elas tivessem apenas os seus 12 primeiros episódios? Como Fullmetal Alchemist, Steins;Gate, Hunter x Hunter, Evangelion e etc. Elas jamais teriam o prestígio que tem. Eu acredito que uma mudança de perspectiva seria bem-vinda, sobretudo porque é a única coisa que nós podemos fazer. É provável que seja pedir demais e que considerem inviável não enxergar um anime de 12 episódios que nunca terá continuação como uma obra completa, mas o tópico de discussão existe para isso, certo?

    A questão é que muitas obras, para não dizer a maioria, precisam da sua narrativa inteira para estar na sua melhor forma, o que significa que a maioria das adaptações em anime jamais estarão na sua melhor forma. Isso raramente é levado em consideração, ainda que muitos de nós consigamos analisar episódios isolados sem considerar o todo, mas ao fim de uma temporada não conseguimos considerá-la só uma parte de um todo. Para quem acompanha mais de perto, me corrijam se eu estiver errado, mas sinto que falta um pouco a mentalidade que quem acompanha séries parece ter, de terminar uma temporada e não criticar o que teoricamente será trabalhado em outra temporada, apenas o que poderia ter sido feito no material já lançado. Vejam bem, o que eu estou sugerindo aqui é algo muito fora da zona de conforto dos consumidores, mas muitas das supostas falhas das obras não é culpa dos seus autores, mas sim do sistema de adaptação em si. Cabe aquela popular expressão: "Não odeie o jogador, odeie o jogo"

    Claro, o que é feito durante os 12 episódios está na conta da adaptação e pode ser bom ou ruim. Essa é a parte que está sujeita a críticas, acredito. A não ser que você seja do tipo que gosta de 1 ou 2 animes por ano, não existe ir atrás de toda obra original cuja adaptação foi do seu agrado, mas acho uma reflexão válida de se carregar, de buscar se lembrar que de repente aquele anime interessante não pecou na falta de desenvolvimento de personagem X ou Y, só não foi adaptado o suficiente para chegar lá. Existem tipos e tipos de narrativas, mas a realização de chegar a um final é a mesma para todas. Isso é algo que me atraiu para as Visual Novels, não coincidentemente mais ou menos na mesma época que eu comecei a assistir menos animes, pois diferente de animes, mangás e light novels, as visual novels geralmente lançam como um produto completo, com início, meio e fim. Eu diria que as obras incompletas muitas vezes acabam não sendo marcantes, em especial os animes de 12 episódios, pois os de 24 ou mais obviamente acabam tendo mais tempo para trabalhar. Como fã de Precure posso até citar o exemplo das versões em mangá de cada temporada, onde são mangás de uma dúzia de capítulos que não chegam nem próximos de te impressionar da mesma forma que as temporadas de 50 episódios impressionam. No fim, tudo depende se os primeiros arcos de uma história são intensos ou introdutórios, porque se o anime não adaptar além disso, é só isso que a maioria verá e para a maior parte dessas pessoas, esse recorte vai definir a qualidade da obra como um todo.

    Confesso que houve muita dúvida se eu publicaria esse post ou não. É um tema que nem eu tenho uma opinião realmente definida, me parece não ter muito para onde correr enquanto a indústria estiver produzindo obras meramente comerciais em massa. As obras rentáveis se salvam pois é quase certo que terão continuação, enquanto as outras acabam sendo o "resto" que não terão um final animado, talvez nem um meio. Existem exceções que, mesmo incompletas, conseguem entregar um material de alta qualidade o suficiente, mas não acho que deva ser tomado como regra, já que isso acaba alimentando uma cobrança para que toda obra tente cativar o público o mais rápido possível, consequentemente sacrificando desenvolvimento e construção no processo. Não se apressar, por outro lado, causa toda a problemática abordada nesse post. É por isso que me questionei se valia a pena postar ou não, afinal, não tem muito o que se discutir quando não se tem solução viável. O que vocês acham? É, de fato, injusto fazer uma análise completa de uma obra que não alcançou sua totalidade? É realmente uma experiência diferente consumir uma obra com início, meio e fim? Faz algum sentido comentar sobre esse tema? Expressem-se aí. Saraba Da!

    OBS: Terminei recentemente uma série da Netflix que está na sua primeira temporada (A segunda já está confirmada), alguns dos seus maiores problemas podem não ser mais um problema quando sair a segunda temporada, o que tornaria uma possível crítica minha obsoleta. Então é realmente um caso complexo para quem faz análises ou talvez eu só esteja pensando demais.

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