Pop In Q é mais um mahou shoujo da Toei Animation criado por Izumi Toudou (Pseudônimo do grupo que criou Precure e Ojamajo Doremi), lançado em 2016 em formato de filme como forma de comemorar os 60 anos do estúdio. Seguimos a história de cinco garotas distintas que, no dia das suas graduações para o ensino médio, incertas sobre o seu futuro devido aos seus respectivos problemas pessoais, acabam todas sendo subitamente transportadas para um mundo de fantasia em crise e precisarão trabalhar juntas para salvá-lo através da dança, como é de se esperar de um bom mahou shoujo.
Em 2016 a Toei parecia estar mais inspirada em usar a temática do isekai, visto que além de Pop In Q, Mahoutsukai Precure também usou desse conceito. A diferença foi que, enquanto Mahoutsukai Precure seguiu um desenvolvimento narrativo mais único, ainda que dentro dos padrões da franquia, Pop In Q fez algo mais familiar para quem já assistiu ou leu muita coisa do gênero. De fato, um mahou shoujo isekai está longe de ser uma ideia nova (Cadê uma nova adaptação de Rayearth que não anunciam, gente?), tanto que o estilo narrativo de Pop In Q muito se assemelha ao que o ótimo Genmu Senki Leda (1985) fez, em pegar uma jovem que está em forte conflito emocional e é subitamente jogada em um mundo de fantasia onde funcionará como uma oportunidade ideal para superar seus conflitos e amadurecer. Claro, ambos trabalhados sob lentes diferentes, uma vez que Genmu Senki Leda é mais metafórico e artístico, enquanto Pop In Q é mais simples e direto. Porém, ambos buscavam o mesmo objetivo: O 'coming-of-age' das suas personagens. Não à toa Pop In Q se passa exatamente no dia da graduação das meninas, pois é uma forma simples e direta de dizer para o público sobre o que o filme se trata. Todos nós seres humanos passamos por muitas graduações ao longo da vida, que parecem funcionar como um "tempo limite" para resolvermos nossos problemas e dúvidas antes de tal data. A pressão invisível da necessidade de uma mudança é inescapável, seja aos 18 anos, aos 25, aos 30 ou, no caso do filme, o início, de fato, da adolescência.
A protagonista, Isumi Kominato, é uma praticante de atletismo que tenta alcançar seu tempo recorde, sem sucesso, após ter se lesionado em uma disputa oficial da escola e perdido para sua grande rival. Com a graduação chegando, ela terá de se mudar, contra a sua vontade, para Tóquio por conta do trabalho dos seus pais, mas com essa situação interna mal resolvida, ela se recusa tanto a se mudar quanto a se graduar. Entre brigas com a mãe, fracassos esportivos e o tempo se esgotando, ela sente vontade de fugir disso tudo. De forma similar, observamos brevemente os problemas das outras 4 garotas antes do fim do prólogo. Seja na garota cujo pais querem ditar como ela deve se vestir ou o que ela tem que fazer do seu futuro ou na garota isolada que só quer desaparecer do mundo, todas oferecem temáticas bem interessantes de serem abordadas. Infelizmente, no entanto, o fato da obra ser um filme de 1 hora e 37 minutos torna praticamente impossível trabalhar todas as personagens mais o mundo em que elas se encontram com êxito. O filme ainda faz o possível no tempo que tem, a protagonista não só é bem trabalhada como ainda tem um certo plot twist sobre ela na reta final do filme que dificilmente alguém esperaria. As meninas são carismáticas e tem uma dinâmica muito funcional e divertida, o que alivia um pouco o fato de algumas terem ficado subdesenvolvidas, embora isso continue sendo um problema.
O próprio ritmo do filme acaba sendo um problema, problema que você só percebe que é um problema no final. Isso porque ele segue um ótimo ritmo durante sua maior parte, só que é um ritmo que cairia bem em uma série de, no mínimo, 12 episódios. A exemplo disso, as meninas só se transformam na reta final do filme e logo depois já está no fim. Ao menos dá para dizer que houve coragem em fazer um filme de mahou shoujo onde as personagens atuam como mahou shoujo apenas por alguns minutos haha. Mas isso acabou permitindo que a união das garotas soasse verossímil. Além disso, o mundo onde o filme se passa na maior parte do tempo consegue se mostrar um lugar bastante interessante e único, muito graças ao aspecto visual, que é bem apresentado ainda que o contexto da história não desse muita brecha para isso (Postei algumas imagens no meu Twitter). Fora ter conseguido abordar bem sua principal temática e como as garotas meio que estão no mesmo barco, ainda que sejam completamente diferentes umas das outras e mostra relativamente bem o conflito de cada uma delas. Outro ponto de interesse é que ainda que o filme seja curto para as ideias ambiciosas que tinha, os vilões conseguem existir dentro da narrativa de forma instigante, mesmo que não haja uma boa construção por trás. Tenho certeza que a maioria das obras iria recorrer a um vilão raso diante de tão pouco espaço para inserir e trabalhar ideias.
Sendo um filme da Toei, Pop In Q é evidentemente bem animado e tecnicamente exemplar. O CGI das danças é bom, quem assiste Precure já tem uma ideia. E o design de personagem do Kouhaku Kuroboshi é carismático por natureza, o que já ajuda a simpatizar com as personagens. No fim, Pop In Q terminou sendo uma experiência positiva, boas ideias em mãos criativas, mas que sofreu um bocado devido a falta de tempo para trabalhar o que tinha em mãos. Vejo bastante potencial desperdiçado em um bom filme que não pôde ir muito além do comum com essas limitações. O projeto aparentemente deu certo, pois algumas novels foram produzidas através do financiamento coletivo e há a expectativa dos próprias criadores de produzirem uma sequel animada. No final do filme, vemos um teaser do que estaria por vir e eu sinceramente torço não só para que aconteça, mas para que aconteça em condições favoráveis ao que querem fazer narrativamente. Em todo caso, acredito sim que vale dedicar esse tempinho ao filme se você for fã de mahou shoujo. Saraba Da!