• Posted by : Testarossa segunda-feira, 16 de agosto de 2021

     



    Há mais de um ano eu rejoguei Final Fantasy XIII e o analisei aqui no blog, recomendo bastante a leitura já que foi um texto que escrevi com muito gosto e pode te animar a jogar a trilogia caso não tenha o feito ainda. Hoje, trago uma análise da continuação daquele jogo. Nomeado de Final Fantasy XIII-2, o jogo foi lançado em 2011 no Japão e 2012 no resto do mundo, estando disponível no Playstation, Xbox e PC (Onde eu joguei).

    Obs: Essa review conterá spoilers leves, nada que estrague a experiência do jogo em si, mas caso não tenha jogado Final Fantasy XIII ainda e pretenda, recomendo primeiro jogar a prequela para depois ler essa análise.


    Final Fantasy XIII-2 segue pouco depois do término da sua prequela, em um prólogo épico com aquelas cutscenes de encher os olhos que a trilogia possui. Ao mesmo tempo, já levanta muitas dúvidas, visto que o primeiro jogo tem um final relativamente bem conclusivo. Terminando o prólogo, você descobre talvez um dos elementos mais determinantes do jogo: A mudança de protagonista. Essa sequel é protagonizada pela Serah e pelo Noel, os únicos personagens jogáveis do jogo (Há uma terceira vaga na equipe que é ocupada por monstros do jogo que você pode capturar e usar como aliado). Essa mudança atinge não só a experiência do jogador como também boa parte da estrutura narrativa, principalmente quando comparamos com seu antecessor, que era um jogo muito menos linear e muito mais sociologicamente reflexivo, enquanto o XIII-2 é mais direto ao ponto e tradicional. A ironia está justamente no fato da temática de viagem no tempo ser o elemento principal desse jogo, mas ele ainda assim ser bastante linear em termos de história. Admitidamente, a obra não me impressionou muito durante a maior parte do seu percurso, ainda que ela não cometesse erros graves, ela também não demonstrava uma força criativa muito grande, exceto em alguns momentos em especial onde o jogo resgatou a coragem da prequela em trazer abordagens muito menos comuns e muito mais arriscadas. Mas vamos passo por passo, primeiro.



    Logo no início, somos introduzidos à temática de viagem no tempo, que é a grande base de toda a escrita do jogo. A viagem no tempo é crucial para a história, para o lore, para a jogabilidade e até para os temas e filosofias abordadas ao longo da trama. No entanto, o aspecto da viagem no tempo em si funciona em níveis diferentes em cada setor da obra. Vou explicar como foi a execução em cada um dos fatores pois, dada a relevância desse aspecto em todo o jogo, acaba sendo uma forma de enxergar o que a obra buscou fazer e se ela fez bem.
    Para a história, é até que relativamente simples, embora funcional. Noel é um garoto que veio de um futuro distante onde a humanidade já havia sido extinta (Ele era o último sobrevivente) e, com o auxílio da Lightning, encontra a Serah e eles se juntam para tentar reverter esse futuro drástico. É bem legal a ideia de explorar cenários já conhecidos da trilogia sob a ótica de um futuro próximo, distante ou alternativo, por exemplo, pois usufrui muito do popular conceito do "if/e se". Porém, achei que houve pouca variedade de locais exploráveis e soou que faltou um pouco de criatividade, ou talvez até investimento, em algumas partes. Tanto que a história acaba sendo até que curta, deixando a sensação de que dava para esticar um pouco mais. Mas não reclamo muito, pois por outro lado alguns dos problemas do jogo deixavam isso um pouco inviável. Vale dar um destaque aqui: Os finais alternativos são bem interessantes. Final Fantasy XIII-2 acrescenta um sistema de escolhas estilo visual novel, que é irrelevante em 90% do tempo, mas que acrescenta bastante no conceito de viagem no tempo e linhas temporais. Nos 10% restantes é onde o jogo oferece uma série de finais alternativos, alguns até secretos, que você pode buscar após terminar pela primeira vez. Tem todo tipo de final que, vale dizer, não passa de uns extras para quem realmente gostou do jogo, mas também é bacana ver que se dedicaram a aplicar a ideia principal dentro da narrativa.



    Já no quesito lore, eu achei que o jogo encaixou tão bem como uma continuação. Me pareceu um tanto deslocado, o que faz o jogo parecer mais um spin-off do que uma continuação direta. No caso, o jogo em si consegue se conectar com a prequela, mas a prequela não se conecta direito com esse jogo. Apesar disso ser um problema, o lore e tudo sobre viagem no tempo é muito bem trabalhado ao longo da obra. Aqui existe toda uma expansão do universo de Final Fantasy XIII que puxa muitos conceitos e figuras pouco exploradas no primeiro jogo, deixando a construção de mundo muito mais sólida do que já era antes. Então, para mim, acaba tendo mais pontos positivos do que negativos nesse aspecto.
    Mas aí, chegando na jogabilidade, isso acaba se invertendo. Como disse antes, a variação de locais exploráveis é baixa, o que no jogo significa mapas repetidos com só algumas poucas diferenças. Como já diria a velha expressão, ali o jogo "encheu linguiça". Só em uma parte que a repetição de mapa foi executada com maestria, e foi um caso de uma linha temporal caótica e outra pacífica, que consegue trazer esse impacto de visitar um mesmo local em dois contextos completamente diferentes. Nos demais mapas é aquilo, é diferente o suficiente para não ficar repetitivo, mas repetido o suficiente para não te trazer nenhuma excitação em explorar.


    Agora, a parte mais interessante é os temas abordados usando do recurso da viagem no tempo. O jogo fala muito sobre o futuro e como lidar com ele, sobre nossa relação extremamente conturbada com o passado, sobre como esses dois conceitos nos afetam como seres humanos e a nossa natureza e capacidade como espécie. Em diversos momentos o jogo entrega um texto muito bom e reflexivo, em algumas ocasiões te fazendo até pensar nas relações humanas e como nossa própria perspectiva sobre o futuro pode afetá-las. Vejam só, apesar de já ter visto pessoas darem esse conselho antes, a Serah em certo momento fala sobre você aproveitar quem lhe é querido, pois o futuro é incerto e, subitamente, você pode perder a pessoa. É um exemplo forte, mas 9 anos após o lançamento do jogo o mundo se viu em uma pandemia e, infelizmente, muitas pessoas se foram. A obra trazer uma reflexão dessas em cima de uma filosofia sobre o futuro, onde a própria protagonista serve como exemplo, criam momentos impactantes. Então o jogo soube trazer muitas perspectivas dentro desses tópicos e, na maioria das vezes, executou suas ideias muito bem. Apesar dos vários momentos desse naipe, esse não é o padrão mantido durante o jogo todo, uma vez que a história e a jogabilidade que pouco impressionam tomam uma boa parte do foco. Ainda assim, dessa parte reflexiva do jogo eu poderia extrair longos discursos ou até debates, o que demonstra um bom trabalho de apresentação de ideias e uma presença relevante delas na narrativa à ponto de incentivar nossas mentes.


    Falando sobre os personagens de Final Fantasy XIII-2, eu fico parcialmente dividido. A Serah é uma personagem que funciona como uma alusão de como o futuro é maleável e que, em muitos casos, pode ter o rumo que nós queremos, se lutarmos por isso, ela tem desenvolvimento e consegue agregar para as temáticas da obra. No entanto, ela não tem o perfil de uma protagonista e, quando ela assume esse papel, ela acaba não conseguindo acompanhar os demais personagens, de maneira geral. Durante boa parte do jogo, ela não consegue se destacar, não consegue mostrar para o jogador que ela está fazendo a diferença na narrativa, ela só está ali. Sendo justo, ela tem alguns pouquíssimos momentos de real protagonismo, mas acabam sendo casos isolados. Isso torna muito difícil para o jogo contar uma grande história ou odisseia, torna difícil prender a atenção do jogador no jogo e, consequentemente, prejudica a experiência como um todo.
    O Noel, por outro lado, mesmo sendo coprotagonista, tem toda a trama girando ao redor dele e de personagens ligados a ele. É um personagem bem mais carismático que demora para desabrochar na narrativa, mas quando o momento chega, mostra ter muita profundidade e protagoniza alguns dos momentos mais marcantes do jogo. Ele tem um desenvolvimento muito bem dosado, que apesar do 'desabrochar' tardio, está sempre demonstrando algumas camadas extras de tempos em tempos, criando um mistério interessante ao seu redor que, por sua vez, é inteligentemente revelado aos poucos para te manter intrigado e evitar revelar tudo de uma vez só.


    Entretanto, o maior destaque está no antagonista da história, Caius. Sua acompanhante, Yeul, é uma boa personagem que não tem lá um destaque tão grande, mas ainda assim é bem trabalhada. Mas ele é o grande destaque do jogo, em todos os sentidos possíveis. Um antagonista muito bem escrito, que entrega um pacote completo que passa pela sua presença incrivelmente impactante, sua personalidade memorável, um design de personagem único e músicas tema simplesmente fantásticas. Claro, muito da força do personagem vem do seu carisma e de como ele cumpre sua função como antagonista. Seu grande objetivo é, ironicamente, algo bastante clichê, mas que é executado de forma tão certeira e grandiosa que impressiona. É um personagem incrível.
    E aproveitando rapidamente para falar de algumas partes técnicas: O jogo é bem bonito normalmente, mas não tanto pela qualidade gráfica (Que é boa), mas sim pela direção de arte que entrega muitos momentos de encher os olhos. Claro, as cutscenes pré-renderizadas são impecáveis, não cabe nem citá-las aqui (Até porque tem poucas). A trilha sonora é excelente e ajuda demais na ambientação. Quando combinada com a ótima direção de arte, consegue oferecer momentos bem sensoriais e imersivos.


    Partindo para as considerações finais, pois acho que acabei me estendendo demais já. O jogo é muito bom, não no nível da prequela, mas ainda assim um bom jogo. Vale um destaque para o final, que é um dos finais mais marcantes que eu vi nos últimos anos, realmente uma maneira inesquecível de se fechar uma história. E um destaque para batalha final que me custou mais de uma hora de tentativas, mesmo sendo a segunda vez que eu jogo, por ser bem desafiadora (O jogo como um todo não é tão difícil assim, mas definitivamente não é fácil). Ainda que seja o que menos gosto da trilogia, foi uma experiência positiva o bastante para que eu me animasse em rejogar (Ser o mais curto dos 3 também ajuda, batendo aí umas 25 horas de duração).
    Digo aqui, no entanto, que se você tiver como jogar em um console, jogue, pois o porte para PC é tenebroso. Se só tiver o PC, que é o meu caso, pode ser que não funcione tão bem, apesar de ter alguns meios, criados pela comunidade, de melhorar o desempenho do jogo.
    Então é isso. Final Fantasy XIII-2 é uma boa sequência de um excelente jogo, deixa a desejar em alguns pontos, mas consegue superar os reveses e entregar uma experiência positiva. Recomendo bastante. Saraba Da!

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