• Posted by : Testarossa segunda-feira, 19 de outubro de 2020

     


    O episódio 3 de Majo no Tabitabi era um que eu fiquei ansioso para assistir depois de dar uma olhada na prévia dele. Na review do episódio anterior, eu comentei sobre como eu senti que o episódio estava um tanto corrido em algumas partes, mas eu acreditava que seria um caso a parte, já que o capítulo adaptado no episódio 2 era o segundo maior do livro (28 páginas). Eu imaginava que, acrescentando coisas originais para estender a história de cada capítulo o bastante para caber em um episódio inteiro caso necessário, a staff iria adaptar um capítulo por episódio. Quando assisti a prévia desse episódio 3, notei pelo título que iriam adaptar dois capítulos (2 e 6), que isoladamente são até relativamente curtos (11 e 15 páginas), mas que agora, juntos, teria praticamente o mesmo tamanho do capítulo adaptado no episódio 2, sendo que agora seriam 2 histórias em 1 episódio. Bem, o resultado era parcialmente previsível, o episódio ficou corrido em algumas partes. A diferença é que a staff optou por encurtar o capítulo 2, que já era curto, para poder trabalhar o capítulo 6 com mais precisão. Isso é bem facilmente perceptível quando se assiste ao episódio, mas tá aí o contexto por trás dele.



    Na primeira parte do episódio, "Ela Que é Amável Como Uma Flor", a Elaina encontra um gigantesco e belo campo florido, lá cruzando caminho com uma mulher que lhe pede para entregar um buquê de flores para qualquer pessoa no país para onde a viajante se dirigia. No entanto, mal ela esperava que aquilo havia sido basicamente uma armadilha, já que as flores expeliam uma magia que deixavam humanos normais insanos, segundo os guardas que abordaram ela, um deles muito agitado devido a sua irmã desaparecida. A fábula trabalha em cima da ideia de que a beleza nem sempre é algo seguro, não é porque uma rosa é bela que ela deixa de ter espinhos. É inegável que a beleza, por mais subjetiva que seja, é algo que nos faz instintivamente abaixar a guarda, seja com pessoas, animais ou objetos. A natureza é repleta de elementos assim, tais como lindos animais ou insetos de cores chamativas que, no fim das contas, possuem aquela forma justamente para atrair a presa e envenená-la. É um tema interessante que essa primeira parte do episódio trabalha de maneira bem pontual e concisa.

    O outro ponto desse episódio foi colocar a protagonista em uma situação de perigo pela primeira vez e mostrar como ela reagiria, principalmente tendo em vista 2 das 3 promessas que ela fez com a mãe no episódio 1 (Fugir se a situação ficar perigosa e nunca se ver como alguém especial). Quando ela pondera sobre histórias de plantas que ganharam autoconsciência após absorver magia, cria suspeitas e decide ir investigar logo na manhã seguinte, já era tarde demais. O guarda que procurava pela sua irmã conseguiu encontrá-la, mas não só ela havia sido completamente engolida pelas plantas, como ele também já estava além do ponto de ser salvo. A Elaina não demonstra nenhuma expressão facial diante da situação, porém, e aqui eu demonstro minha admiração pelo trabalho que a staff faz, ela demonstra bastante através da linguagem corporal da Elaina, fora a linguagem visual. Em uma cena super curta e praticamente sem diálogos a protagonista acessa a situação, verifica o estado mental do guarda, pondera por um momento e, então, pensa em se arriscar e tentar salvá-lo, mesmo tendo em mente que magia só alimentaria mais ainda as flores, mas percebe que o corpo do guarda já está sob posse das plantas, fazendo ela mudar de ideia e ir embora. Detalhes assim enriquecem a narrativa, e contextualizam as cenas sem precisar recorrer a exposição. Por exemplo, ao chegar no país, os guardas estão mascarados, mostrando que eles já tomavam precauções contra as flores (Tanto que já sabiam sobre ela e seus efeitos), ou então mostrarem que os guardas queimarem as flores fez elas liberarem a sua magia pelo ar, o que explica os segundos finais dessa parte com uma tragédia de larga escala anunciada. Também mostra que provavelmente não havia o que fazer em relação as flores, uma vez que magia seria ineficaz e queimá-las só pioraria a situação. É uma curta história onde realmente não há espaço para final feliz, tal como é o caso da outra história desse mesmo episódio.



    Na segunda parte desse episódio, "Felicidade em um Jarro", a Elaina conhece um garoto que está usando magia para coletar a felicidade alheia dentro de um jarro, para presentear a garota que ele ama e deixá-la mais alegre. Ela descobre que a situação era muito mais complexa do que parecia, ao descobrir que o garoto era filho do chefe de uma vila, e que a garota em questão, Nino, era uma escrava. Novamente, por mais que a escrita dessa história consiga deixar claro as várias nuances em diversos momentos seja pelos diálogos ou pelas situações em si, a equipe de animação potencializou as cenas, inserindo detalhes que tornava o contexto bem mais sombrio do que já era. A Elaina sentiu a atmosfera desagradável, notou a índole do chefe da vila assim que se conheceram, quando o olhar dele foi, logo de cara, no corpo dela e só confirmou o que desconfiava ao dialogar um pouco com ele e o ver ficar agressivo com a Nino.

    Diferente da parte anterior, no campo florido, onde a Elaina conteve suas emoções, aqui vemos claramente o desconforto dela através das suas expressões, além de ser notável que ela cogitou simplesmente atacar o chefe da vila quando ele ficou agressivo, mas acabou se controlando. Sendo racional, ela entendeu que nada que ela fizesse iria reverter a situação para algo positivo e ainda poderia colocar todo mundo em risco, incluindo ela mesma. Aquela era uma história sem alternativas positivas, principalmente por conta do tal jarro de felicidade que o garoto iria dar para a Nino independente de qualquer coisa, pois é onde a moral da história entra: atos de gentileza podem se tornar algo nocivo se você não levar em conta como a outra pessoa realmente se sente. Isso é ainda mais verdade quando se trata de uma pessoa depressiva, pois um ato descuidado, mesmo na melhor das intenções, pode afundar a pessoa ainda mais na própria depressão. Se a pessoa estiver em uma situação muito delicada, é de suma importância pensar muito bem no que você vai fazer por ela, ou se realmente deve fazer algo. É como uma bomba relógio, se for para agir e cortar o fio para desativá-la, que faça isso sabendo qual fio cortar. No fim, a Elaina se lembra de uma história onde um homem trás histórias sobre os incríveis lugares que visitou para sua esposa doente que não podia sair da cama a fim de deixá-la feliz, mas que acabou tendo o efeito reverso e, ao que a linguagem visual do anime indicou, ela cometeu suicídio. Isso era claramente uma alusão a história do garoto e da Nino, onde um take na sombra dos dois mostra que, ironicamente, talvez o jarro de felicidade tenha sido o empurrão final. Porém, a história termina em aberto, uma vez que a Elaina reconhece o quão emocionalmente pesado o desfecho provavelmente será e reflete sobre não querer voltar ali novamente.



    Esse terceiro episódio trouxe duas histórias bem sombrias, com mensagens bem interessantes, além de nos mostrar uma outra face da protagonista, muito mais movida pela razão do que pela emoção ou pelo senso de justiça. Os tons cinzas da moralidade da Elaina fazem jus ao seu título de "Bruxa Cinzenta", mostrando muito bem que ela é afetada pelas situações que passa sem precisar dos monólogos, apenas de reações (Ou quase-reações) sutis, mas que consegue controlar suas emoções o bastante para se fechar e não agir de maneira precipitada ou irresponsável, ainda que isso signifique dar as costas para o sofrimento alheio em alguns casos. Muito bom episódio, apesar dos deslizes na primeira parte. Saraba Da!


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