Se sentir socialmente excluso já é algo bem desagradável por si só, adicione aí o fato das pessoas ficarem falando de você pelas costas (Mesmo que não seja nada necessariamente maldoso) e nunca realmente fazendo qualquer esforço para falar com você, pronto, temos uma receita muito efetiva para uma pessoa desenvolver vários problemas sociais e/ou psicológicos. Esse era o caminho que a Kokone Fuwa estava seguindo até chegarmos a segunda metade desse episódio 4.
A construção da personagem ao longo do episódio foi bem satisfatória, pois a Kokone passa por todo o processo de crescer em um ambiente familiar com pouco contato humano, inevitavelmente ganha uma certa fama por conta do seu nome e família, vê que a maioria das pessoas ou falam sobre ela pelas costas ou tem segundas intenções para falar com ela e acaba desenvolvendo essa preferência por simplesmente ficar sozinha. A questão é, bem ou mal o ser humano é uma raça social, em uma utopia onde todo mundo é uma Yui, todos iriam querer ter seus grupos de amigos, estar com familiares ou em relacionamentos.
O problema é que as coisas não são assim, muito pelo contrário, daí é melhor ficar quieto na sua do que se envolver e se machucar ainda mais. Enquanto isso, do outro lado, a Yui já começa a tentar se aproximar da Kokone, pois afinal, nesse anime existe, de fato, uma Yui. Eu gostei que o anime mostrou essa dificuldade de conexão entre a realidade da Yui e a realidade da Kokone, era apenas natural que a Yui não fosse conseguir se aproximar tão facilmente da Kokone devido ao contexto social em que elas estavam inseridas. A Yui é benquista, popular, mas também a princípio não estava "tentando" o bastante, caindo no sono durante a aula ou se distraindo com outras coisas. Mas como aquilo estava atingindo ela, na primeira grande oportunidade que surgiu a Yui a agarrou com veemência. Em circunstâncias como essa uma oportunidade das duas poderem estar na mesma sintonia é raro, algo como fazer alguma atividade juntas seria uma dessas raras oportunidades.
A Kokone queria ajudar um coelhinho que fugiu do seu cerco a voltar para lá, mostrando mais uma vez a sua ligação com os animais, já que eles não os mesmos comportamentos desagradáveis dos seres humanos. Já que temos essa necessidade de ter ali um contato ou afeto, ainda que prefiramos ficar sozinhos, ter um bichinho por perto pode suprir essa necessidade. Mas ali a Kokone sentiu melhor o que era fazer uma atividade com outra pessoa, ainda mais alguém de intenções puras como a Yui. Ainda assim, ela é uma pessoa mais fechada, então só com a pressão da fofura da Pam-Pam a Kokone enfim decidiu se juntar a Yui. E não tem jeito, as pequenas ações são muitas vezes o fator determinante para você sentir as intenções da outra pessoa com você. Seja no diálogo ou em coisas como dividir a comida que ela tanto preza para que as duas pudessem ter essa mesma experiência, as ações da Yui acabam quebrando esse gelo da Kokone, pois como eu sempre venho dizendo, ela tem uma inteligência emocional para lidar com os outros.
Quando chegamos na parte da ação do episódio, com a Kokone invadindo o espaço do Mary graças a ajuda de Pam-Pam, eu tive outra grata surpresa. A Kokone descobre que a Yui é a Cure Precious e, ao invés de imediatamente querer ajudá-la ou algo do tipo, ela questiona primeiro porque ela está lutando. Entender a situação primeiro para só aí definir certo ou errado e escolher seu lado deu uma profundidade a mais para a construção da personagem, que provavelmente passa aí por um amadurecimento precoce, devido a um possível afastamento dos pais e uma possível infância bem curta.
Ao menos, é a sensação que fica até que confirmem a história de vida da Kokone. Em todo caso, entendendo pelo que cada lado está lutando ali, a Kokone enfim decide que quer fazer parte dessa trama e se transforma da Cure Spicy. Um detalhe interessante que eu chuto que não irá se manter ao longo do anime é a de fazer os monstros da semana ficarem mais fortes conforme capturam mais recipeppis, o que justificaria a Cure Precious estar tendo problemas na luta justo no episódio em que uma nova Cure aparece.
Agora com uma nova integrante no grupo, só ficará faltando mais uma para fechar. Que inclusive esteve participante em um momento do episódio, o que é uma construção narrativa que me agrada mais do que introduzir a personagem no mesmo episódio em que ela se transforma. Pela prévia do próximo episódio, a Kokone não vai simplesmente passar a ser amiga de todo mundo e felizes para sempre, mas sim ainda terá de superar essa barreira social que a cerca antes de realmente virar amiga da Yui e do Mary. O que seria outro grande acerto. A narrativa estar sendo conduzida com calma e precisão está sendo algo muito elogiável e torço para que mantenham essa pegada até o fim do anime. Por fim, a transformação e ataque estavam belíssimos, para variar. Ainda que a direção do anime não tenha entregado muita coisa, a animação tem sido bem agradável de acompanhar, tendo algumas sequências muito bem animadas aqui e ali, até fora das transformações. Belo episódio, hein? Agora é assistir ao 5 e ver o que me aguarda. Saraba Da!