• Posted by : Testarossa terça-feira, 8 de março de 2022

     


    Eu não sei vocês, mas eu particularmente gosto bastante de obras de ação e/ou aventura protagonizados por uma mulher. Na verdade, na maioria dos gêneros isso acaba sendo um diferencial para mim. E ás vezes é curioso que, mesmo que seja uma obra sem nada de novo para oferecer e com uma personagem principal insossa, ainda assim soa um pouco diferente das demais obras, na minha opinião. Mas é justamente isso, há uma diferença, que é a figura central de uma mulher na história. 

    A velha noção de que obras de ação são para garotos e obras de romance são para garotas já se perdeu a muito tempo, a maior prova disso é que temos tido inúmeras obras de romance protagonizadas por personagens homens nos últimos 10 anos. Mangás shounens de romance têm se tornado uma certa tendência e light novels com uma pegada similar já vêm sido lançadas aos montes desde meados dos anos 2000. No entanto, quando olhamos para o outro lado, as obras de ação/aventura/outros gêneros protagonizadas por mulheres tem sofrido para se tornar algo comum. 



    Mas como eu dei a entender na primeira frase desse texto, não é como se não existisse. Recentemente, em live, eu joguei alguns jogos protagonizados por personagens femininas como Child Of Light, Hellblade: Senua's Sacrifice, A Plague Tale: Innocence ou NieR:Automata. Uma das minhas franquias favoritas é a de Metroid, que foi um dos primeiros jogos na história a colocar uma protagonista mulher, ainda que com algumas ressalvas, lá nos anos 80. A própria franquia de Tomb Raider alavancou a Lara Croft como uma das personagens femininas mais memoráveis dos jogos... Ainda que não tivesse muita concorrência na época. Até quando entramos em um tópico mais controverso, como isekai, vemos que uma das obras que conseguiu esse apreço maior, mesmo em meio a tanta desconfiança, foi justamente o que era protagonizado por uma garota, que no caso foi Honzuki no Gekokujou, ou Ascendance of a Bookworm. A obra conseguiu o feito de ser licenciada aqui no Brasil, pela NewPop, sendo ambos o mangá e a light novel. 



    Mas, no fim das contas, são bem poucas obras que podemos encontrar. Se alguém for assistir um anime se baseando no top 100 do MyAnimeList, que infelizmente é uma das referências mais populares para quem curte a mídia, a pessoa vai achar, no máximo, 5 obras protagonizadas por mulheres dentre essas 100. E não é nem totalmente por uma questão de gostarem ou não de obras assim, mas sim que essa é mais ou menos a proporção dos lançamentos de obras protagonizadas por homens ou mulheres. Como alguém que tem uma facilidade maior de se identificar com personagens femininas e que não é muito fã de romance, eu busco aproveitar ao máximo cada uma das poucas oportunidades de consumir obras assim. Mas é como jogar Visual Novels, existem dezenas de milhares de VNs por aí, mas se você só sabe português, suas opções ficam limitadíssimas. 



    Algo que eu prezo bastante e que ajuda a quebrar um pouco dessa limitação das obras são os jogos que permitem você criar seu personagem, ou ao menos escolher entre homem ou mulher. A trilogia de Dragon Age é, talvez, o exemplo perfeito do que eu gostaria de dizer nesse post. O primeiro jogo, Dragon Age Origins é um dark fantasy, uma fantasia sombria, no melhor estilo Berserk de ser (Ou não, nunca li Berserk, mas o que já vi e ouvi falar da obra me diz que a comparação é bem válida) e podemos criar uma personagem mulher para ser a protagonista. A história toda se molda ao redor da personagem que você criou, então você realmente consegue experienciar essa jornada da forma que você gostaria. Não à toa das quatro vezes que eu joguei, três foram com personagens femininas (Já nas duas continuações, joguei 4 vezes com 4 personagens femininas). Dragon Age II opta por uma fantasia urbana, se passando a maior parte do tempo em uma cidade e com tramas mais pessoais, seguindo a mesma linha do primeiro na hora de criar seu personagem. Por fim, Dragon Age Inquisition assume a narrativa da fantasia épica, da odisseia, no estilo Senhor dos Anéis. 



    Querer uma obra de qualquer um desses 3 tipos com uma mulher nos holofotes é uma tarefa complicada, mas graças a jogos como Dragon Age, isso é muito possível. E nisso podemos encontrar diversos jogos que te dão essa opção, como a franquia de Monster Hunter ou o recém-lançado Elden Ring. Tem também os jogos que são mais limitados, te deixando escolher apenas o gênero, ou um personagem fixo, mas que ainda sim te dá a opção e isso já é um bom começo. Eu gostei bastante de 7th Dragon 2020 por conta disso, pois pude escolher uma personagem dentre algumas opções que o jogo te dá e ter essa experiência na minha jogatina. Em Fate/Extra aconteceu o mesmo, exceto que o jogo só te dá a versão masculina ou feminina do mesmo personagem. E aqui mora a grande problemática que me faz ter que escrever um texto desses: Em uma adaptação em anime de Fate/Extra, onde tem que escolher entre os dois, eles obviamente optam pelo protagonista masculino, algo que é o procedimento padrão na maioria dos casos, porque suspostamente é o "certo". É só tomar Genshin Impact como exemplo, onde te dão a opção de escolher entre o Aether (Protagonista masculino) ou a Lumine (Protagonista feminina), mas tudo quanto é material promocional é usado apenas o Aether, ao ponto de fazer quem joga com a Lumine se sentir excluído ou até mesmo "errado" por ter optado por uma personagem principal mulher. 



    Quando falamos de outros tipos de mídia, poder escolher o protagonista ou criar seu próprio personagem deixa de ser uma opção. No entanto, ao menos no caso da cultura pop japonesa, a gente tem alguns meios de escapar um pouco desse buraco. A exemplo, posso citar o subgênero mahou shoujo, ou garotas mágicas como preferir, que é basicamente centrado em ter uma protagonista mulher, alguns outros conceitos um tanto abstratos e com espaço para apresentar qualquer tipo de história imaginável. Então dá para se ter uma fantasia épica em obras como Magic Knight Rayearth. Dá para se ter fantasias urbanas em obras como Chikyuu Shoujo Arjuna. Dá para se ter fantasias sombrias em obras como Puella Magi Madoka Magica. A franquia de Precure é uma excelente opção para quem quer algo mais leve, mas com ação em todo episódio e uma boa dose de temas relevantes sendo abordados e boas mensagens sendo passadas. São mais de 15 anos dando o protagonismo para as garotas, as colocando com o papel do herói nas histórias, algo até abordado em uma de suas temporadas mais recentes: Hugtto Precure (2018), onde a protagonista nos entrega a frase "Garotas também podem ser heróis!". Pois sim, podem e devem, a variedade é um elemento importante, afinal. 

    Em Mahou Shoujo Lyrical  Nanoha a ação é tão intensa quanto em qualquer battle shounen da vida que vemos sempre por aí, em Shoujo Kakumei Utena a narrativa metafórica e psicológica é tão profunda quanto qualquer seinen desse tipo pode ser, até Kamikaze Kaitou Jeanne que é bem mangá shoujo te entrega uma protagonista memorável e com momentos de glória e de queda, tendo o romance só como uma (grande) parte da narrativa. E claro, não dá para passar por um trecho falando de mahou shoujo sem citar Sailor Moon, uma série que reforçou muito toda a ideia que eu venho comentando aqui nesse post. 



    O fato é: Ainda precisamos evoluir muito nesse quesito. Obras de esportes femininos é algo que é muito escasso, por exemplo. Mas existem opções, sim, e acho que vale a pena prezá-las. Seja um filme como Kill Bill ou um livro como Alice no País das Maravilhas, seja um jogo como Final Fantasy XIII ou um mangá como Hime-chan no Ribbon, seja um anime como Black Rock Shooter ou uma light novel como Kusuriya no Hitorigoto, o primeiro passo a ser dado por nós consumidores é... Bem, consumir. Não estamos tão bem de representatividade, é evidente, mas ao menos ainda temos algumas opções disponíveis. 

    Pois bem, para fechar o assunto, vou trazer meu top 5 protagonistas mulheres e convido a todos a fazerem o mesmo. O critério é simples: Ser protagonista de uma obra que não tenha o foco em romance. Não precisa ter ordem específica. Pode ser de qualquer mídia! Então, vamos lá.


    Lightning Farron (Final Fantasy XIII)


    Apesar de eu sempre ter tido muita vontade de jogar o Final Fantasy XIII, quando eu finalmente pude, tive uma grande surpresa ao entender o quão memorável a Lightning era como personagem. Você cria uma certa expectativa de que ela seja uma personagem badass e intocável, mas descobre que ela é falha como qualquer ser humano, que tem seus conflitos e que não só os resolve, como cresce como pessoa ao longo do primeiro jogo. Chegar ao final da jornada dela é até tocante, de certa forma, pois mostra uma personagem com um desenvolvimento e construção fantásticos. 


    Reimu Hakurei (Touhou Project)


    O pilar central do universo de Touhou, do mundo de Gensokyo, a Reimu é uma personagem de carisma rivalizado apenas pela co-protagonista da obra, Marisa Kirisame, e mesmo após mais de 25 anos de franquia, parece simplesmente impossível cansar de ter a Reimu como a principal figura de Touhou. A sacerdotisa é única em personalidade e postura dentro da obra, criando essa persona de alguém que não parece levar as coisas muito a sério, mas está sempre lá para eliminar os youkais com êxito sempre que causam problemas.


    Wakaba Nogi (Nogi Wakaba wa Yuusha de Aru)


    Uma coisa que eu gosto bastante de acompanhar é uma personagem que precisa superar seus próprios defeitos para alcançar um objetivo que muitas vezes ela nem sabe que precisa buscar ainda. A Wakaba vai ainda além, passando por uma ascensão de alguém até que egoísta por um desejo cego por vingança até chegar na figura de uma heroína, enfim assumindo a responsabilidade social que ela precisa ter com as pessoas ao redor dela, uma vez que ela é uma das únicas com o poder de trazer conforto para os necessitados.


    Utena Tenjou (Shoujo Kakumei Utena)



    A Utena é uma personagem que eu adorei mais do que eu previa. Complexa, ela é uma personagem fisicamente muito privilegiada, ao ponto de conseguir combater os duelistas mesmo sem ter a experiência necessária. Porém, psicologicamente ela é inocente e vulnerável, o que é natural para alguém da idade dela, mas que a torna um alvo fácil para gente mal-intencionada. O crescimento dela é espontâneo, ao ponto em que você chega no final do anime com uma sensação de satisfação evidente, vendo o desfecho da jornada de uma baita personagem. 


    Vivio Takamachi (Mahou Shoujo Lyrical Nanoha ViVid)


    Nanoha é minha franquia favorita de todas as mídias, mas apesar da protagonista que dá nome a obra ser uma personagem incrível, é a protagonista de um spin-off que realmente mais me apeteceu. A Vivio é uma menina que passa por um desenvolvimento longevo, que começa em Mahou Shoujo Lyrical Nanoha StrikerS e termina no final do mangá Mahou Shoujo Lyrical Nanoha ViVid, podendo até ser considerada suas participações em ViVid Strike!. Entretanto, é no mangá que ela assume o papel de protagonista e brilha muito nele. É uma garota que tem quedas e quedas, mas está sempre se superando e buscando ir além, obtendo um amadurecimento respeitável e satisfatório.


    E bem, acho que é isso. Quis aproveitar a data para levantar essa questão e também trazer diversos títulos que quebram um pouco esse problema social que temos. Mas mais do que isso é que passar de meia-noite não significa parar de falar sobre o tema, por isso o post aqui estará dentro do quadro de tops, para sempre ser encontrado quando entrarem na tag. Espero que se torne cada vez mais comum o protagonismo das mulheres nas obras que não necessariamente são focadas em romance, pois querendo ou não fazer algo de diferente, mesmo que a história ou outros elementos não sejam novidade, já é uma escolha elogiável. Eu, ao menos, considero como um critério positivo a mais quando uma obra tem essa irreverência. Enfim, não deixem de citar aí seus tops pois podem acabar servindo de recomendação pra mim também, independente da mídia. Saraba Da!

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