• Posted by : Testarossa quinta-feira, 21 de junho de 2018


    Anime e mangá desde muitas décadas atrás criaram um jeito peculiar de separar suas obras que perdura até os dias de hoje. As demografias shounen, shoujo, seinen, josei e o muito menos usado kodomo surgiram para facilitar a separação de certos tipos de conteúdo e escrita de uma demografia para outra, especificando um publico alvo para consumir o tipo de obra "ideal" para sua faixa etária.
    Isso foi algo que foi mudando com o passar dos anos, com obras de cada demografia ganhando maior liberdade artística para produzir certos tipos de conteúdo sem necessariamente precisar migrar para outra demografia, principalmente em casos como shounen e seinen.

    Chegamos até aqui sem problemas, certo? No entanto, é aí que as coisas mudam. Com a chegada do século 21 e a internet ficando cada vez mais acessível para muita gente, animes e mangás começaram a ganhar popularidade no ocidente, mas pegar uma cultura completamente diferente que tem seus próprios sistemas e trazer para cá inevitavelmente renderia problemas cedo ou tarde.
    Tudo começa com as definições de shounen, shoujo, seinen, josei e kodomo. As até então demografias que tinham seu próprio propósito no Japão, começaram a serem usadas como gêneros aqui no ocidente. Demografias e gêneros são coisas completamente diferentes, por isso a ideia de um "gênero shounen" não só é errada por não existir, como cria toda essa desinformação que gera comentários incrivelmente sem sentido. Como eu já expliquei no meu post sobre Seinen, o problema chegou longe o bastante para ter inúmeras pessoas achando que violência, sangue e conteúdo sexual são sinônimos de obras seinens.
    Demografias não tem nenhum compromisso com o conteúdo da obra em si, por isso obras como Akame ga Kill! e To Love-Ru são tão shounens quanto Boku no Hero Academia e Haikyuu!. Muita gente mesmo ao descobrir sobre essa diferença, ainda insiste na suposta existência dos gêneros shounen, seinen e etc. Mas essa ideia apenas cria um desserviço para a própria mídia em si, espalhando informações falsas que acabam se contradizendo múltiplas vezes.

    Infelizmente existe essa mentalidade aqui no ocidente de querer se sentir "dono da verdade" ou "dono da mídia" em si. Graças a isso hoje temos muita gente que usa as demografias como gêneros e tentam aplicar em qualquer mídia, o que é outro erro que vejo acontecer muito.
    As demografias só são usadas por mangás apenas, que tem suas mais diversas revistas voltadas para públicos diferentes. Adaptações em anime desses mangás herdam as mesmas demografias, claro, e por tantos anos de história acaba fazendo parte da mídia também. Mas acaba aí, demografias não devem ser aplicadas em outras mídias ou animes originais/adaptações dessas mídias.
    Por exemplo, vejo muito constantemente pessoas rotulando light novels, visual novels e suas adaptações como "shounen", "shoujo", "seinen" ou "josei", o que é absolutamente errado. Essas mídias não possuem demografia específica e o seu sistema de publicação/criação são completamente diferentes.
    É óbvio que aqui no ocidente ninguém dá a mínima para o que realmente está correto ou errado, só querem falar o que bem entendem e ver o circo pegar fogo. Mas mesmo assim, darei um breve exemplo de como esse erro poderia dar errado comercialmente falando lá no Japão.

    Se você leu o post sobre seinen que eu escrevi, viu a explicação sobre o Furigana. Crianças e adolescentes japoneses ainda estão aprendendo os Kanjis mais comuns usados no seu país, por isso, obras das demografias shounen, shoujo e kodomo obrigatoriamente precisam conter o Furigana, caso contrário elas não conseguirão ler. Agora imagine nosso querido sabichão da internet-san vendendo uma light novel ou visual novel como uma obra shounen. LNs e VNs não possuem Furigana, exceto em palavras bem específicas ou termos da própria obra que aparecem muito ocasionalmente. O jovem adolescente que comprou a obra não conseguirá ler e aí teremos um cliente insatisfeito e um possível reembolso.
    Traduzindo para algo mais compreensível, imagine você comprar um livro que se vende como algo que usa os termos mais básicos de uma língua que você ainda está aprendendo, mas quando você vai ver ele usa todo tipo de termo, até os mais complexos. Você não iria gostar, certo? Então vamos parar de pegar uma cultura que não é sua e inventar suas próprias regras pessoais para a produção delas?

    A verdade é que demografias nada mais são que faixa etárias, e as revistas produzem o tipo de conteúdo que certa faixa etária costuma consumir. Por isso, a demografia shounen, por exemplo, acaba sendo um aglomerado de gêneros que pode variar com o passar dos anos. Ou seja, shounen não é uma obra focada em ação, assim como uma obra focada em ação não é um shounen, mas esse é um dos gêneros que a demografia normalmente produz, pois é o que os jovens gostam de ler.

    Resumindo, parem de usar demografias como gêneros, isso não existe. E parem de rotular qualquer obra que tenha certo tipo de conteúdo como uma demografia (Tratada como gênero), pois está errado. Se usássemos essas demografias de maneira correta, ou seja, da maneira que elas originalmente foram criadas, não teria tanta coisa sem sentido e despejo de ódio desnecessário. Saraba Da!

    { 1 comentários... read them below or add one }

    1. Quando comecei a assistir animes fiquei até confuso pq a maioria das pessoas com quem conversava sobre usa demografia como um gênero mas parando para pesquisar mas afundo descobri que não era bem assim

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