• Posted by : Testarossa sábado, 20 de novembro de 2021

     


    Como um grande apreciador de ambos light novels e animes, é duro ver como boa parte das adaptações acabam dando errado. Não é algo desastroso como é com as adaptações de visual novel, mas ainda assim boa parte das adaptações não conseguem sequer se destacar. As adaptações que se destacam, na maioria das vezes estão fazendo algo de diferente na sua produção em comparação as demais adaptações de LNs. Hoje quero comentar um pouco sobre a minha visão do assunto, onde está dando errado e o que poderia ser feito para melhorar. Antes, caso queira ler um pouco mais à fundo sobre light novels e web novels, tem um post desse tema aqui no blog: "Sou Nan Da! #06 - Novel, Light Novel e Web Novel"

    É necessário dizer que muito dessa questão vai além do nosso gosto pessoal sobre o conteúdo das obras em si, então talvez eu cite como exemplo positivo uma obra que você ou eu não gostamos, mas que teve uma produção que buscou criar um material animado que fosse uma adaptação digna e por isso se destacou. O texto não é para discutir a qualidade das obras em si, mas sim qual o processo que tornou essas adaptações algo notável ou esquecível de um ponto de vista técnico. 


    Ritmo



    O ritmo talvez seja o fator que mais impacta essas adaptações, pois acaba prejudicando muito o desenvolver da obra. A indústria está acostumada a adaptar mangás e não se adequa aos diferentes tipos de mídias na hora de produzir uma adaptação. Isso faz com que todas as outras mídias costumem ter adaptações que variam de medíocres para ruins, com algumas exceções que normalmente ou fazem algo de diferente ou funcionam por circunstâncias específicas. Isso inclui não só as adaptações de light novel, mas também de visual novel e de jogos. Existe um certo padrão que é o de tentar adaptar sempre 3 ou 4 volumes de uma light novel em 12 episódios, com alguns aventureiros arriscando 5 ou 6 volumes e uns raros conscientes que adaptam apenas 1 ou 2. Acontece que um volume de light novel costuma ter bastante conteúdo, muitas vezes conteúdos importantes para a narrativa funcionar direito. A fim de comparação, as boas adaptações em mangás de light novels costumam usar em média cerca de 12 a 15 capítulos mensais por volume e as boas adaptações de mangás mensais costumam adaptar 2 a 3 capítulos do mangá por episódio. Ou seja, uma adaptação em anime de 12 episódios de um mangá mensal geralmente vai adaptar entre 20 e 30 capítulos do mangá, o que é uma média boa. 20 a 30 capítulos de uma adaptação em mangá de uma light novel daria mais ou menos 2 volumes de conteúdo, então colocando em comparação, uma adaptação em anime de light novel padrão estaria adaptando o equivalente a 50 a 60 capítulos de um mangá mensal, o que é um absurdo. Existem raríssimos casos em que esse ritmo pode funcionar, como OreGairu, mas não dá para fazer da exceção a regra. Animes que adaptam 1 ou 2 volumes por temporada costumam funcionar muito melhor, como é o caso de Rokka no Yuusha ou Slayers. Ou o exemplo perfeito, que é Hai to Gensou no Grimgar, que dedica 8 bons episódios para adaptar o volume 1 e o faz muito bem, mas dedica os 4 últimos para adaptar o volume 2 e acaba ficando corrido.

    Acredito que a adaptação por volume acabe sendo um pensamento contra produtivo para as obras, pois acaba sendo metódico demais. "São 12 episódios, então divide 3-4 episódios por volume e pronto", quando na verdade deveriam dedicar o número de episódios necessário para o conteúdo que o volume oferece, se precisar de 5 episódios, usa 5, se precisar de 6, usa 6. Mas aí entra um problema que falarei mais para frente. Além do ritmo, outro aspecto muito relevante, talvez o mais relevante é a apresentação.


    Apresentação


    A forma que a adaptação é apresentada muitas vezes deixa a desejar e isso tira um brilho que ela poderia vir a ter, independente do seu conteúdo. Por apresentação eu estou incluindo a direção, a animação, todo o aspecto artístico visual que a obra pode ter. São coisas que fazem muito a diferença e isso é visível em adaptações como a de KonoSuba, Re:Zero ou até Mushuku Tensei. Existe um grande capricho da staff desses animes que as fazem se destacar de outras obras do mesmo nicho. Adaptações como 86, que usam de simbolismos visuais que conversam com a narrativa da novel tornam essas adaptações obras próprias, que existem como algo além de uma propaganda do material original. Mahouka, por exemplo, é uma adaptação que conversa muito mais com quem leu a novel do que com quem está tendo seu primeiro contato com a obra através da animação. Boa parte das adaptações só tentam repassar o que está nos livros em forma animada e, somado ao problema de ritmo citado acima, acabam perdendo muita individualidade e se tornando uma experiência esquecível. Não há espaço para diretores ou animadores talentosos brilharem, monólogos importantes dos personagens e partes da narração contendo informações cruciais são cortados por não ser só jogar na tela e pronto. Os funcionários que pegam esses projetos certamente nem tem liberdade (Ou tempo... Provavelmente os dois) para fazer algo diferente. Você pode pegar Mahou Shoujo Ikusei Keikaku, que apesar de adaptar um único volume em 12 episódios, o anime além de não conseguir se destacar em nada, ainda consegue soar corrido. Por outro lado, poderia citar a série de Monogatari, mas aí seria chover no molhado.

    Acredito que precisamos de mais liberdade criativa nas adaptações de light novels. Vejo bastante disso em adaptação de mangá, não sei afirmar se ali há, de fato, mais liberdade ou se é só uma consequência de se ter muito mais adaptações de mangá do que de qualquer outra mídia. Mas a média de acertos e erros certamente é bem mais negativa para as adaptações de LN. Apesar de nos últimos 2-3 anos estar surgindo mais adaptações de LN feitas de forma mais criativa e com maior investimento.


    Propaganda


    Agora, o último problema que afeta o ritmo que deixei para citar agora é: Propaganda. A maioria das adaptações são meras propagandas para suas obras originais. Isso significa: Só 12 episódios, menos investimento e definitivamente menos mentes criativas envolvidas nos projetos. Se a obra nasce já fadada ao fracasso criativo, ela dificilmente vai chegar em algum lugar. Esse está longe de ser um problema só de adaptação de LN, até adaptações de mangá raramente ganham esse privilégio, mas com LNs parece haver essa pressão para que se adapte o máximo de material possível, como forma de servir de vitrine para o conteúdo que os livros tem a oferecer. Quando ao invés de consumirmos uma obra, consumimos um comercial, dificilmente somos marcados de alguma forma. Aqui estamos falando de algo que ainda na sua concepção não se enxerga uma obra de arte, o que poderia se esperar disso? Nisso também acaba impactando o tipo de obra que é adaptada, pois é um número muito limitado de light novels sendo adaptadas por ano, então a indústria dá pouco espaço para obras diferentes como Maoyuu Maou Yuusha ou Sasami-san@Ganbaranai e buscam o que pode dar mais lucro, o que está em alta no momento. Isso significa que diferente de mangás, que tem mais oportunidades, a indústria às vezes chega a ignorar obras que fazem sucesso por serem diferentes ou mais complicadas de se adaptar e escolhem as mais simples e fáceis. O que, vale dizer, não significa que vá sair um anime ruim disso, mas somado aos demais problemas citados acima, a gente acaba tendo várias adaptações que até um apreciador de LNs como eu nem sabia da existência ou acabou esquecendo. Até uma obra simples pode ser algo bacana se for feito direito, como é o caso de Kokoro Connect ou Hataraku Maou-sama. Caso contrário, mesmo havendo um investimento por trás, se uma obra for feita só visando o lucro ou de qualquer jeito, vai sair algo muito ruim, como é o caso das terceiras temporadas de Date A Live e Toaru Majustu no Index

    Infelizmente não tenho muita saída para esse problema, uma vez que a indústria não se importa com a criatividade artística... Não se importa nem com as pessoas que ali trabalham, vide a vida precária dos animadores. Nesse sentido, estúdios que criam seus próprios biomas diferenciados, como a Kyoto Animation, acabam sendo vitais para termos um respiro de obras menos comerciais e mais artísticas. Adaptações como Violet EvergardenChuunibyou demo Koi ga Shitai! seguem o modelo que considero ideal: 

    1. Adaptam um material curto, geralmente apenas 1 volume em 12 episódios.
    2. Apresentação única, onde seus profissionais talentosíssimos tem a liberdade até para moldar aquele material original para algo diferente na animação.
    3. Foco na arte, pois geralmente pegam novels que o próprio estúdio seleciona a dedo e aí podem trabalhar a adaptação da forma que preferirem.

    Infelizmente perdemos muitos talentos raros no ataque incendiário que o estúdio sofreu há 2 anos e a indústria pouco incentiva os jovens a seguirem esse ramo de trabalho, mas mais estúdios podiam seguir o exemplo da Kyoto Animation. 


    No mais, a situação das adaptações de light novels me parece estar melhorando, mesmo que lentamente. Tenho notado que mais animes tem ganhado segunda temporada, o que daria mais espaço para as obras se desenvolverem, já que 12 episódios é muito pouco para uma longa história como costuma ser o caso das obras adaptadas. Torço para que as novels se tornem mais populares, pois é o único jeito de convencer a indústria a investir mais nas suas adaptações. Enquanto isso, o que dá para fazer é um texto como esse explicando onde essas adaptações costumam dar errado e porque hoje em dia eu já não recomendo uma adaptação ainda não lançada de uma light novel que eu gosto, já que só após começar a lançar que você vai descobrir se a adaptação é boa ou não. Pior do que me decepcionar, é decepcionar os outros haha. Saraba Da!

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