Archive for novembro 2021

  • A Arte Não é Uniforme, Tampouco Somos Nós

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    Queria divagar um pouco sobre um tópico que vem me chamando a atenção nos últimos anos devido a várias polêmicas envolvendo não só alguns animes ou mangás, mas a arte no geral. Existe um movimento na internet atual que inibe opiniões contrárias, que só aceita opiniões similares e olhe lá. São pessoas que estão presas nas suas bolhas e não querem saber da existência do que existe fora dessa bolha. Há uma série de problemas sociais sérios em que isso pode acarretar, mas como o blog aqui não é de sociologia, mas sim de cultura pop japonesa, meu foco vai ser falar sobre os problemas que isso gera na percepção e consumo da arte em si. Quando uma pessoa se prende nessa ideia de que só a sua opinião importa, já é uma limitação imensa que ela está impondo a si mesma. Mas quando essa pessoa vai a espaços públicos se degladiar com outras por terem opiniões diferentes, aí é onde se tenta impor essa limitação em todo mundo. Essa limitação vai contra não só a natureza da arte, mas a própria essência de nós, seres humanos. Afinal, como o próprio título desse post já diz, a arte não possui uma forma fixa e objetiva, que você pode quantificar e aplicar a uma obra uma perspectiva definitiva e universal. Nessa mesma linha estamos nós, pessoas desse mundo, que estamos sempre em constante mudança, afetada seja pelo amadurecimento natural ou por circunstâncias externas que nos forçam a mudar em algum sentido. Essas duas coisas são muito mais conectadas do que a maioria gosta de reconhecer, sobretudo nos dias de hoje.


    Na data em que este post está sendo publicado, foi recém-lançada uma lista dos melhores jogos de todos os tempos que está dando o que falar. Muitos que concordam com o jogo eleito o melhor de todos e muitos que discordam disso estão neste momento brigando entre si. Tal como estavam quando lançaram a lista de melhores animes da década, ano passado. Ou quando a NHK fez uma lista dos 100 melhores animes de todos os tempos. Eu pessoalmente acho esse tipo de lista detestável, tal como os rankings por notas como o do MyAnimeList, é simplesmente ir contra o que é a arte e passar por cima da experiência de milhões de pessoas. Esse tipo de lista, que geralmente só é criada para gerar esse tipo de engajamento mesmo, dá muita margem justamente para quem quer te impedir de ter opinião própria. Estou citando essas listas por terem um alcance comunitário bem grande, mas esse tipo de coisa acontece frequentemente a nível individual. Para quem é ativo em rede social, você sempre vê pessoas usando expressões falaciosas para impor sua opinião como algo incontestável, colocando coisas como "Todo mundo sabe", "É fato que" antes de expor algo completamente subjetivo. Toda experiência é válida, a sua, a minha e até a daquela pessoa que gosta daquela obra que "todo mundo sabe que é ruim, é um fato". Se todos dessem esse primeiro passo ao aceitar isso, boa parte dos problemas já se resolveriam, mas esbarramos em um grande, grande problema: O ego.

    Não basta ter a sua experiência própria com uma obra, a pessoa quer que essa experiência seja a única que está correta. Essa mentalidade que cria essa bizarrice que é achar que as qualidades da arte são "científicas", isso é, algo que dá para calcular e chegar em um resultado irrefutável. E claro, quem acredita nisso está sempre do lado certo dessa "ciência", pois aí é só ter sua opinião e afirmar que quem discorda está errado e ponto. Infelizmente importamos lá de fora essa noção esdrúxula de julgar o gosto alheio como bom ou ruim, além de já colocarmos um medidor de credibilidade nas pessoas que é definido a partir do nosso próprio gosto pessoal, o que é uma absoluta demonstração de um grande egocentrismo. Já fui de "muito confiável" para "nada confiável" baseado só nas obras que eu estava elogiando, mas se a pessoa está procurando alguém para dar tapinhas nas suas costas enquanto diz o quão incrível e inquestionável é o seu gosto por entretenimento, não vai ser aqui que ela irá encontrar. Vejo muito destrato com pessoas por considerarem boas obras como Fairy Tail ou Boku no Hero, e veja bem, uso o termo "considerar bom", ao invés de "gostar", propositalmente, pois cabe a cada um ter seus próprios critérios de avaliação. Discordância é natural e o debate é engrandecedor, mas normalmente optam não por seguir seu rumo, mas pelo desrespeito, deboche ou a briga.


    A única verdade absoluta na arte é que ela existe muito mais em nós mesmos do que na realidade. A arte é um reflexo de quem a consome, e nós somos metamorfoses ambulantes, por isso ela nunca será uniforme. Duas pessoas podem ter a mesma obra como favorita, mas vão gostar da obra de maneiras diferentes, por motivos diferentes e em contextos diferentes. E está tudo bem em ser assim! No fim das contas, até se limitarmos o escopo de pessoas para apenas nós mesmos, teremos experiências diferentes com a mesma obra se a consumirmos em contextos e épocas diferentes, até um dia ruim pode afetar sua perspectiva de uma obra. Ou você nunca deixou de gostar ou passou a gostar mais de uma obra que você assistiu anos atrás e reasssistiu recentemente? A arte é como um espelho em movimento, ela vai estar sempre refletindo alguma coisa diferente. É por isso que existe esse conceito no cinema de filmes de décadas atrás que foram considerados ruins pela maioria quando foi lançado, mas hoje é considerado bom porque a arte tem dessas. Nem o tempo consegue estagnar a arte, porque um bando de pessoas aleatórias conseguiriam?

    Oyasumi Punpun lançou entre 2007 e 2013, já Fortissimo lançou a princípio em 2010, mas só teve o lançamento completo em 2012. Essas duas obras, que eu puxei de memória aqui agora, tem uma coisa em comum, na minha opinião: Suas temáticas conversam muito mais com a atualidade do que conversavam quando lançaram. São só 2 exemplos, mas inúmeras obras passam por isso, e é um exemplo de que mesmo quando não é moldada pelo nosso reflexo, ela pode ser moldada por outras questões externas. Por isso abomino tanto a ideia de querer concretizar uma ideia imutável na arte. O ponto deste texto é: Vamos ser menos "é assim e ponto final" e mais "entendo, mas penso diferente". Se quiser debater, ótimo. Debates saudáveis são ótimos exercícios para a mente e até para o nosso conhecimento. Mas se não quiser debater, tudo bem também! O importante é respeitar a experiência alheia e evitar achar que alguém não tem o direito de achar a obra X melhor que a obra Y. Cada um tem sua leitura de cada obra, só o exercício de refletir sobre ela já está te ajudando muito intelectualmente, tal como a diversão que uma obra proporciona também ajuda muito emocionalmente. É triste ver pessoas tentando invalidar essas experiências. Não espero que um texto qualquer vá fazer todos se respeitarem mais, mas se ao menos servir para oferecer uma perspectiva mais profunda sobre o que é a arte, já me darei por satisfeito. Seria bom também não ser mais confundido com um troll de internet por ter dito que acho um jogo bom haha. Saraba Da!

  • O que falta para as adaptações de Light Novels?

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    Como um grande apreciador de ambos light novels e animes, é duro ver como boa parte das adaptações acabam dando errado. Não é algo desastroso como é com as adaptações de visual novel, mas ainda assim boa parte das adaptações não conseguem sequer se destacar. As adaptações que se destacam, na maioria das vezes estão fazendo algo de diferente na sua produção em comparação as demais adaptações de LNs. Hoje quero comentar um pouco sobre a minha visão do assunto, onde está dando errado e o que poderia ser feito para melhorar. Antes, caso queira ler um pouco mais à fundo sobre light novels e web novels, tem um post desse tema aqui no blog: "Sou Nan Da! #06 - Novel, Light Novel e Web Novel"

    É necessário dizer que muito dessa questão vai além do nosso gosto pessoal sobre o conteúdo das obras em si, então talvez eu cite como exemplo positivo uma obra que você ou eu não gostamos, mas que teve uma produção que buscou criar um material animado que fosse uma adaptação digna e por isso se destacou. O texto não é para discutir a qualidade das obras em si, mas sim qual o processo que tornou essas adaptações algo notável ou esquecível de um ponto de vista técnico. 


    Ritmo



    O ritmo talvez seja o fator que mais impacta essas adaptações, pois acaba prejudicando muito o desenvolver da obra. A indústria está acostumada a adaptar mangás e não se adequa aos diferentes tipos de mídias na hora de produzir uma adaptação. Isso faz com que todas as outras mídias costumem ter adaptações que variam de medíocres para ruins, com algumas exceções que normalmente ou fazem algo de diferente ou funcionam por circunstâncias específicas. Isso inclui não só as adaptações de light novel, mas também de visual novel e de jogos. Existe um certo padrão que é o de tentar adaptar sempre 3 ou 4 volumes de uma light novel em 12 episódios, com alguns aventureiros arriscando 5 ou 6 volumes e uns raros conscientes que adaptam apenas 1 ou 2. Acontece que um volume de light novel costuma ter bastante conteúdo, muitas vezes conteúdos importantes para a narrativa funcionar direito. A fim de comparação, as boas adaptações em mangás de light novels costumam usar em média cerca de 12 a 15 capítulos mensais por volume e as boas adaptações de mangás mensais costumam adaptar 2 a 3 capítulos do mangá por episódio. Ou seja, uma adaptação em anime de 12 episódios de um mangá mensal geralmente vai adaptar entre 20 e 30 capítulos do mangá, o que é uma média boa. 20 a 30 capítulos de uma adaptação em mangá de uma light novel daria mais ou menos 2 volumes de conteúdo, então colocando em comparação, uma adaptação em anime de light novel padrão estaria adaptando o equivalente a 50 a 60 capítulos de um mangá mensal, o que é um absurdo. Existem raríssimos casos em que esse ritmo pode funcionar, como OreGairu, mas não dá para fazer da exceção a regra. Animes que adaptam 1 ou 2 volumes por temporada costumam funcionar muito melhor, como é o caso de Rokka no Yuusha ou Slayers. Ou o exemplo perfeito, que é Hai to Gensou no Grimgar, que dedica 8 bons episódios para adaptar o volume 1 e o faz muito bem, mas dedica os 4 últimos para adaptar o volume 2 e acaba ficando corrido.

    Acredito que a adaptação por volume acabe sendo um pensamento contra produtivo para as obras, pois acaba sendo metódico demais. "São 12 episódios, então divide 3-4 episódios por volume e pronto", quando na verdade deveriam dedicar o número de episódios necessário para o conteúdo que o volume oferece, se precisar de 5 episódios, usa 5, se precisar de 6, usa 6. Mas aí entra um problema que falarei mais para frente. Além do ritmo, outro aspecto muito relevante, talvez o mais relevante é a apresentação.


    Apresentação


    A forma que a adaptação é apresentada muitas vezes deixa a desejar e isso tira um brilho que ela poderia vir a ter, independente do seu conteúdo. Por apresentação eu estou incluindo a direção, a animação, todo o aspecto artístico visual que a obra pode ter. São coisas que fazem muito a diferença e isso é visível em adaptações como a de KonoSuba, Re:Zero ou até Mushuku Tensei. Existe um grande capricho da staff desses animes que as fazem se destacar de outras obras do mesmo nicho. Adaptações como 86, que usam de simbolismos visuais que conversam com a narrativa da novel tornam essas adaptações obras próprias, que existem como algo além de uma propaganda do material original. Mahouka, por exemplo, é uma adaptação que conversa muito mais com quem leu a novel do que com quem está tendo seu primeiro contato com a obra através da animação. Boa parte das adaptações só tentam repassar o que está nos livros em forma animada e, somado ao problema de ritmo citado acima, acabam perdendo muita individualidade e se tornando uma experiência esquecível. Não há espaço para diretores ou animadores talentosos brilharem, monólogos importantes dos personagens e partes da narração contendo informações cruciais são cortados por não ser só jogar na tela e pronto. Os funcionários que pegam esses projetos certamente nem tem liberdade (Ou tempo... Provavelmente os dois) para fazer algo diferente. Você pode pegar Mahou Shoujo Ikusei Keikaku, que apesar de adaptar um único volume em 12 episódios, o anime além de não conseguir se destacar em nada, ainda consegue soar corrido. Por outro lado, poderia citar a série de Monogatari, mas aí seria chover no molhado.

    Acredito que precisamos de mais liberdade criativa nas adaptações de light novels. Vejo bastante disso em adaptação de mangá, não sei afirmar se ali há, de fato, mais liberdade ou se é só uma consequência de se ter muito mais adaptações de mangá do que de qualquer outra mídia. Mas a média de acertos e erros certamente é bem mais negativa para as adaptações de LN. Apesar de nos últimos 2-3 anos estar surgindo mais adaptações de LN feitas de forma mais criativa e com maior investimento.


    Propaganda


    Agora, o último problema que afeta o ritmo que deixei para citar agora é: Propaganda. A maioria das adaptações são meras propagandas para suas obras originais. Isso significa: Só 12 episódios, menos investimento e definitivamente menos mentes criativas envolvidas nos projetos. Se a obra nasce já fadada ao fracasso criativo, ela dificilmente vai chegar em algum lugar. Esse está longe de ser um problema só de adaptação de LN, até adaptações de mangá raramente ganham esse privilégio, mas com LNs parece haver essa pressão para que se adapte o máximo de material possível, como forma de servir de vitrine para o conteúdo que os livros tem a oferecer. Quando ao invés de consumirmos uma obra, consumimos um comercial, dificilmente somos marcados de alguma forma. Aqui estamos falando de algo que ainda na sua concepção não se enxerga uma obra de arte, o que poderia se esperar disso? Nisso também acaba impactando o tipo de obra que é adaptada, pois é um número muito limitado de light novels sendo adaptadas por ano, então a indústria dá pouco espaço para obras diferentes como Maoyuu Maou Yuusha ou Sasami-san@Ganbaranai e buscam o que pode dar mais lucro, o que está em alta no momento. Isso significa que diferente de mangás, que tem mais oportunidades, a indústria às vezes chega a ignorar obras que fazem sucesso por serem diferentes ou mais complicadas de se adaptar e escolhem as mais simples e fáceis. O que, vale dizer, não significa que vá sair um anime ruim disso, mas somado aos demais problemas citados acima, a gente acaba tendo várias adaptações que até um apreciador de LNs como eu nem sabia da existência ou acabou esquecendo. Até uma obra simples pode ser algo bacana se for feito direito, como é o caso de Kokoro Connect ou Hataraku Maou-sama. Caso contrário, mesmo havendo um investimento por trás, se uma obra for feita só visando o lucro ou de qualquer jeito, vai sair algo muito ruim, como é o caso das terceiras temporadas de Date A Live e Toaru Majustu no Index

    Infelizmente não tenho muita saída para esse problema, uma vez que a indústria não se importa com a criatividade artística... Não se importa nem com as pessoas que ali trabalham, vide a vida precária dos animadores. Nesse sentido, estúdios que criam seus próprios biomas diferenciados, como a Kyoto Animation, acabam sendo vitais para termos um respiro de obras menos comerciais e mais artísticas. Adaptações como Violet EvergardenChuunibyou demo Koi ga Shitai! seguem o modelo que considero ideal: 

    1. Adaptam um material curto, geralmente apenas 1 volume em 12 episódios.
    2. Apresentação única, onde seus profissionais talentosíssimos tem a liberdade até para moldar aquele material original para algo diferente na animação.
    3. Foco na arte, pois geralmente pegam novels que o próprio estúdio seleciona a dedo e aí podem trabalhar a adaptação da forma que preferirem.

    Infelizmente perdemos muitos talentos raros no ataque incendiário que o estúdio sofreu há 2 anos e a indústria pouco incentiva os jovens a seguirem esse ramo de trabalho, mas mais estúdios podiam seguir o exemplo da Kyoto Animation. 


    No mais, a situação das adaptações de light novels me parece estar melhorando, mesmo que lentamente. Tenho notado que mais animes tem ganhado segunda temporada, o que daria mais espaço para as obras se desenvolverem, já que 12 episódios é muito pouco para uma longa história como costuma ser o caso das obras adaptadas. Torço para que as novels se tornem mais populares, pois é o único jeito de convencer a indústria a investir mais nas suas adaptações. Enquanto isso, o que dá para fazer é um texto como esse explicando onde essas adaptações costumam dar errado e porque hoje em dia eu já não recomendo uma adaptação ainda não lançada de uma light novel que eu gosto, já que só após começar a lançar que você vai descobrir se a adaptação é boa ou não. Pior do que me decepcionar, é decepcionar os outros haha. Saraba Da!

  • Chousen #05 - 5 Características que Gosto em Personagens

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    Todos nós temos preferências pessoais na hora de (ter mais chances de) gostar ou desgostar de um personagem, coisas que vão além de questões qualitativas como construção, desenvolvimento ou escrita. Alguns gostam do cara que grita "ora, ora", alguns gostam da garota que fala "ara, ara", alguns gostam do personagem lobo solitário, alguns gostam da personagem energética e amigável. O ponto é, sempre tem aquelas características específicas que podem ou não serem comuns que já é um ponto de partida positivo para gostarmos de um personagem. O Chousen de hoje te desafia a dizer 5 dessas características específicas de personagens que te atraem! O objetivo é descrever 5 coisas que você pessoalmente gosta, ao invés de aspectos gerais e técnicos como os que citei no início do parágrafo. Qualquer aspecto pessoal é válido, desde personalidade até características físicas. Dito isso, eu começarei o desafio!

    • Sereno e amigável

    Há sempre um apreço extra quando vejo personagens tranquilos, honestos, às vezes com muita seriedade, porém, amigáveis. Personagens como a Utena (Shoujo Kakumei Utena), a Einhart (Nanoha ViVid) ou a Signum (Lyrical Nanoha). Eu pessoalmente sou meio assim, então talvez seja uma questão de identificação. Ou não, como só pensei nisso agora, não posso afirmar com certeza.


    • Poucas palavras e badass

    Seguindo o caminho oposto, também costumo gostar dos "power rangers prata" das obras. Não no sentido narrativo em si, mas por normalmente serem personagens que falam só o necessário (Ou não falam nada) e costumam ser impressionantes. Personagens como a Samus (Metroid), A2 (Nier: Automata) ou a Black Rock Shooter (Considerando todas as suas versões aqui). Além de achar legal, personagens assim muitas vezes agregam na história de alguma forma, quando são bem feitos.


    • Confiante animado


    Existem diferentes tipos de personagens confiantes, alguns arrogantes, alguns quase isso e alguns mais alto astral, esses são os que mais me agradam. Personagens como a Minako/Sailor Venus (Sailor Moon), Rikka (Da Capo 3) ou a Maron (Kamikaze Kaitou Jeanne). Acho bem bacana acompanhar personagens que tem essa confiança saudável, que muitas vezes são o tipo de personalidade que ajuda até a levantar a moral dos outros.


    • Cabelos Brancos/Prateados


    Não tem muito o que explicar, só apreciar. Tem mais de 10 personagens assim nos meus favoritos, uma inclusive já citada antes e nem foi algo proposital. Personagens como Allen (D.Gray-Man), Sayuki (Fortissimo) ou a Mokou (Touhou). Dentre características físicas acho que essa é a que tem mais consistência entre meus favoritos. Pessoalmente acho bem bonito, já até quis pintar o meu próprio cabelo de branco/prata, vejam só. Porém, como faltou ter a beleza desses personagens, acabei nunca fazendo. 


    • Tanto Faz!


    Personagens relaxados, que às vezes podem ser indiferentes, raramente ficam sérios, não costumam sentir pressão ou até mesmo os meio preguiçosos, esses normalmente me divertem bastante. Personagens como a Reimu (Touhou), Koto (Kyousougiga) ou a Yui (K-On!). Confesso que esse último tópico ficou meio vago, mas o post precisa ser lançado, então vai esse mesmo haha. Personagens assim são bem legais por oferecerem esse atrito agradável na narrativa, do tipo de boas quebras de expectativa e coisas assim. Pensando bem, é um tópico que daria para me estender bastante, mas vou fechar por aqui.


    Foi muito mais complicado de especificar 5 características do que eu esperava, nunca havia parado para pensar nisso e algumas coisas só me vieram a mente ao olhar minha lista de personagens favoritos. Claro, poderia colocar "personagens femininas" como um dos tópicos e facilitar minha vida, já que a maioria dos meus personagens favoritos são mulheres, mas aí estragaria a graça do desafio, certo? Lembrando que não são os 5 fatores que mais gosto, tampouco dão a certeza de que eu vá gostar do personagem. É só uma atividade leve para fazer refletir um pouco sobre coisas que nos atraem nos personagens. Conte-me mais sobre seus gostos. Saraba Da!








  • Discussão #10 - Ser "mais do mesmo" é realmente algo ruim?

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    Quando se trata de críticas de obras de entretenimento, existe uma crítica em específico que sempre costuma aparecer: A reclamação de que algo é "mais do mesmo". Esse tipo de crítica vai surgir independente do tipo de obra moderna que for, isso porque gêneros, demografias, revistas ou até mesmo ideias muitas vezes possuem uma estrutura base, que conta com uma série de clichês, que foi criada lá atrás e que é reutilizada constantemente pelas obras modernas. É por isso que existe as ditas obras experimentais, pois são obras que buscam o diferente, tentam ser sua própria estrutura específica. A verdade é que muitas das críticas as estruturas repetitivas são feitas apenas quando não gostamos de tal estrutura, o que em partes é justo, mas por outro lado não faz sentido reclamar da obra ser "mais do mesmo" quando a maioria das obras são. Sim, a maioria das obras desse século se baseiam em estruturas, clichês e afins que já existiam antes, mas poucas realmente não se dão ao trabalho de tentar dar algo de diferente para o consumidor.


    Se olharmos para os battle shounens, muitos já tem uma ideia fixa do que esperar, o que pode ser bom ou ruim dependendo dos seus gostos. O exemplo do battle shounen é interessante porque quem não gosta, dificilmente se anima com o que tem sido produzido nos últimos anos e acha que é tudo a mesma coisa. Mas quem gosta consegue diferenciar as obras mais facilmente, então às vezes vejo pessoas que gostam de Boku no Hero, mas desgostam de Kimetsu no Yaiba e vice-versa. Essas obras existem dentro de um padrão criado pelas revistas de mangás shounens, mas cada uma tem suas próprias ofertas de conteúdo que faz a obra ser o que ela é. O mesmo vale para obras de esporte, por exemplo, onde geralmente você consegue ter um panorama de como a obra vai ser estruturada, quais clichês serão usados e coisas do tipo. Eu gostei das temporadas de Haikyuu que eu assisti, mas eu sabia mais ou menos os caminhos que a obra iria seguir porque é como obras de esporte costumam ser. The Prince of Tennis já é um pouco diferente, e talvez não seja o melhor exemplo já que começou a ser lançado em 1999, mas também existe dentro de uma estrutura muito embora seja um pouco mais marginal. O ponto é, quando seguir padrões é algo ruim, de fato? Ou sequer existe problemas em seguir padrões? Já escrevi em outros posts que originalidade é algo extremamente raro não só hoje em dia, mas nos últimos 10, 20 anos. Isso porque já existe muita coisa produzida, uma ideia nunca antes explorada é quase um mito, que só não afirmo com total certeza porque é sempre melhor ter dúvidas do que certezas. Além disso, gostamos do que nos interessa e isso, eu imagino, vai muito além do quão original é uma história ou o quão fora do padrão ela é, acredito que o que realmente buscamos é a criatividade para se apresentar algo que já é conhecido. Nesse balaio entraria características específicas da obra, a execução das suas ideias, a escrita em si ou mesmo a animação ou arte, no caso de animes ou mangás. Claro, muitos podem só realmente querer consumir algo parecido com uma obra que a pessoa gosta, o que também é muito válido.


    Trazendo para a parte que me toca, nós temos os mahou shoujos como um ótimo exemplo. Há muitas décadas o gênero vinha criando estruturas, clichês e ideias que se tornariam os exemplos a se seguir no futuro. Hoje praticamente todo mahou shoujo segue algumas dessas vertentes à risca, alguns até dentro do seu próprio mundinho fechado, como é o caso de Precure, que segue a mesma fórmula há quase 20 anos e continua dando certo. Pra quem vê de fora, talvez veja todas as temporadas de Precure como "mais do mesmo" e às vezes até quem vê de dentro acaba tendo essa perspectiva (Embora seja mais o caso de chamar de cópia, coisa que já comentei nesse post), mas são todos diferentes uns dos outros, só existem dentro dessa mesma estrutura. A questão é que existe mentes bem criativas por trás das obras que fazem elas funcionarem, que é o que pode faltar em outros casos. Ou talvez falte uma melhor execução. Vai de caso à caso. Só que tem um porém, a expressão "mais do mesmo" é muito usada para dizer que uma obra não trouxe nada de novo em relação aos seus similares, o que pode ser uma questão muito subjetiva dependendo do quão disposto a pessoa está em absorver a obra. Quanto mais desgosto por uma estrutura específica a pessoa tiver, mais facilmente ela enxergará todas as obras dessa estrutura como uma coisa só. Em uma visão macro essa discussão pode ir tão longe quanto quem acha que anime é tudo a mesma coisa, e tecnicamente falando, de fato é, mas ainda são milhares de obras diferentes umas das outras.


    Eu mesmo tenho isekai e escola de magia entre minhas obras favoritas, duas coisas que muitos taxam como "mais do mesmo" na primeira oportunidade que tiver. Mas assim como battle shounens, esportes, mahou shoujos e etc, também são apenas estruturas que abrigam suas diferentes obras. Eu já até questionei outras pessoas alguns anos atrás sobre isso, apresentando as obras lançadas até então, e a pessoa sempre terminava dando alguma resposta evasiva, pois no fim das contas são obras diferentes de uma estrutura que você ou eu não gostamos. Por isso acabo levantando essa discussão, ser "mais do mesmo" é realmente algo ruim? Fazendo um paralelo rápido aqui com o corpo humano, todos nós temos a mesma estrutura, mas somos todos diferentes. Nesse caso, se a obra não for só o esqueleto, não vejo problema em ser "mais do mesmo", pois nunca realmente é a mesma coisa (Até porque, se fosse, seria plágio). Entendo que muito disso parte desse desejo de ver obras que fujam totalmente do padrão, o que também não significa que vai ser bom, mas estar na zona de conforto só é ruim quando você fica acomodado. O que vocês acham? Inclusive, quem quiser citar aí os padrões que vocês gostam, também é bem-vindo. Saraba Da!


    Curioso que na comunidade de jogos existe um movimento contrário, pois muitos querem sempre o "mais do mesmo" e quando franquias buscam sair da zona de conforto, acabam sendo apedrejadas por isso. Talvez tenha a ver com a forma de consumo, já que jogo é uma mídia mais ativa, quem consome está interagindo ali e, por isso, prefere ficar onde se sente mais confortável. Já obras visuais ou escritas se assemelham mais a um espetáculo, então muitos não se empolgam em assistir ou ler algo similar a uma coisa que a pessoa já conhece, quer o desconhecido ou até o desconfortável, quer sentar ali e ser surpreendido. Bom, pura suposição minha, mas se quiserem comentar sobre isso também, fiquem à vontade!

  • Black★Rock Shooter #08 (FINAL) - O Amadurecer

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    Chegamos ao final dessa marcante jornada emocional com algumas surpresas, ótimas ideias, algumas coisas que deixaram a desejar e o deleite de assistir a um final tão mahou shoujo quanto este, o que é quase inevitável quando se trata do gênero.

    Na luta entre a Black Rock Shooter e a Yuu, eu achei de uma coerência elogiável a Yuu "despertada" ser claramente muito mais forte que a Black Rock Shooter "despertada", uma vez que as alter egos nascem da angústia das garotas e a angústia da Yuu é naturalmente mais forte dado o quão desproporcional sua situação é. Se a Strength não decide se sacrificar, uma vez que sua morte significaria o desaparecimento dessa angústia, a Yuu teria vencido a Black Rock Shooter. Isso abriu brecha para a Black Rock Shooter tentar eliminar a Yuu, mas como eu disse na análise anterior, a Mato entender toda a história poderia servir como uma motivação, o famoso norte que ela precisava para se livrar dos seus próprios conflitos. 


     

    Toda essa situação entre a Yuu e a Strength vem sendo bem lapidada e alcançou sua totalidade nesse episódio final. Eu me perguntava a relevância da Yuu há uns 5 episódios, acabou que ela era a peça mais importante da história. Em alguma das análises eu apontei o fato de que a Yuu e a Strength pareciam existências distintas, diferente das outras alter egos, e elas, de fato, eram basicamente duas pessoas diferentes. O anime nos permitiu enxergar amplamente as emoções das duas e deu a profundidade necessária para um fechamento de arco digno. Entretanto, acabou que não explicaram a troca das duas, uma vez que a Yuu era da idade da Saya, mas uma envelheceu e a outra não. Citei uma possível reencarnação em outro texto porque temos as memórias de infância da Mato com a Yuu, ambas crianças, mas as circunstâncias daquele episódio deixam a dúvida do quão confiáveis essas memórias eram. Com o pouco que temos só dá para especular sobre algo que não teve uma resposta concreta. Não acho que seja um problema grave, até porque não atrapalha no desenvolvimento das personagens, mas ainda é um problema. Em todo caso, a Strength mostrou porque se chama Strength e deu o empurrão que a Mato precisava. As várias cores no espaço da Mato representavam as emoções negativas que a Mato afundava dentro de si mesma enquanto se mostrava ser a garota legal diante dos outros, um comportamento que era preocupante em 2012, mas hoje, em 2021, é algo muito fora do normal graças a ascensão das redes sociais. 




    A real é que ser uma pessoa legal o tempo todo é muito prejudicial para si mesmo, a gente viu isso de perto desde o episódio 1. Por ser muito fechada emocionalmente graças a um superego distorcido, a Mato tinha poucos amigos, não sabia lidar com o ódio da Kagari, foi incapaz de perceber a dor da Yomi, não soube identificar as más intenções da Saya, viu essa ingenuidade que ela propositalmente abraçou se voltar contra ela inúmeras vezes. Quando confrontada por esse fato, ela perdeu as forças e deixou a Black Rock Shooter livre para fazer o que quiser. Foi só quando esteve diante da possibilidade de perder a Yuu, uma situação extrema, em que ela se livrou dessas amarras emocionais que impôs a si mesma, algo representado pelo desaparecer das várias cores dentro do espaço em que ela se encontrava. Tal ação lhe colocou frente a frente com sua maior adversária: A própria Black Rock Shooter.


     

    A protagonista enfrentando a si mesma não é algo particularmente novo no gênero, já vi momentos assim várias vezes em mahou shoujos e a proposta narrativa por trás disso costuma ser a mesma: O amadurecimento da protagonista. A verdade é que histórias de amadurecimento em mahou shoujos são extremamente comuns, e isso nunca fica realmente chato pois sempre há formas e formas de se explorar o coming-of-age. A Mato chega no mundo da Black Rock Shooter determinada a suportar a dor e o sofrimento do lado negativo da vida, mas a Black Rock Shooter, que é a personificação dessa angústia, quer colocar isso à prova. Não é só uma batalha entre personificações da angústia de duas garotas em conflito, mas sim o gatilho necessário para que a protagonista consiga ou não amadurecer, de fato. Quando a Black Rock Shooter abre mão de suas armas para agredir a Mato fisicamente, ela está questionando a capacidade da Mato de suportar uma dor "mais leve" (Em comparação com o que as alter egos passam), mas a Mato não reage, pois apesar de aceitar enfrentar a dor de frente, ela ainda não se vê causando a dor em outra pessoa. Quando ela tenta se defender e acaba ferindo a Black Rock Shooter, ela se sente mal por isso. Então ela prefere só apanhar. A luta acaba antes de começar, pois de um lado temos uma menina gentil demais e do outro uma figura altamente impiedosa.




    Mas aí que entra a beleza da obra. Quando voltamos lá atrás, a Mato admirava o passarinho da história do seu livro favorito, pois ele tinha a coragem de desbravar os vários mundos e absorver suas cores, coisa que a Mato até então era incapaz. No entanto, em certo ponto ela se indignou com o final do livro, onde o passarinho morre e tentou criar um final alternativo para ele. Agora o passarinho desbravou vários mundos, inclusive o seu próprio, mas vê aquele tão sonhado céu azul bem distante. A Mato conseguiu o azul da confiança, superou o azul da tristeza, tanto ansiava pelo azul da distância, mas ainda lhe faltava o azul da sabedoria. A Mato precisava entender a natureza da vida, para assim conseguir sair do lugar finalmente, e para isso seria necessário o azul da frieza. A vida tem dessas, você tem que aceitar que vai machucar e será machucado eventualmente, acontece. Desde que não haja más intenções envolvidas, toda relação em algum momento haverá uma dose de dor, pois assim é o ser humano. O anime já nos seus momentos finais ainda demonstra a criatividade para usar o simbolismo ideal para representar o momento em que a Mato passa a enxergar a vida com outros olhos quando mostra ela levantando a mão para o céu azul, brilhante, que ela não consegue alcançar e, então, o sangue escorrendo pela sua mão a faz perceber o que faltava para ela. Não basta estar pronta para se machucar, mas também precisa estar pronta para machucar os outros. Como vi uma comparação certa vez: Conseguir uma oportunidade de ouro significa que outras pessoas sofrerão por não terem sido selecionadas, e infelizmente assim são as coisas, não querer entristecer ninguém significa se isolar em um canto e se estagnar na vida.




    A Mato passou por muitas fases ao longo desses oito episódios, sua jornada emocional fez desse amadurecimento um momento catártico. Quando ela enfrenta a Black Rock Shooter sem medo de se ferir e sem medo de ferir sua oponente, o mundo das alter egos parece estar mais instável do que nunca. As angústias ocultas de todas as garotas voltam para elas, e que bom que o anime resolveu mostrar várias figurantes chorando por isso, fato indicado principalmente pela Kagari voltar a sentir que gosta da Yomi (E, mais tarde, pela Kohachi acabar ficando com o rapaz que ela gostava). Essa conexão emocional entre elas, que surgiu com todas visando um mesmo objetivo, fez ser possível elas oferecerem ajuda para a Mato dar um fim no sua própria angústia, naquilo que fez ela ficar tanto tempo sem conseguir realmente ser feliz, mas claro, não antes de baixar o espírito do estúdio Trigger na personagem.




    O "poder da amizade", poderes combinados e o super ataque colorido que destrói o vilão em um golpe são todos notícias velhas para quem assiste bastante coisa do gênero, mas é notável que pela natureza das alter egos, essa combinação de poderes simboliza muito mais a importância do suporte emocional do que só um power up padrão. A gente viu ao longo do anime inteiro a falta que um suporte emocional fez para absolutamente todas as personagens, pois é o tipo de coisa que realmente dá uma injeção de energia na pessoa. É inclusive só com o apoio de pessoas queridas que muitas pessoas conseguem superar problemas emocionais. E, claro, a mistura de cores é um grande representativo da pluralidade das pessoas. Quando a Black Rock Shooter é destruída, seu mundo também é e todas acabam caindo em um mundo cinzento que suponho que seja o espaço neutro do mundo das alter egos, isso é, o espaço que não é ocupado pelos mundos específicos de outras alter egos. Lá é onde todas se reúnem, com a Mato voltando a ter sua aparência normal e a Strength chegando nos seus momentos finais.




    A jornada da Strength faz muito mais sentido quando sabemos que ela é a Strength, uma alter ego que criou consciência própria e se viu tendo que viver no mundo humano já que a Yuu queria fugir de lá de qualquer forma. Quando ela envia a Mato para a outra realidade, parecia uma ação inconsequente antes, mas é compreensível se pensar que é de lá que ela se originou e ela não seria capaz de entender totalmente os seres humanos. Ela aprendeu a conviver com os outros e entendeu a beleza e a feiura do mundo real, principalmente graças a Mato. A Yuu acaba sendo o oposto. Ela só viu o que havia de pior no mundo real e trocou de lugar com a Strength para não ter que sofrer mais, mas o sacrifício da Strength significaria que a Yuu teria que voltar a viver no lugar onde ela só sofreu o tempo todo. Mas a Strength acabou de vivenciar mais um exemplo da força positiva da humanidade e sabia que, com o suporte emocional adequado, a Yuu conseguiria superar seus grandes traumas e talvez até viver uma vida normal. Ela sabia que podia deixar a Yuu com a Mato e as outras porque elas passaram por suas provações pessoais e se tornaram pessoas melhores (Bem, quase todas, ao menos...). Foi uma cena tocante que mais uma vez se sobressaiu visualmente no momento em que o corpo da Strength desintegra em partículas que pintam o céu daquele mundo de várias cores, uma representação de todos os sentimentos que a Strength desenvolveu mesmo sendo uma alter ego sendo devolvidos para aquele mundo onde as alter egos não possuem emoção alguma. 



    Assim, tudo finalmente volta ao normal e a Mato volta para o mundo real. Ao encontrar-se com a Yomi, as duas tem um momento sentimental bem bonito, um reflexo do aprendizado que as duas tiveram nessa pequena jornada. A Mato sugere uma troca de machucados entre as duas, uma forma de dizer que está tudo bem acontecer desentendimentos entre elas, o afeto que uma sente pela outra não deixa de existir por conta disso e elas podem conversar sobre isso e se entenderem novamente. Faz parte. Enquanto isso, a Saya finalmente conseguiu a Yuu de volta, mas confesso que seu arco de personagem acabou pouco trabalhado e o que ela fez com os alunos ainda é um grande problema. Por outro lado, a alter ego dela foi a única de todas que não foi destruída, então palmas para ela pela conquista haha. A Kagari também passou um pouco batida na história, mas ela ao menos teve uma construção mais vistosa. Em todo caso, a Yuu agora busca recomeçar sua vida, mas com gente boa por perto certamente será algo mais proveitoso para ela.



    As quatro (Mato, Yomi, Kagari e Yuu) formarem esse novo grupinho de amigas me deixou triste de não poder ter mais tempo de tela delas interagindo juntas, mas definitivamente apresentam uma vibe bem diferente de antes. Inclusive, hora de trazer o papo do significado das cores uma última vez. Eu achei incrível que quando a Yomi entrega a pulseira laranja para a Yuu, vemos que ela usa uma pulseira vermelha (Ela tinha dado a antiga dela para a Mato) e a Kagari usa uma pulseira rosa. É bacana pois essas duas foram as que passaram pelas mudanças mais drásticas. A Mato amadureceu e teve bastante desenvolvimento, mas o cerne da sua personagem ainda é o mesmo. A Yuu é simplesmente outra personagem em relação a Strength. Detalhes bem pequenos que mostram todo um carinho que a staff teve com esse anime. 



    Após o final, ainda vemos a Black Rock Shooter (Que já havia aparecido nos momentos finais da Strength) e a própria Strength, o que não é nenhuma surpresa. Uma vez que as alter egos nascem da angústia das garotas, matá-las é só uma solução temporária, a própria Yuu disse isso no episódio anterior. Porém, talvez devido a mudança naquele mundo que a Strength causou, as duas parecem ser muito mais humanas do que antes. E irão continuar suas batalhas eternamente. 

    E é isso, Black Rock Shooter oficialmente chega ao seu fim. Nessa obra, ao menos. Vejamos algumas considerações finais...


    Black Rock Shooter definitivamente não é um anime comum, seu uso constante de simbolismos e metáforas pode dificultar um pouco (Ou bastante) o entendimento da trama, o estilo da narrativa é propositalmente feito de uma forma muito mais artística do que direta. Entretanto, as mensagens e os temas abordados pelo anime são simples. É um drama de personagens cujo o foco é o amadurecimento emocional e a forma que as várias dinâmicas de relacionamentos funcionam. Relacionamento tóxico, manipulação emocional, isolamento social, a própria depressão dependendo da sua leitura da obra, são todos tópicos bem abordados ao longo do anime, junto com vários outros. Aliás, é tudo muito bem trabalhado visualmente e narrativamente no anime. Se você acompanhou post por post, viu que entre erros e acertos, eu sempre conseguia extrair muita coisa da obra, não porque eu tenho super capacidade interpretativa ou coisa do tipo, mas porque o anime deixa muita coisa subentendida, ou até mesmo quase explícita. Você consegue ir ligando os pontos e fazer deduções até que bem precisas. Tem uma coisa ou outra que o roteiro simplesmente não se importou em desenvolver, como a troca entre a Yuu e a Strength, mas são coisas que eu cito aqui no texto, mas não me incomodou tanto na experiência em si. Black Rock Shooter é bem visceral com as emoções das personagens, fazendo elas realmente vestirem o que estão sentindo, mas é tudo feito com muita coesão e, apesar de uma ou outra atuação mais exagerada, é bem verossímil. 

    A Mato é uma ótima protagonista, seu desenvolvimento acontece gradualmente com naturalidade, até chegar no seu ápice. A Yomi é bem trabalhada, apesar de ter pouco desenvolvimento e só conseguir dar um fechamento para seu arco aos 48 do segundo tempo. A Yuu/Strength se completam muito bem, agregam demais na narrativa e são muito bem trabalhadas também. Já a Kagari e a Saya deixam a desejar, principalmente a Saya que era uma personagem com muito potencial até ser descartada da história no episódio 6. Eu diria que o anime tem um roteiro bem fechadinho, cumpre com tudo o que oferece e ainda trás uma experiência única para nós. Visualmente é um espetáculo, todo episódio é super bem produzido, o CGI é de 2012, mas ainda é bem vistoso até hoje. Já a trilha sonora é muito boa, consegue adicionar muito na atmosfera de várias cenas. Ou seja, de maneira geral é um anime feito com excelência. Tem seus defeitos como qualquer outro, mas posso adicionar entre meus mahou shoujos favoritos sem o menor receio. Agradeço quem leu todos os posts da série, ou mesmo quem só está lendo essas considerações finais. Está recomendadíssimo! Saraba Da!


    Ah, praticamente na última cena do anime eles decidem fazer uma clara referência a Nanoha, que é minha obra favorita. As voltas que o mundo dá, meus amigos.

    Até o tipo de uniforme é igual haha



  • Black★Rock Shooter #07 - Alter Ego

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    Chegamos no penúltimo de Black Rock Shooter e este talvez seja o mais esclarecedor da série. Quando ele começa na tão contada história do passarinho e suas várias cores e nos faz questionar o motivo da Mato admirar tanto essa trágica história, é possível se dar conta de um detalhe: As emoções da Mato são as únicas que o anime ainda não havia explorado até então. Isso era algo que eu já vinha esperando acontecer desde o primeiro episódio, na realidade, pois naquela altura eu havia interpretado a outra realidade e as alter ego como uma metáfora para as emoções das garotas e com os simbolismos que o espaço da Chariot trouxe, eu já me perguntava sobre o espaço que a própria Black Rock Shooter habitava no início da série, que provavelmente seria o espaço da Mato. Apesar da outra realidade ser real, o questionamento ainda é válido e na análise passada eu trouxe essa possibilidade novamente, agora este episódio deu o pontapé inicial.  A Yuu decide que quer salvar a Mato de qualquer jeito, a Saya não parece receber tão bem a ideia, mas não tem muito o que ela fazer também. Quando a Yuu se despede da Saya e diz que a amizade delas foi curta, eu achei bem estranho, sem ter a menor ideia do que viria a ser revelado em alguns minutos.




    A batalha na outra realidade é feroz e a Black Rock Shooter parece imparável. Isso é, com exceção da Mato, que é a única que consegue surtir efeito na sua alter ego. Ironicamente, nem a força da Strength é o bastante. Quando a Yuu entra em contato com a Mato, os movimentos da Black Rock Shooter são afetados, mas a essa altura alter ego já está sem paciência até para aquela a quem ela representa e propositalmente causa dano a si mesma para atingir a Mato. O que me chamou a atenção foi que o elo entre as duas parece estar afetado, uma vez que os ataques da Strength não parecem machucar a Mato. Ou talvez eu tenha interpretado errado como essa ligação funciona, já que no episódio anterior a única vez que o anime mostrou a Mato sentindo os ferimentos da Black Rock Shooter foi quando a alter ego feriu a si mesma, igual agora. Em todo caso seria um elo afetado, uma vez que as alter egos existiriam para receber as dores da pessoa e aqui a relação seria justamente o oposto. A Yuu diz que a Black Rock Shooter não é a Mato e isso acaba afetando negativamente a protagonista, demonstrado no surgir das cores naquela espaço mental que ela habita. 



    A natureza artística dessa cena é fenomenal!

    Eu particularmente achei fantástica a ideia de mostrar os comentários da família e colegas da Mato sobre ela em um formato de entrevista. Todos elogiam a Mato, afinal, é uma boa menina e muito positiva, mas todos também põe o famoso "mas" em seus elogios. O motivo é simples, ninguém consegue ser verdadeiramente positivo 100% do tempo, o que nos leva ao que eu disse no início dessa análise: Nós e os personagens do anime não sabem realmente como a Mato se sente, ou o que passa na mente dela, pois ela mesma guarda para si o que há de negativo que, querendo ou não, também faz parte do que você é. Quando você expõe seu lado negativo para os outros, o que é algo inevitável em boa parte dos casos, as chances de você atrair essa negatividade é muito maior. A Mato não queria isso pra si, não queria se machucar, nem ser odiada, preferia acreditar que, no fundo, todo mundo era bom. Vimos lá no início do anime, a Saya diz que a Mato nunca experienciou o ódio, agora entendemos o porquê. No entanto, mesmo sendo sempre uma boa pessoa, uma hora ou outra você esbarra em alguém que vai querer te prejudicar. A ligação entre o passarinho das cores com a Black Rock Shooter é perfeita, nesse sentido. A alter ego é uma figura que absorve todas essas emoções negativas até chegar no fim e morrer. 




    Quando a Mato se vê como uma "boa garota", a Black Rock Shooter também se vê livre da interferência da Mato e volta a poder lutar. É de se observar que as várias cores que surgiram ao redor da Mato podem ser as emoções que sempre estiveram com ela, mas que ela estava enterrando justamente para adotar essa falsa figura da positividade. Ser só a "boa garota" significa que ela jamais seria o passarinho da sua história favorita, passarinho este que serviria como uma alusão a Black Rock Shooter, o que por vez significaria que, de fato, a Black Rock Shooter não seria a Mato e isso se reflete, então, na liberdade que a Black Rock Shooter ganha para lutar. Antes da Yuu conseguir reerguer a Mato dizendo que não há nada de errado em não querer se machucar, que ela encarou a realidade "nua e crua" e que não é ela que estava fugindo, vemos a Strength reagir a começar a questionar a Yuu---Ou melhor dizendo, vemos a Yuu reagir e começar a questionar a Strength. Eis a grande revelação: A Yuu e a Strength trocaram de lugar. Eu honestamente não lembrava dessa reviravolta, mas faz total sentido. Por isso a Saya quer tanto proteger a outra realidade, pois é lá onde a verdadeira Yuu está, a que ela conheceu no passado. Por isso a "amizade curta" citada anteriormente, pois a Strength só conheceu a Saya depois (A pergunta é, isso foi no episódio 1 ou elas já se conheciam antes?). A questão que o anime não explicou (Ainda?) é qual foi o processo dessa troca. Teria a Strength feito uma espécie de reencarnação no momento da troca? Seria a alternativa que mais se encaixaria em todos os eventos da trama.




    Como a Yuu evoluiu e se nivelou a Black Rock Shooter, além de parecer estar ficando insana também, presumo que ela passou ou esteja passando pelo mesmo processo de transformação da Black Rock Shooter. Segundo a Saya, isso significaria que ela está perdendo tudo o que resta de humanidade nela.

    Algo que não tinha me dado conta é que a Mato está inconsciente faz quase um dia já, então o seu desaparecimento obviamente repercutiria na escola, o que trás essa atenção de volta para a Yomi. É até meio triste ver como ela continua super isolada e, dessa vez, sem amigo nenhum, mas já não demonstra o sofrimento de antes por ter tido essas emoções negativas ocultadas pela morte da Dead Master. Entretanto, existe o subconsciente e ele é mostrado brevemente quando a Yomi sai da sala ao ouvir sobre o sumiço da Mato e vemos que ela costurava uma nova pulseira, dessa vez uma mistura de azul com vermelho (Cores que formam o roxo) usando sua tesoura verde. A dor e a memória que a Yomi vai recuperando pode não ser só algo circunstancial pelo que acontece na vida real, mas talvez signifique uma instabilidade na outra realidade também, visto que a Kagari também sentiu que alguém estava sentindo dor. 




    Talvez a parte mais crucial deste episódio tenha sido a história por trás da troca entre a Yuu e a Strength, que acabou por revelar talvez (quase) tudo que precisávamos saber sobre a outra realidade e suas alter egos. Como um bom e velho mahou shoujo de ação, acaba que a outra realidade é um local onde a angústia das garotas, e apenas das garotas, tomam forma. Curioso como ao contrário da maior parte dos mahou shoujos, as alter egos sejam originárias de emoções negativas. Enfim, toda essa parte demonstrando a outra realidade é incrível pelo estilo artístico adotado, que é visualmente bem diferente do anime em si e ajuda a distanciar essa outra realidade como, de fato, outra realidade. Outro aspecto artístico é o fato de tudo ser preto e branco. Foram 7 episódios associando as cores com emoções, então a outra realidade ser explorada sob essa ótica passa a mensagem com maestria, principalmente porque o mundo tem esse aspecto meio assustador e macabro, que nos lembra que o mundo em si é formado da angústia das garotas na vida real. E claro, a quebra dessa falta de cores se dá com o surgimento da Black Rock Shooter e seu fogo azul, que derrota a Strength sem dificuldades. Esta que, após isso, desperta suas emoções próprias, também representado com o surgimento da cor laranja nos seus olhos. Então a gente tem esse mundo completamente incolor, onde a entrada de qualquer cor carrega um forte simbolismo. 




    Quando a Strength desperta suas próprias emoções, ela claramente evita a Black Rock Shooter por sentir medo de enfrentá-la novamente. É conceitualmente interessante, no entanto, pensar que a Black Rock Shooter nada mais faz do que eliminar essa angústia acumulada das pessoas. Para uma alter ego com consciência própria, a ideia de continuar lutando na outra realidade não era tão apetitosa para a Strength, algo que a Yuu discordava veemente. Afinal, como vimos a mesma dizer no episódio anterior, "nenhum mundo é mais doloroso de se viver do que este" (A vida real, no caso). Por isso, a ideia de viver em um mundo onde a única dor é física e você só vive de lutar, lutar e lutar soaria interessante para alguém que vive em uma realidade onde ela é esmagada pelas falhas da sociedade como um todo, onde a ambígua tortura emocional e psicológica toma conta, onde você não consegue lidar nem consigo mesmo, quem dirá com a maldade alheia. O ser humano é complexo, a mente humana é algo que só é possível explicar até certo ponto, comportamentos sociais são ambos previsíveis e imprevisíveis. Quando todos esses elementos são usados de uma forma ruim ou maldosa, pessoas inocentes como a Yuu, que nunca realmente havia chegado a fazer mal a ninguém, pagam o preço. A própria Yuu diz para a Strength algo que eu já vinha pensando há alguns episódios... A morte de uma alter ego significa a remoção de todas as emoções negativas que afligiam a garota com quem a alter ego está conectada, mesmo com a perda de memória, a vida continua, o que significa que novas angústias surgiriam. Para a Yuu, que vivia uma vida horrível, a morte da Strength não tinha sentido, a vida dela não iria mudar. Parecia muito mais jogo simplesmente trocar de lugar com a Strength e viver o basicão de matar ou ser morto, que se assemelha muito mais a uma vida selvagem. 




    A Strength entende a dor da Yuu, até porque ela nasceu dali. Com a situação fora de controle, não dá para saber o que seria da Yuu se ela fosse morta pela Black Rock Shooter, então contar essa história, revelar sobre a outra realidade e as alter egos, talvez sejam coisas que sirvam como motivação para a Mato se reerguer. Por sinal, a Black Rock Shooter surgir no flashback trás duas possibilidades para o anime, que talvez sejam ou não respondidas diretamente no próximo (e último) episódio, eu tenho uma teoria de que a angústia da Mato, que supostamente teria formado a Black Rock Shooter, existe desde que ela era criança, o que explicaria a Black Rock Shooter aparecer no flashback. Mas pode ser também que a Black Rock Shooter só seja uma existência única individual e eterna que trabalha como eliminadora de angústias. Veremos se haverá uma resposta concreta ou interpretativa no final.

    Por fim, a Yomi recuperar as memórias que ela teve com a Mato foi outro desenvolvimento inesperado, mas que até me empolgou. Foi quase como reviver um trauma que já havia sido enterrado, mas tenho certeza que mesmo que aquela angústia de antes voltasse, dessa vez as coisas darão certo por um simples motivo: O medo de uma dor ainda maior, que seria a perda da Mato. A Yomi recupera suas memórias em um contexto onde a Mato está desaparecida, é o tipo de choque que faz a pessoa olhar para uma relação importante com outros olhos. É a velha história de perceber o quão importante algo ou alguém é quando você o(a) perde. E visto que a Mato tem conhecimento do que angustiou a Yomi, tem tudo por um merecido futuro mais alegre. Ver as cenas das duas ao som do ótimo encerramento me deu aquela sensação de fim de jornada, o que é muito louco, pois pareciam cenas que eu assisti há uns 40 episódios, quando na real foi há uns 5 ou 6. Isso porque apesar de bem curtinho, o anime tem sido emocionalmente muito carregado e eu estar analisando à fundo, destrinchando cena por cena, me faz tentar me colocar nos sapatos das personagens para entender suas ações e motivações, é muita emoção para dar conta haha. Mas ver a Dead Master no cemitério de alter egos foi bom, ainda mais com o estilo da coloração que tem esse tom de desenho feito no papel com grafite.




    Esse episódio foi bem rico, pois ainda que esteja no final, nas revelações e já tenha deixado de lado a maior parte dos simbolismos e os aspectos interpretativos, ainda rende muito pano pra manga. Por exemplo, eu poderia até ter falado mais sobre a Mato, por exemplo, mas como o último episódio provavelmente será focado nela, vou aguardar para ver. Artisticamente falando também, o episódio foi um show. O flashback da origem da outra realidade ser tão único visualmente como uma forma mostrar a diferença entre as realidades me fez notar que o mesmo se aplica ao que temos visto no anime todo, o estilo de animação da outra realidade também é bem diferente da animação na vida real. O uso de CGI obviamente é para facilitar as coreografias insanas das lutas, mas dá para enxergar como uma forma de representar as alter egos como uma existência diferente de um humano. O ponto é: O anime tem sido, e aqui foi ainda mais, muito artístico. Têm sido um deleite assisti-lo, e espero fechar a série com a satisfação de ter terminado uma grande obra. Portanto, partiu para o último episódio. Saraba Da!


  • Black★Rock Shooter #06 - Arrependimentos

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    Ainda que entre todo o aspecto da realidade alternativa e do surrealismo, a Mato sentiu diretamente o que é sujar suas mãos de sangue e não se enxerga sendo capaz de "voar" novamente. Isso é, tal como o passarinho do livro, ela se tingiu na escuridão e começou sua queda. É com essa abertura que começamos essa mini-saga de impedir a nova Black Rock Shooter de, teoricamente, destruir a outra realidade. A Black Gold Saw surge imediatamente para confrontar a Black Rock Shooter e é notável o fato da consciência conectada da Mato a permitir sentir toda a dor dos ferimentos que a sua alter ego sofre. As próprias alter egos não parecem sentir nada, mas é significativo mostrar o choque imensurável de dor que a Mato sente quando a Black Rock Shooter arranca seu próprio braço. De certa forma, é como se a dinâmica entre a pessoa e a alter ego tivesse se invertido e a Mato agora estivesse sentindo a dor da alter ego. Isso pode ser um fator relevante nos próximos dois episódios, visto que essa quantidade de sofrimento provavelmente vai afetar a Mato de alguma forma.



    Há uma mudança de postura na Black Rock Shooter que agora faz ela parecer mais uma força da natureza a ser parada do que só uma figura humanoide, a própria linguagem corporal da Black Gold Saw indica isso, uma vez que ela abandonou sua aura de superioridade e começou a parecer mais aflita e apressada. A decisão da Yuu de enviar a consciência da Mato para a outra realidade acabou criando uma oponente muito poderosa e de quebra corre o risco de perder a Mato de vez. Tudo por ela ter apostado demais na Mato, que certamente demonstrou força de vontade e determinação tanto em salvar a Yomi quanto em lembrar da Yuu, mas, no fim das contas, ainda é uma adolescente. Ou, na linguagem do anime, um passarinho que ainda estava mais para o branco do que qualquer coisa. O ato de tirar uma vida diretamente é algo muito pesado para se carregar, embora a dor de todo o dano que a Black Rock Shooter sofre pode acabar servindo de alguma forma.



    Apesar da batalha na outra realidade, o foco desse episódio está longe de ser a condição da Mato. Quando a Yuu decide a levar para a casa da Saya, que até a repreende de forma agressiva pelo que ela fez, a narrativa muda um pouco de perspectiva. A gente já não tem a ignorância da Mato para nos guiar, então apesar de tudo ficar menos misterioso, ao mesmo tempo certas coisas ainda não conseguimos compreender totalmente. Como a Saya dizer que a Black Rock Shooter vai destruir a outra realidade ou que o despertar da Black Rock Shooter se dá ao fato dela perder o pouco de humanidade que havia sobrado nela após sobrecarregá-la com todas as emoções negativas da Mato. Além disso, teoricamente algo irá acontecer com elas se a outra realidade for destruída, e a morte da Mato também significaria o fim da Black Rock Shooter, o que teria significados interessantes de se considerar. No mais, a Saya enfim demonstrou mais do seu lado humano, seja se recusando a matar uma inocente ou reconhecendo o mal que fez a Yomi. Nada justifica o que ela fez até então, mas já é um começo necessário para a construção da personagem. Sua tentativa de se comunicar com a Mato na outra realidade surtiu algum efeito, além de demonstrar que ela pode conectar sua mente diretamente na Black Gold Saw, mas, no fim, precisou da intervenção da alter ego que eu suponho que seja da Yuu para salvá-la no último segundo.



    A essa altura, entramos em um ponto crucial da trama: A história tanto da Saya, quanto da Yuu. Somos imediatamente surpreendidos ao ver um flashback de quando a Saya ainda era uma adolescente e encontra a Yuu praticamente igual ao que é na atualidade, queria eu envelhecer assim!
    Brincadeiras à parte, muito da Yuu é revelado nesse episódio, mas o real foco é na Saya, ou melhor dizendo, na relação das duas, que é muito mais profunda do que era esperado. Ao entrar no flashback, a primeira coisa que vemos da Saya adolescente é o seu chamativo chaveiro de canguru. Por que um canguru? A verdade é que não é muito surpreendente, visto que o animal simboliza traços fortemente conectados a Saya jovem e talvez até a Saya adulta. Coragem e energia são dois dos principais símbolos do animal, assim como são as duas primeiras características que nós vemos da Saya quando ela rapidamente vai atrás da Yuu ao notar a estranha situação (Saindo da escola de maiô, outras garotas olhando com deboche) e insiste em levá-la para sua casa. Acaba que a garota é tão sofrida que é, de certa forma, popular, graças a isso. Ambiente familiar nojento, sofre bullying constante na escola, exatamente o tipo de vítima que outras pessoas preferem ficar longe para não virarem alvos desse mesmo sofrimento e fingem que nada acontece. Só que não era o caso da Saya.

     

    As duas começam a ter uma certa amizade, apesar da Yuu nunca realmente parecer contente, por motivos óbvios. A Yuu até chega a mencionar a outra realidade para a Saya, que acha estranho, claro. Mas é um paralelo interessante com a própria Saya falando a mesma coisa para a Mato, no início do anime. Nessa cena eu achei até engraçado como não há sutileza nenhuma em tornar o símbolo do canguru em algo relevante, até porque o canguru simboliza outras coisas importantes para a personagens que citarei mais à frente.   
    Quando a Saya descobre sobre o incêndio na casa da Yuu, a primeira coisa que lhe vem a cabeça é que aquilo havia sido de autoria da própria Yuu, algo que ela se arrependeria de imediato de pensar. Não é difícil entender o porquê, na vida real mesmo tem casos e casos até piores que colocar fogo na própria casa. Chega a ser instintivo pensar em retaliação quando se trata de alguém que só tomou porrada de todos os lados a vida toda. Mas a Yuu não teve nada a ver com o incêndio e ainda ganhou mais uma porrada da própria amiga que já estava, de uma forma ou de outra, mentalmente impondo essa acusação nela. Evidente que não foi em um caso tão sério como esse, mas já estive no lugar da Yuu antes e nunca é uma sensação agradável, por mais que não haja más intenções por parte da outra pessoa. Mas o anime demonstrou bem o afeto que a Saya desenvolveu pela Yuu e, após essa derrapada, ela decidiu que iria se redimir com a amiga não importa o quê. 



    Ela encontra a Yuu novamente no mesmo local onde a Mato encontrou a Yuu antes de ter sua consciência conectada à Black Rock Shooter e a cena final desse flashback meio que já quebra minha ideia de que não teria mais muito o que revelar nos episódios finais. Antes, a frase que a Yuu profere: "Nenhum mundo é mais doloroso de se viver do que esse", é bem forte. É realmente difícil, e geralmente temos que lidar com o sofrimento sozinhos, pois as outras pessoas ou mal aguentam carregar seus próprios fardos ou preferem fingir apatia para não ter mais sofrimento ao seu redor. A Saya seria uma raridade, por isso o canguru se encaixa tão bem. Além de coragem e energia, o canguru também simboliza estamina, algo que a Saya parece ter de sobra quando se trata da Yuu ou da outra realidade. O canguru também simboliza a transição para um outro momento da sua vida, coisa que acontece nessa última cena, onde a Yuu parece fazer a Saya invocar o nome da Black Gold Saw e, claro, simboliza a proteção, que é autoexplicativo visto que a Yuu pede pela proteção da Saya diretamente. Mas também há uma ironia aí, uma vez que a Saya adulta tem o trabalho de proteger o psicológico dos alunos, mas faz justamente o contrário.



    O papel da Yuu na história parece cada vez maior. A noção da existência da outra realidade começa nela. Ela demonstrar os olhos da sua alter ego no mundo real foi uma grande surpresa, embora o fato dessa cena ter sido mostrada apenas através do reflexo dos olhos dela e da Saya possa ser um indício de que isso não aconteceu fisicamente, por assim dizer. Apesar dela também parecer não ter envelhecido nada, o que é outra questão a se ponderar. Agora a Saya parece muito menos a grande mente por trás de tudo e muito mais uma antagonista que age baseado na teoria de que os fins justificam os meios e os fins teria sido dado pela própria Yuu. Tem mais coisa para ser revelada do que eu esperava. Mas o episódio ainda tinha uma luta para mostrar e, com a derrota da Black Gold Saw, sobrou apenas a suposta alter ego da Yuu para enfrentar a Black Rock Shooter.

    Preciso dizer que eu adorei essa imagem.


    Como alguém que já jogou muitos jogos, sobretudo RPGs, a dimensão da alter ego da Yuu é bem a cara de um cenário de batalha final. Passamos por vários cenários diferentes, de cada alter ego, até chegar aqui. Apesar que ainda falta um, né?
    A alter ego da Yuu parece ser bem diferente das outras alter egos. Ela parece ser uma existência muito mais autônoma do que as outras, não parece existir de acordo com as emoções da Yuu, muito pelo contrário, parecem ser duas existências separadas. Por isso ainda jogo como suposto que ela seja o alter ego da Yuu, apesar de tudo indicar que sim. 
    Esse episódio colocou um grande interrogação na natureza das alter egos e da outra realidade, o que tornou um pouco difícil adentrar nesse tópico nessa review, visto que é informação o suficiente para palpitar, mas informação de menos para teorizar algo mais concreto. Por outro lado, é como se todo o palco já tivesse sido preparado para o papel da Yuu, o plano da Saya e a natureza das alter egos todos se conectarem em um só ponto, que não tenho muita ideia do que vá ser. 



    Incrivelmente, ao contrário dos outros 5 episódios, esse deixou mais perguntas do que respostas. A quantidade de simbolismos diminuiu, como eu esperava, e teve bastante tempo de tela da batalha na outra realidade, então, ao menos, essa análise vai ser menor do que a anterior haha. Ainda assim, mostrar mais da Yuu e, principalmente, da Saya, era algo que precisava acontecer. 
    Ah, antes que eu me esqueça, também teve um pouco da Yomi no episódio e uma demonstração mais efetiva para nós, telespectadores, das consequências da morte de uma alter ego. A Yomi se recuperou e parece muito bem, mas já até deletou o número da Mato. É algo a se pensar quando você olha as duas alternativas (Matar a alter ego ou tentar resolver o problema diretamente), dá até para fazer um paralelo com a vida real. Definitivamente existe uma melancolia em toda a cena final, por mais que a Yomi não aparente mais estar sofrendo. A Mato, por outro lado, parece começar a reagir após sentir na pele todos os ferimentos da Black Rock Shooter. Me pergunto se ela vai criar uma casca de tanto sofrer e sair da situação por conta própria ou o anime vai ir por outra vertente. E vamos lá para o penúltimo episódio descobrir. Saraba Da!
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